São Paulo, sexta, 20 de novembro de 1998

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TEATRO - NOVA YORK
Elton John e atrizes vencem kitsch em "Aida"

do enviado a Atlanta

Semana passada, a Walt Disney Theatrical Prods. afastou o diretor, o cenógrafo, a figurinista e o coreógrafo de "Elaborate Lives: The Legend of Aida", musical testado na cidade de Atlanta. Eram todos remanescentes de "Beauty and the Beast", o musical há quatro anos em cartaz em Nova York e primeira produção teatral da Disney.
E, mais, eram "prata da casa", talentos saídos dos musicais dos parques de diversão da Disney, citados com orgulho por Michael Eisner, presidente da corporação.
De nada valeu o sucesso de bilheteria de "Beauty" ou o histórico na corporação: a encenação de "Aida" é de tal forma kitsch e superficial, até mesmo tola, que seria preciso mudar alguma coisa para chegar à Broadway com um mínimo a oferecer -e alguma chance. A previsão inicial era estrear em Nova York em março ou abril, mas já não é certo que isso aconteça.
Os equívocos são flagrantes e incontornáveis, na montagem de Atlanta. Uma gigantesca pirâmide domina o centro do palco, abrindo-se para dar forma a um navio, escadarias etc., no que pode parecer uma criação engenhosa, mas resulta em empecilho físico ao andamento do espetáculo -até constrangedor.
A coreografia tem a coragem de fazer referências a videoclipes. Os figurinos parecem saídos de algum filme B épico de meio século atrás, ou de "Cleópatra" com Elizabeth Taylor.
Mas nem tudo é um desastre. Há pelo menos três grandes qualidades em "Aida" que garantem a sobrevivência do musical, ainda que muito revisado.
O primeiro é a interpretação de Heather Headley para Aida. A atriz vem de outra produção da Disney, "The Lion King", em que interpretava Nala, a jovem leoa. Como Aida, basta que cante para o espetáculo perder todo o kitsch. A bem da verdade, quando canta ou até mesmo, simplesmente, fala, desaparece todo o resto.
É possível acreditar que está ali uma princesa núbia capturada pelos egípcios e que se deixa apaixonar por seu algoz, o guerreiro que a submeteu e que está para se tornar o faraó. Nada mais banal e quase inevitavelmente kitsch, mas Heather Headley faz acreditar naquilo, com uma voz potente e uma emissão que chega diretamente ao público.
Não muito longe dela se situa Sherie Scott (que vem de interpretar Maureen no sucesso de duas temporadas atrás em Nova York, "Rent"), que faz a filha do faraó, Amneris, adversária de Aida no amor do guerreiro Radames. Mas o talento aqui, além da ótima voz, caminha em outra direção: Sherie Scott vence o kitsch graças ao humor. O mesmo já não se pode dizer do Radames de Hank Stratton, um ator limitado.
A terceira e talvez maior qualidade de "Aida" está nas 22 músicas de Elton John, com letras de Tim Rice. Em diversos estilos, de baladas românticas a reggae, também a dupla de compositores sai vitoriosa de "Aida". Ao lado das protagonistas, mostra que o primeiro musical "adulto" da Disney pode vir a ser o melhor deles.
(NELSON DE SÁ)



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