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FESTIVAL DE BRASÍLIA
Constrangimento tomou conta da cerimônia e categorias essenciais, como roteiro, não tiveram prêmios
"Amor & Cia.' vence em premiação confusa
JOSÉ GERALDO COUTO
enviado especial a Brasília
"Amor & Cia.", de Helvécio Ratton, o filme mais convencional da
safra, venceu o 31º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
A premiação, divulgada anteontem à noite numa cerimônia confusa, foi uma das mais estranhas da
história do festival.
Categorias essenciais como fotografia, roteiro e montagem não tiveram prêmios (veja quadro ao lado). Em contrapartida, foram contempladas categorias como "melhor abertura", "colagem antropofágica" e "produção executiva".
Ao final da cerimônia de premiação, a perplexidade tomou conta
do público, da imprensa e dos próprios premiados -a tal ponto que
inviabilizou uma foto coletiva destes últimos no palco, que já havia
sido programada e anunciada previamente.
Durante a cerimônia, predominou o constrangimento, que os
premiados procuravam atenuar
como podiam.
O cineasta Claudio Torres -que
recebeu o Candango de melhor diretor pelo episódio "Diabólica", de
"Traição"- subiu ao palco com
seu colega Arthur Fontes e disse
que o troféu era para os três diretores do longa (o outro, ausente, é José Henrique Fonseca), e não só para ele. "Traição' não são três filmes, é um filme só", disse.
Ao receber seu "prêmio especial
do júri" por "O Viajante", Paulo
Cezar Saraceni, sabendo que não
ganharia mais nada, ironizou:
"Como diz a canção, não sou de reclamar".
Rogério Sganzerla, por sua vez,
foi de uma elegância ímpar ao receber o esdrúxulo e ofensivo Candango de "colagem antropofágica"
por "Tudo É Brasil": "Este prêmio
é para o cinema brasileiro, eterna
fonte de inspiração".
O premiado mais aplaudido foi o
ator José Dumont, de "Kenoma",
que dedicou o troféu à diretora
Eliane Caffé e "aos 150 milhões de
Lineus que vivem neste país, dentro de cada um de nós", numa referência ao utópico e obstinado personagem que encarna no filme.
²
Protesto e aclamação
Exibido "hors-concours" antes
da premiação, o longa-metragem
"Ação Entre Amigos", de Beto
Brant -recusado pela seleção do
festival-, acabou sendo o mais
aplaudido de todo o evento.
Brant subiu ao palco para apresentar o filme e disse, entre sincero
e irônico: "O cinema brasileiro tem
uma história muito importante.
Espero que vocês me deixem fazer
parte dela".
Os realizadores de 16 mm subiram em peso ao palco para ler um
manifesto reivindicando que os filmes da categoria passem a ser exibidos no Cine Brasília, e não na salinha do Teatro Nacional a que estão confinados.
O tom de campanha política
-presente em todas as sessões do
festival- também imperou durante o encerramento. Sempre que
podiam, apresentadores e premiados usavam a expressão "honestamente", utilizada no slogan do governador do Distrito Federal e candidato do PT à reeleição, Cristovam Buarque.
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