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Filme exibe "Brasil profundo'
da Equipe de Articulistas
"Cine Mambembe - O Cinema
Descobre o Brasil" é um documentário estimulante. É também a prova de que o cinema (mesmo que
feito em vídeo) é, de todos os
meios de expressão, o mais sensível à pulsação imediata da vida.
O país que esse documentário
nos descortina é um país multifacetado, cambiante, contraditório,
doloroso, cruel, mas também pleno de energia e, contra todas as
evidências, de esperança.
Nessa ponte entre o cinema e o
Brasil profundo, o que chama a
atenção, de início, é a generosidade
de Laís Bodanzky (filha de Jorge
Bodanzky) e Luiz Bolognesi.
Mas o documentário não é feito
só de boas intenções. Há, nas suas
belas e urgentes imagens, um olhar
sensível e cinematograficamente
maduro sobre o mundo.
Equilibra-se ali o registro da saga
do Cine Mambembe (a chegada às
cidades, a instalação do projetor e
da tela, o anúncio das sessões etc.),
os reflexos imediatos dos filmes
exibidos e as histórias locais que
mais merecem ser contadas.
Em vez da "cor local" buscada
pelos Fantásticos da vida -nos
quais o "povo" é sempre objeto-,
o que o documentário procurou
foi registrar, sem paternalismo, o
modo como os indivíduos interpretam sua realidade, nas situações mais diversas.
Índios, pescadores, donas-de-casa, crianças, lavradores, todos falam com extrema vivacidade sobre
a vida de seu lugar e sobre seu lugar
na vida.
Há momentos de alta dramaticidade -como a cena em que uma
mulher descreve como prepara
uma criança morta para o enterro-, que o documentário trata
com discrição e respeito, a anos-luz daquela abjeta tendência da televisão de enfiar a câmera na cara
do personagem até conseguir captar uma lágrima.
Há também depoimentos que
comovem por sua lucidez, como o
da adolescente Cristina, de Lagoa
dos Gatos (PE), que ficou anos sem
ir à escola (o pai, lavrador, achava
bobagem), mas virou frequentadora assídua da biblioteca pública
e chegou a uma consciência aguda
de sua situação.
Em outro momento, Laís Bodanzky explica a um grupo de
crianças maravilhadas como se faz
um desenho animado. Ensinar e
aprender, num movimento de
mão dupla. É essa troca, esse diálogo vivo com o país, que "Cine
Mambembe" nos oferece.
(JGC)
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