São Paulo, sexta, 20 de novembro de 1998

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"Corpus" traz Jesus homossexual

do enviado a Nova York

Já antes de começar a apresentação, na frente do teatro, do outro lado da rua, um grupo de seis ou sete católicos está ajoelhado, rezando e segurando cartazes contra o "crime de ódio contra Jesus".
Para entrar no teatro, os espectadores têm de passar por seguranças e aparelhos para detectar metais, como nos aeroportos. Na saída, os religiosos seguem ajoelhados, rezando.
"Corpus Christi", que estreou há um mês, causa tal reação e temor diários por recontar o "Evangelho" com matizes de homossexualismo -entre Jesus e os apóstolos.
Nada de maior choque, numa encenação que parece deliberadamente buscar anular a polêmica, iniciada seis meses antes da estréia.
Como diz um ator na abertura, trata-se apenas da velha e conhecida história, "sem malícia em nossos corações".
É como se estivesse a se desculpar, sensação que percorre a peça, que afinal se revela superficial -e sobretudo muito inferior a pelo menos um trabalho anterior do autor, Terrence McNally, "Master Class". Nas palavras de Frank Rich, no "New York Times", "a única bomba está no palco".
Não se trata diretamente de Jesus Cristo, mas de um certo Joshua. Ele nasce na cidade de Corpus Christi, no Texas, cidade onde nasceu McNally, enfrenta as agruras de um jovem tímido e homossexual no colégio, namora Judas, amadurece e sai pregando e fazendo milagres, reúne seus apóstolos, faz o Sermão da Montanha, a Última Ceia, é traído e crucificado.
Nada se aprofunda, cenografia e figurinos são os mais acolhedores e simples, as cores são pastéis, há uma mensagem o tempo todo no ar de respeito ao próximo e tolerância, até mesmo da parte de Judas -e assim o teatro, propriamente, não acontece.
Não chega a existir o conflito dramático, a não ser, é claro, com os católicos ajoelhados do lado de fora. (NS)



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