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LITERATURA
Um dos mais importantes prêmios literários das Américas elege desconhecidos
Cotidiano irlandês ganha 49º NBA
RICARDO CALIL
especial para a Folha, de Nova York
Nem Tom Wolfe, nem Robert
Stone. E tampouco Harold Bloom.
A 49ª edição do National Book
Awards, o mais importante prêmio literário das Américas ao lado
do Pulitzer, deixou de lado nomes
de prestígio e consagrou autores
menos conhecidos.
Em cerimônia realizada anteontem à noite no Marriott Marquis
Hotel, de Nova York, o prêmio de
melhor obra de ficção foi entregue
a Alice McDermott por "Charming
Billy", em que narra o cotidiano de
uma pequena comunidade irlandesa nos EUA.
Descendente de irlandeses e autora de quatro romances ("That
Night" foi finalista do National
Book Awards, em 1987), McDermott derrubou dois pesos pesados:
Tom Wolfe, indicado por "A Man
in Full", e Robert Stone, por "Damascus Gate".
Os dois escritores eram os únicos
concorrentes que já haviam ganho
o National Book Awards. Wolfe
-único dos finalistas a não comparecer ao evento- foi o vencedor
da categoria não-ficção, em 1980,
com "Os Eleitos", e Stone levou o
prêmio de ficção, em 1975, com
"Dog Soldiers".
Durante o agradecimento ao
prêmio, McDermott disse estar tão
surpresa que nem havia preparado
discurso. "Mas prometo fazer isso
em breve e incluir o texto em uma
futura coletânea", brincou.
Na categoria não-ficção, o prestígio também contou pouco. O vencedor foi o estreante Edward Ball,
um ex-colunista do semanário
"The Village Voice", por "Slaves in
the Family", em que analisa o passado de seus familiares como donos de escravos.
Ball superou o consagrado Harold Bloom e seu "Shakespeare:
The Invention of the Human". Autor do "Canone Ociental", Bloom
havia sido finalista do National
Book Awards, em 1971, com
"Yeats".
No discurso de agradecimento,
Ball declarou que ira criar uma
fundação para reverter os lucros
do livro aos descendentes de antigos escravos de sua família, entrevistados na pesquisa para a realização da obra.
Os prêmios concedidos a
McDermott e Ball na verdade comprovam a antiga tradição do National Book Awards de apostar em
novos autores. Em 1964, por exemplo, eles concediam o prêmio de
melhor ficção ao jovem e desconhecido John Updike, por "The
Centaur". Em 1982, o escritor repetiria a dose com "Rabbit is Rich".
Anteontem, Updike voltou a ser
premiado pelo National Book
Awards, mas desta vez com a Medalha de Contribuição às Letras
Americanas, entregue pelo conjunto da obra.
Updike passou dois dias preparando o longo, bem-humorado e
emocionado discurso, em que defendeu a supremacia do livro sobre
os meios tecnológicos.
Os outros vencedores da noite
foram Gerald Stern na categoria
poesia, por "This Time - New and
Selected Poems", e Louis Sachar na
categoria literatura juvenil, por
"Holes".
Entre as editoras, que são as verdadeiras donas da festa, a grande
vencedora foi a Farrar, Straus &
Giroux, que publicou três dos quatro livros premiados -exceção
feita aos poemas de Stern.
Cada uma das quatro categorias
do National Book Awards teve cinco finalistas. Os vencedores ganharam US$ 10 mil, e os finalistas, US$
1 mil. No total, 916 títulos foram
sugeridos por 197 editores ao comitê de seleção neste ano.
Pelas proporções do evento
-cerca de 800 pessoas compareceram à cerimônia comandada pela dramaturga Wendy Wassertein-, o National Book Awards é
considerado o Oscar das Letras
Americanas. O evento é organizado pela National Book Foundation, uma instituição de fins não-lucrativos que tem como missão
promover a literatura americana
entre os leitores de todo o país.
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