São Paulo, terça, 20 de outubro de 1998

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FREE JAZZ - SÃO PAULO
Montanha-russa musical marca Beck

EDSON FRANCO
Editor de Veículos

Se houvesse um vocalista cabeludo saltitando pelo palco, o show do guitarrista inglês Jeff Beck correria o riso de ser confundido com uma mera apresentação de uma banda de heavy metal.
Ali estavam o volume ensurdecedor, as guitarras distorcidas, a bateria avassaladora, gestos vingativos na platéia, a iluminação dançando conforme a música.
Mas ali também estavam Beck e suas sutilezas no uso da guitarra e na escolha quase sempre inusitada das notas que compõem seu fraseado. Ou seja, o show privilegiou a forma.
No que diz respeito aos estilos musicais, o guitarrista parece aprisionado -ou pelo menos baseou o repertório do show- nos anos 70, período em que ele ajudou a tornar interessante a fusão de rock com jazz, estilo batizado de fusion.
Para aqueles que cobram do guitarrista a eterna revolução, Beck trouxe a guitarra sintetizada de Jennifer Batten, responsável pelos timbres mais inusitados ouvidos durante a apresentação.
E é nesse ponto que começa e termina o namoro de Jeff Beck com a eletrônica, que é um sinônimo equivocado de modernidade na música atual.
Mas houve algo de genuinamente moderno no show. Trata-se da exploração inesgotável dos recursos da guitarra.
Mesmo quem não é fanático pelo instrumento pôde notar, principalmente nas músicas em que baixo e bateria perderam volume, como Beck transforma ruídos em música.
Foi um desfile de ousadia no uso de harmônicos, da alavanca, do "slide". Nada era gratuito. Tudo tinha funcionalidade musical. Isso fez músicos e leigos embarcarem com a mesma intensidade na montanha-russa musical protagonizada por Beck.
Repertório

Pautado pelo peso, o repertório do show permitiu alguns momentos de trégua para quem gosta de ouvir todas as notas que saem do palco.
Nesse números, Beck passeou pelo blues, reggae e pela balada "Cause We've Ended as Lovers", de Stevie Wonder. Esta última foi a responsável pelo momento mais lírico do show. E talvez seja o principal prêmio pela invenção da guitarra elétrica.
De resto, o que a platéia ouviu foi o mais puro rock'n'roll alçado à categoria de música experimental. O exemplo máximo foi a pesadíssima "Big Block", que Beck gravou em 1989, no disco "Guitar Shop".
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A banda

Embora todos estivessem no Jockey Club para ver Jeff Beck, houve um momento em que o baterista Steve Alexander roubou a cena. No final de um solo, ele simulou uma bateria de escola de samba e arrancou os aplausos mais entusiasmados da platéia.
Mais comedido, o baixista Randy Hope-Taylor também conseguiu achar seu espaço no show ao fazer um solo totalmente baseado no funk.



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