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"Corpus" traz Jesus homossexual
do enviado a Nova York
Já antes de começar a
apresentação, na frente do teatro, do outro
lado da rua, um grupo
de seis ou sete católicos está ajoelhado, rezando e segurando
cartazes contra o "crime de ódio contra Jesus".
Para entrar no teatro, os espectadores têm de passar por seguranças e aparelhos para detectar metais, como nos aeroportos. Na saída, os religiosos seguem ajoelhados, rezando.
"Corpus Christi", que estreou há
um mês, causa tal reação e temor
diários por recontar o "Evangelho"
com matizes de homossexualismo
-entre Jesus e os apóstolos.
Nada de maior choque, numa encenação
que parece deliberadamente buscar anular a
polêmica, iniciada seis
meses antes da estréia.
Como diz um ator na
abertura, trata-se apenas da velha e conhecida história, "sem malícia em nossos corações".
É como se estivesse a se desculpar, sensação que percorre a peça,
que afinal se revela superficial -e
sobretudo muito inferior a pelo
menos um trabalho anterior do
autor, Terrence McNally, "Master
Class". Nas palavras de Frank
Rich, no "New York Times", "a
única bomba está no palco".
Não se trata diretamente de Jesus
Cristo, mas de um certo Joshua. Ele
nasce na cidade de Corpus Christi,
no Texas, cidade onde nasceu
McNally, enfrenta as agruras de
um jovem tímido e homossexual
no colégio, namora Judas, amadurece e sai pregando e fazendo milagres, reúne seus apóstolos, faz o
Sermão da Montanha, a Última
Ceia, é traído e crucificado.
Nada se aprofunda, cenografia e
figurinos são os mais acolhedores e
simples, as cores são pastéis, há
uma mensagem o tempo todo no
ar de respeito ao próximo e tolerância, até mesmo da parte de Judas -e assim o teatro, propriamente, não acontece.
Não chega a existir o conflito
dramático, a não ser, é claro, com
os católicos ajoelhados do lado de
fora.
(NS)
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