São Paulo, terça, 20 de outubro de 1998

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ANÁLISE
Júri arruina "evento da década"

do enviado a Brasília

O júri de 35 mm do 31º Festival de Brasília arruinou aquela que poderia ser a melhor edição do evento nos anos 90.
Não tanto por ter premiado o filme mais impessoal da competição, em detrimento de concorrentes muito mais ousados e autorais.
A escolha mostra uma tendência conservadora, mas defensável: "Amor & Cia." também é um filme digno, que realiza com competência aquilo a que se propõe.
O problema maior foi a tentativa de disfarçar esse conservadorismo com uma distribuição irresponsável dos outros prêmios -talvez porque o único em dinheiro (R$ 50 mil) fosse o de melhor filme.
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Categorias ignoradas
Num festival em que a qualidade da fotografia se destacou, com trabalhos belíssimos de artistas como Mário Carneiro ("O Viajante"), José Tadeu Ribeiro ("Amor & Cia."), Hugo Kovensky ("Kenoma"), Jean Benoit Crépon ("A Hora Mágica"), Affonso Beato e Breno Silveira ("Traição"), o júri simplesmente ignorou a categoria.
Da mesma forma, ficaram sem premiação roteiro e montagem. Ora, se não há fotografia, se não há roteiro e não há montagem, o que sobra do cinema?
Sobra o que se viu no encerramento: politicagem, compadrio, gracejos, leviandade.
Sem saber como reagir diante do talento exuberante e sem concessões de um Rogério Sganzerla, o que faz um júri como esse? Dá-lhe um troféu de consolação, sob o rótulo engraçadinho de "prêmio de colagem antropofágica".
Em vez de premiar a coragem e o vigor da diretora Eliane Caffé, de "Kenoma", inventa um prêmio de "melhor abertura" para sua irmã, a artista plástica Carla Caffé.
Em resumo, o Festival de Brasília não teve um júri à altura de seus filmes e de seu público.
(JGC)


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