São Paulo, sexta-feira, 20 de outubro de 2000

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TEATRO/CRÍTICA
"Toda Nudez" aproxima teatro e psicanálise

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em tempos de debates sobre Freud, graças à exposição sobre o pai da psicanálise no Masp, nada mais adequado do que a encenação de "Toda Nudez Será Castiga", em cartaz no teatro Oficina, com direção de Cibele Forjaz. Afinal, se Freud trouxe o sexo para o debate científico, foi Nelson Rodrigues, o autor do texto, quem trouxe o sexo real para a dramaturgia brasileira.
Senão, vejamos: na peça, Geni (Leona Cavalli) é a prostituta -profissional do sexo- em busca de redenção por meio do casamento. Herculano (Hélio Cícero) é o viúvo que se torna um obsessivo sexual após conhecer Geni, enquanto Serginho (Vadim Nikitin), seu filho, vivia entre a paixão incestuosa pela mãe e uma homossexualidade reprimida.
Temos aí um prato cheio para a psicanálise e para o teatro. Esses personagens, de certa forma exagerados, lembram a construção dos personagens e da temática do diretor de cinema Pedro Almodóvar. Ambos, Rodrigues e Almodóvar, nos tocam justamente por irem além do senso comum sobre a sexualidade e, com isso, permitem uma reflexão muito mais elaborada. Os desejos realizados no palco ou na tela são muitas vezes aqueles que não conseguimos realizar na vida real e, por isso, tanto nos atraem.
A encenação no Oficina foi precedida por montagem no Sesc Belenzinho. Lá, a platéia era disposta de maneira circular no palco, e o espetáculo desenvolvia-se dentro do círculo. É dessas boas idéias que na prática demonstram-se incômodas ao público, justamente a quem pretende-se agradar.
Entretanto, como um bom texto, é na presença dos atores que o espetáculo cresce. Cavalli tem uma participação envolvente, sua Geni é quente, voluptuosa. Outra boa atuação fica por conta de Cícero, um Herculano dividido e apaixonado.
"Toda Nudez Será Castigada", já no nome, revela culpa, outro tema freudiano. Complementares, Freud e Rodrigues merecem ser vistos.

Toda Nudez Será Castigada    
Texto: Nelson Rodrigues
Direção: Cibele Forjaz
Com: Leona Cavalli, Hélio Cicero, Gustavo Machado e outros
Quando: sex. e sáb., às 21h; dom., às 20h
Onde: teatro Oficina (r. Jaceguai, 520, Bela Vista, tel. 0/xx/11/3106-2818)
Quanto: R$ 20 e R$ 10 (estudantes)



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