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São Paulo, segunda-feira, 20 de outubro de 2003

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FÉ CONTEMPORÂNEA

Pintor e monge

Ana Ottoni/Folha Imagem
O monge Carlos Eduardo Uchôa, 42, em seu ateliê, num casarão ao lado do Mosteiro de São Bento, no centro de São Paulo


O hábito negro lhe dá um ar de personagem de Ticiano, mas Carlos Eduardo Uchôa, 42, é monge beneditino dos mais raros -alia a fé com a arte contemporânea e a Faculdade de Filosofia São Bento, da qual é diretor. Suas telas abstratas poderão ser vistas a partir de 11 de novembro na galeria Brito Cimino -o texto de apresentação é da filósofa Marilena Chaui . Na entrevista a seguir, ele diz que a religião alimenta sua obra.

Folha - Dá para conciliar vida religiosa e arte contemporânea?
Uchôa -
Sou monge beneditino, e a tradição da Ordem de São Bento está ligada profundamente à arte e à cultura. A meditação e a vida contemplativa alimentam e enriquecem meu trabalho de artista contemporâneo. A ligação entre a experiência religiosa e a experiência estética se dá de modo natural, numa continuidade.

Folha - Matisse é um dos raros artistas modernos católicos, mas a sua relação com a Igreja é cheia de conflitos. O sr. tem conflitos?
Uchôa -
A arte moderna, em sua radicalidade não narrativa, nasceu de uma inquietação religiosa de muitos de seus pioneiros: Mondrian, Klee, Malévitch. Eles fizeram a ruptura radicalizando a experiência daquilo que não podia ser "dito". A Igreja Católica fomentou um legado de arte inestimável e abriga pessoas com pensamentos de arte muito diversos. De minha parte, não tenho conflitos. Quero ajudar a abrir novos caminhos para a arte e a espiritualidade. E para isso encontro lugar dentro da Igreja.

Folha - Qual foi a obra mais divina que o sr. já viu?
Uchôa -
Toda a arte é divina. É o Espírito de Deus que suscita o "novo". Deus é o criador, que continua criando o mundo e impulsionando toda a transformação. E a arte é o elemento mais dinâmico da cultura. Por isso é sempre divina.


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