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"TERRAS DE PRETO"
Novo livro do gaúcho Ricardo Teles consumiu nove anos de pesquisas em PE, GO, BA, SP, MA e PA
Fotógrafo mergulha nos quilombos do Brasil
EDER CHIODETTO
EDITOR DE FOTOGRAFIA
"Terras de Preto", livro
que o fotógrafo gaúcho Ricardo Teles lança hoje, Dia da
Consciência Negra, no Sesc Pompéia, impressiona logo nas primeiras páginas ao trazer um dado
da Fundação Palmares, órgão do
Ministério da Cultura: há hoje no
Brasil cerca de 900 quilombos.
Segundo a definição da Associação Brasileira de Antropologia,
quilombo é toda comunidade negra rural que agrupe descendentes de escravos vivendo da cultura
de subsistência e onde as manifestações culturais têm forte vínculo
com o passado.
Ricardo Teles faz parte da boa
safra de fotógrafos-documentaristas que surgiu no Brasil nos últimos anos. Assim como Tiago
Santana, Ed Viggiani, Celso de
Oliveira, entre outros, Teles mergulha no Brasil para resgatar imagens de um país em busca das várias faces que formam sua identidade. Em seu trabalho anterior,
"Saga -°Retrato das Colônias Alemãs no Brasil", ele já havia feito
um belo apanhado sobre a vertente mais européia dessa face.
"Terras de Preto" consumiu nove anos de trabalho, nos quais Teles percorreu nove quilombos nos
confins de Pernambuco, Goiás,
Bahia, São Paulo, Maranhão e Pará, escolhidos pelo autor por terem sido as primeiras comunidades a conquistarem a posse coletiva da terrra como remanescentes
de quilombos no Brasil, apoiados
por dispositivo constitucional.
As imagens que resultaram dessa expedição por esse Brasil praticamente desconhecido mostram
a terra, o trabalho, o alimento, as
moradias, as festividades, os botecos e as brincadeiras de crianças.
A opção de não ordenar as imagens por comunidades e não editar imagens com textos ou legendas explicativas, no entanto, prejudica um melhor aproveitamento da obra. As boas imagens causam interesse em querer saber
quem são as pessoas e as situações
enquadradas por Teles, mas não
há informação precisa que atenda
a esse interesse, a não ser dados
que identificam a localidade ao final do livro. Faltou, também, um
mapa que localizasse as comunidades no território brasileiro.
Documentários são um braço
do jornalismo e, como tal, devem
primar pela informação objetiva,
ainda que a obra se permita um
viés poético, autoral, além de um
olhar original sobre o objeto
abordado.
E é nesse ponto que a obra de
Teles ganha força. Suas fotografias são bem compostas, incorporam alguns cortes inesperadamente belos e, sobretudo, espelham o grau de envolvimento e
dedicação dele com o trabalho.
O perigo de um trabalho como
esse reside na capacidade que o
estrangeiro, no caso o fotógrafo
branco, sulista e que mora em São
Paulo, terá para assimilar e traduzir cultura tão diversa do seu cotidiano e da sua formação. A inexperiência poderia levar o fotógrafo a extrair de seu objeto apenas
aquilo que lhe parecesse exótico
ou estranho ao seu repertório.
Não é o que acontece com Teles,
resultado provável dos nove anos
de trabalho que o ajudaram a depurar seu olhar. Dessa forma ele
fotografou duas grandes festividades quilombolas com bastante
propriedade: a Marujada, no
Mangal, próximo ao rio São Francisco, e as celebrações de D'Abadia e São Gonçalo, no Kalunga, na
chapada dos Veadeiros (GO).
Teles fotografou seus personagens como quem olha de dentro
da comunidade, passando quase
despercebido. Ponto fundamental para que seu documentário
funcione. Eis aqui a revelação de
mais uma face do Brasil que se
junta ao mosaico de tantas outras
para ajudar na percepção da beleza e da riqueza dessa diversidade.
Terras de Preto
Autor: Ricardo Teles
Editora: ABooks
Quanto: R$ 90 (164 págs.)
Patrocinador: Qualix Serviços
Ambientais
Exposição: de amanhã a 30/11, das 9h
às 22h; domingos e feriados, das 9h às
20h, no Sesc Pompéia (r. Clélia, 93, SP,
tel. 0/xx/11/3871-7700). Lançamento:
hoje, às 20h
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