São Paulo, sexta, 20 de novembro de 1998

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"Killer Joe" une violência, sexo e TV

do enviado a Nova York

A comédia de humor negro "Killer Joe", do americano Tracy Letts, estreou há três anos em Londres e deu o empurrão para o estabelecimento da nova dramaturgia de língua inglesa: uma dramaturgia crua, de violência realista nas relações pessoais e familiares, mimetizando um cotidiano de niilismo e banalização.
Agora em cartaz em Nova York, com elenco encabeçado por Scott Glenn (do filme "Os Eleitos") e Amanda Plummer ("Pulp Fiction"), a peça é o grande êxito da nova temporada no circuito Off Broadway. E está tudo lá: a banalização da violência, a estupificação pela TV, o sexo (nu frontal, raríssimo no teatro americano), o crime (tiros, luta, sangue).
Mas a peça, para além dos recursos de maior choque, têm diálogos que expressam de forma hilariante os conflitos de relação, os sentimentos que afloram, do amor ao ciúme ao ódio, em mudanças de curso que não permitem desvio de atenção do espectador.
Na trama, o jovem Chris, devendo a traficantes, arma um golpe: contratar um assassino para matar a própria mãe, que deixaria o dinheiro do seguro para a irmã de Chris, Dottie. Chris convence o pai, Ansel, que mora num trailer com uma nova mulher e Dottie, e ambos contratam o assassino: Killer Joe Cooper. Mas eles não têm o dinheiro à vista e são obrigados a deixar Dottie, que tem pequenos problemas mentais, como "caução" com o assassino. Ele se muda para o trailer.
O tempo todo, a família Smith está a assistir televisão, vendo reprises de programas policiais como "Cannon". A certa altura, Killer Joe está resolvendo se mata ou não a segunda mulher de Ansel e este não tira o olho do que está passando na televisão. Parece inverossímil, mas não é, na cena.
E parece "camp", mas a qualidade dos diálogos e das interpretações não permite que isso se estabeleça. Da "shepardiana" serenidade de Scott Glenn como Killer Joe (neste que é um texto à la Sam Shepard, tornado cômico) à interpretação à la Actors Studio (tornada ridícula) de Mike Shannon como Chris, "Killer Joe" é teatro dos mais sérios. (NS)


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