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"On the Town" celebra uma Nova York dos sonhos
do enviado a Nova York
O diretor George C. Wolfe é talvez a última esperança de resistência à invasão das corporações no
musical americano.
Um dos poucos artistas do teatro
nova-iorquino com livre passagem
entre as montagens experimentais
e comerciais, entre Broadway e
downtown, ele encenou dois grandes sucessos recentes que reuniram talento criativo e apelo de público, "Bring in da Noise" e "Jelly's
Last Jam". Foi também o diretor de
"Angels in America", a peça "séria" de maior impacto na década.
Em "On the Town", consciente
ou inconscientemente, Wolfe escolheu um musical que celebra
uma Nova York em seus melhores
dias, sem turistas congestionando
as bilheterias dos teatros e com um
espírito de liberdade e possibilidade que não se vê mais.
Com músicas de Leonard Bernstein, então com 26 anos, "On the
Town" estreou em 1944 quando a
própria Broadway vivia os seus
grandes dias -naquele mesmo
ano estreavam musicais de, entre
outros, Cole Porter e Kurt Weill.
Para quem não viu a adaptação
no cinema, vai a trama: três marinheiros, em dia de folga antes de
seguirem para a guerra, andam por
Nova York em busca de uma paixão. Encontra cada um a sua: a
noiva ninfomaníaca de um ricaço,
uma desbocada motorista de táxi e
uma linda jovem à Cinderela, que
o marinheiro reencontra no fim do
dia, depois de muito procurar.
É o primeiro musical de Wolfe
em que ele busca, não a afirmação
da cultura negra, mas, talvez, um
momento maior da cultura branca
americana. Os seis protagonistas,
em que se destacam as hilariantes
Lea DeLaria e Kate Suber, são
brancos. Por outro lado, estão ali
uma felicidade e vigor do momento de maior vitória da "América";
momento, certamente, passado.
Mas a encenação não quer saber:
ela celebra a Nova York dos sonhos. De um esfuziante quadro para outro, em coreografias que chegaram enfim à altura das músicas
(a produção está no terceiro ou
quarto coreógrafo), com grande
plasticidade, vêem-se a ponte
Brooklyn, o Museu de História Natural, os bares. Uma Nova York
que já nem se acredita ter existido.
(NS)
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