São Paulo, sexta, 20 de novembro de 1998

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"On the Town" celebra uma Nova York dos sonhos

do enviado a Nova York

O diretor George C. Wolfe é talvez a última esperança de resistência à invasão das corporações no musical americano.
Um dos poucos artistas do teatro nova-iorquino com livre passagem entre as montagens experimentais e comerciais, entre Broadway e downtown, ele encenou dois grandes sucessos recentes que reuniram talento criativo e apelo de público, "Bring in da Noise" e "Jelly's Last Jam". Foi também o diretor de "Angels in America", a peça "séria" de maior impacto na década.
Em "On the Town", consciente ou inconscientemente, Wolfe escolheu um musical que celebra uma Nova York em seus melhores dias, sem turistas congestionando as bilheterias dos teatros e com um espírito de liberdade e possibilidade que não se vê mais.
Com músicas de Leonard Bernstein, então com 26 anos, "On the Town" estreou em 1944 quando a própria Broadway vivia os seus grandes dias -naquele mesmo ano estreavam musicais de, entre outros, Cole Porter e Kurt Weill.
Para quem não viu a adaptação no cinema, vai a trama: três marinheiros, em dia de folga antes de seguirem para a guerra, andam por Nova York em busca de uma paixão. Encontra cada um a sua: a noiva ninfomaníaca de um ricaço, uma desbocada motorista de táxi e uma linda jovem à Cinderela, que o marinheiro reencontra no fim do dia, depois de muito procurar.
É o primeiro musical de Wolfe em que ele busca, não a afirmação da cultura negra, mas, talvez, um momento maior da cultura branca americana. Os seis protagonistas, em que se destacam as hilariantes Lea DeLaria e Kate Suber, são brancos. Por outro lado, estão ali uma felicidade e vigor do momento de maior vitória da "América"; momento, certamente, passado.
Mas a encenação não quer saber: ela celebra a Nova York dos sonhos. De um esfuziante quadro para outro, em coreografias que chegaram enfim à altura das músicas (a produção está no terceiro ou quarto coreógrafo), com grande plasticidade, vêem-se a ponte Brooklyn, o Museu de História Natural, os bares. Uma Nova York que já nem se acredita ter existido.
(NS)


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