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FREE JAZZ - SÃO PAULO
Montanha-russa musical marca Beck
EDSON FRANCO
Editor de Veículos
Se houvesse um vocalista cabeludo saltitando pelo palco, o show do
guitarrista inglês Jeff Beck correria
o riso de ser confundido com uma
mera apresentação de uma banda
de heavy metal.
Ali estavam o volume ensurdecedor, as guitarras distorcidas, a bateria avassaladora, gestos vingativos na platéia, a iluminação dançando conforme a música.
Mas ali também estavam Beck e
suas sutilezas no uso da guitarra e
na escolha quase sempre inusitada
das notas que compõem seu fraseado. Ou seja, o show privilegiou
a forma.
No que diz respeito aos estilos
musicais, o guitarrista parece aprisionado -ou pelo menos baseou o
repertório do show- nos anos 70,
período em que ele ajudou a tornar
interessante a fusão de rock com
jazz, estilo batizado de fusion.
Para aqueles que cobram do guitarrista a eterna revolução, Beck
trouxe a guitarra sintetizada de
Jennifer Batten, responsável pelos
timbres mais inusitados ouvidos
durante a apresentação.
E é nesse ponto que começa e termina o namoro de Jeff Beck com a
eletrônica, que é um sinônimo
equivocado de modernidade na
música atual.
Mas houve algo de genuinamente moderno no show. Trata-se da
exploração inesgotável dos recursos da guitarra.
Mesmo quem não é fanático pelo
instrumento pôde notar, principalmente nas músicas em que baixo e bateria perderam volume, como Beck transforma ruídos em
música.
Foi um desfile de ousadia no uso
de harmônicos, da alavanca, do
"slide". Nada era gratuito. Tudo tinha funcionalidade musical. Isso
fez músicos e leigos embarcarem
com a mesma intensidade na montanha-russa musical protagonizada por Beck.
Repertório
Pautado pelo peso, o repertório
do show permitiu alguns momentos de trégua para quem gosta de
ouvir todas as notas que saem do
palco.
Nesse números, Beck passeou
pelo blues, reggae e pela balada
"Cause We've Ended as Lovers",
de Stevie Wonder. Esta última foi a
responsável pelo momento mais
lírico do show. E talvez seja o principal prêmio pela invenção da guitarra elétrica.
De resto, o que a platéia ouviu foi
o mais puro rock'n'roll alçado à categoria de música experimental. O
exemplo máximo foi a pesadíssima "Big Block", que Beck gravou
em 1989, no disco "Guitar Shop".
²
A banda
Embora todos estivessem no
Jockey Club para ver Jeff Beck,
houve um momento em que o baterista Steve Alexander roubou a
cena. No final de um solo, ele simulou uma bateria de escola de
samba e arrancou os aplausos mais
entusiasmados da platéia.
Mais comedido, o baixista Randy
Hope-Taylor também conseguiu
achar seu espaço no show ao fazer
um solo totalmente baseado no
funk.
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