São Paulo, sexta, 20 de novembro de 1998

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LITERATURA
Um dos mais importantes prêmios literários das Américas elege desconhecidos
Cotidiano irlandês ganha 49º NBA

RICARDO CALIL
especial para a Folha, de Nova York

Nem Tom Wolfe, nem Robert Stone. E tampouco Harold Bloom. A 49ª edição do National Book Awards, o mais importante prêmio literário das Américas ao lado do Pulitzer, deixou de lado nomes de prestígio e consagrou autores menos conhecidos.
Em cerimônia realizada anteontem à noite no Marriott Marquis Hotel, de Nova York, o prêmio de melhor obra de ficção foi entregue a Alice McDermott por "Charming Billy", em que narra o cotidiano de uma pequena comunidade irlandesa nos EUA.
Descendente de irlandeses e autora de quatro romances ("That Night" foi finalista do National Book Awards, em 1987), McDermott derrubou dois pesos pesados: Tom Wolfe, indicado por "A Man in Full", e Robert Stone, por "Damascus Gate".
Os dois escritores eram os únicos concorrentes que já haviam ganho o National Book Awards. Wolfe -único dos finalistas a não comparecer ao evento- foi o vencedor da categoria não-ficção, em 1980, com "Os Eleitos", e Stone levou o prêmio de ficção, em 1975, com "Dog Soldiers".
Durante o agradecimento ao prêmio, McDermott disse estar tão surpresa que nem havia preparado discurso. "Mas prometo fazer isso em breve e incluir o texto em uma futura coletânea", brincou.
Na categoria não-ficção, o prestígio também contou pouco. O vencedor foi o estreante Edward Ball, um ex-colunista do semanário "The Village Voice", por "Slaves in the Family", em que analisa o passado de seus familiares como donos de escravos.
Ball superou o consagrado Harold Bloom e seu "Shakespeare: The Invention of the Human". Autor do "Canone Ociental", Bloom havia sido finalista do National Book Awards, em 1971, com "Yeats".
No discurso de agradecimento, Ball declarou que ira criar uma fundação para reverter os lucros do livro aos descendentes de antigos escravos de sua família, entrevistados na pesquisa para a realização da obra.
Os prêmios concedidos a McDermott e Ball na verdade comprovam a antiga tradição do National Book Awards de apostar em novos autores. Em 1964, por exemplo, eles concediam o prêmio de melhor ficção ao jovem e desconhecido John Updike, por "The Centaur". Em 1982, o escritor repetiria a dose com "Rabbit is Rich".
Anteontem, Updike voltou a ser premiado pelo National Book Awards, mas desta vez com a Medalha de Contribuição às Letras Americanas, entregue pelo conjunto da obra.
Updike passou dois dias preparando o longo, bem-humorado e emocionado discurso, em que defendeu a supremacia do livro sobre os meios tecnológicos.
Os outros vencedores da noite foram Gerald Stern na categoria poesia, por "This Time - New and Selected Poems", e Louis Sachar na categoria literatura juvenil, por "Holes".
Entre as editoras, que são as verdadeiras donas da festa, a grande vencedora foi a Farrar, Straus & Giroux, que publicou três dos quatro livros premiados -exceção feita aos poemas de Stern.
Cada uma das quatro categorias do National Book Awards teve cinco finalistas. Os vencedores ganharam US$ 10 mil, e os finalistas, US$ 1 mil. No total, 916 títulos foram sugeridos por 197 editores ao comitê de seleção neste ano.
Pelas proporções do evento -cerca de 800 pessoas compareceram à cerimônia comandada pela dramaturga Wendy Wassertein-, o National Book Awards é considerado o Oscar das Letras Americanas. O evento é organizado pela National Book Foundation, uma instituição de fins não-lucrativos que tem como missão promover a literatura americana entre os leitores de todo o país.



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