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Catálogo da exposição "Arte Brasileira na Coleção Fadel" questiona Semana de 1922
Modernismo contra a parede
FABIO CYPRIANO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
"O que são as vaidades, meu
Deus! Essa gente do Rio nunca
perdoará SP ter tocado o sino.
Não falo de você. Você já não é do
Rio. Você é como eu: do Brasil",
escreveu Mário de Andrade ao
amigo e poeta Manuel Bandeira,
em 18 de abril de 1925. O escritor
referia-se à importância da Semana de Arte Moderna de 1922, esnobada por alguns cariocas.
A polêmica retorna agora a São
Paulo com o livro editado junto à
mostra "Arte Brasileira na Coleção Fadel - da Inquietação do Moderno à Autonomia da Linguagem", que será inaugurada no
próximo sábado, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB),
com cerca de 200 obras da coleção
Hecilda e Sérgio Fadel.
Paulo Herkenhoff, curador da
24ª Bienal de São Paulo, que utilizou a antropofagia dos paulistíssimos Oswald de Andrade e Tarsila
do Amaral como tema, ao organizar a mostra do CCBB preparou
um livro com pesados petardos
contra a Semana de 22, especialmente no capítulo "1922, um Ano
sem Arte Moderna".
"O conceito da exposição é
questionável porque ela instrumentaliza a coleção Fadel para
um propósito no mínimo anacrônico: discutir qual é o centro mais
"moderno': Rio de Janeiro ou São
Paulo? É difícil acreditar que ainda se perca tempo com esse tipo
de polêmica, cujo único interesse
hoje em dia é histórico", afirma
João Cesar de Castro Rocha, professor da Universidade do Estado
do Rio de Janeiro.
"A semana se tornou um mito
onde não há crítica. Não estou
vaiando o evento, mas sou um
historiador da arte e não posso
elogiar a semana que não apresentou nenhuma obra moderna
produzida naquele ano. Isso é para cronistas", afirma Herkenhoff.
Em sua cruzada contra os mitos,
o curador questiona os pilares do
modernismo paulista, às vezes
com deslizes.
Ao tratar de Anita Malfatti, por
exemplo, o curador afirma que a
artista "não sabia sequer distinguir impressionismo de expressionismo ao descrever seu estudo
"sobre orientação expressionista
de Corinth'".
No livro, Herkenhoff classifica o
professor de Malfatti em Berlim,
Lovis Corinth, apenas como "impressionista". Entretanto, de
acordo com o livro "Kunst des 20.
Jahrhunderts" (Arte do Século
20), editado por Ingo F. Walther,
Corinth foi impressionista até
1911, quando, após um problema
de saúde, passa a mudar seu estilo
e "aproximar-se do expressionismo", justo na época que deu aulas
a Malfatti.
"Corinth era um impressionista. Seu expressionismo era mais
psicológico, e Anita não tinha maturidade para ser expressionista",
afirma Herkenhoff.
O tom de cruzada no livro, de
mesmo nome da mostra, é uma
constante. O curador afirma que
"era impossível ser pintor moderno em São Paulo" e defende que
certos pintores do Rio, como Belmiro de Almeida (1858-1935) e
Eliseu Visconti (1866-1944), teriam sido precursores do modernismo brasileiro, esnobados pelos
"modernos" paulistas. "Anda difícil ser carioca. É preciso pensar
se a história da arte deve ser escrita a partir da geopolítica de São
Paulo, o que parece um realejo viciado", diz o curador.
"É importante ressaltar que só
aceitei organizar essa exposição, a
convite de Sérgio Fadel, para poder problematizar questões, não
quis fazer um catálogo apenas
elogiativo", afirma ainda Herkenhoff. Ele conseguiu.
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