São Paulo, sexta, 20 de novembro de 1998

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SHOW - CRÍTICA
Hebe canta para comemorar "400 anos de TV"

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local

Esqueça Maria Bethânia e Gal Costa. Esqueça Maysa e Dolores Duran. Esqueça até Dalva de Oliveira, até mesmo Carmen Miranda. O palco hoje é de Hebe Camargo, e não haverá programa de TV -ou haverá.
No país das louras, Hebe se reinscreve na MPB -já fora cantora, em carnavais passados- lançando um CD, "Pra Você". E teve anteontem, no Palace, noite comprobatória de seus talentos, ante platéia apinhada de celebridades.
Para começar, perdeu a voz. Era de esperar -não cantava havia décadas, e a reestréia era daquelas de dar rouquidão de fundo nervoso. Entrou com orquestra-de-um-arranjo-só e "Nada Além".
A rouquidão não apagou a maciez da voz quando "As Rosas Não Falam" (Cartola) flagrou Hebe como cantora de banquinho -não, não era bossa nova; banquinho pretinho e lencinho branquinho eram só artifícios de charminho.
Sucumbiu pela primeira vez ao cantar "Esse Cara", de Caetano, delicadeza de letra soterrada por orquestra e interpretação à moda dos anos 40.
Então ela chamou mr. Covinhas -mas não havia razão para Paulo Maluf, devidamente instalado na fila do gargarejo, se assustar. Mr. Covinhas era Agnaldo Rayol, que ofuscou com seu vozeirão a nova velha cantora sempre mais atenta a seu sofá que às canções que nele se sentam.
"De Tanto Amor", de Roberto e Erasmo, instalou a catarse no salão. "Perdoa se eu chorar", cantou Hebe -e chorou. Lágrimas de diamante pingaram de mil olhinhos brilhantes na platéia -Ione, Claudette, Fafá, Zizi, Silvia Poppovic, Mário Lago (co-autor de "Nada Além"), Lima Duarte...
O programa, ups, o show avançava e ela, com saudade da TV, já tagarelava. Dedicou o ponto alto do show, com "Olhos nos Olhos", de Chico Buarque, ao marido Lélio. Choraram Rita Cadillac, Gretchen (por que Carla Perez não foi???), "meu querido Chiclete com Banana" (era só o vocalista, não a banda toda), Jerry Adriani.
Intervalo para troca de vestido e colares, o executivo de vendas da gravadora da Hebe, inadvertidamente refestelado na mesa ao lado, se excedeu: "A PolyGram está tão ligada que é capaz de isso vender". Pano rápido, segundo ato.
"Agora vai acontecer um momento muito lindinho", avisou Hebe ao chamar Ney Matogrosso -que, como Rita Lee, não quis (ou não pôde) roubar a cena da loura. Choraram a rival Angela Maria, Eliana, Castrinho, Rodolfo & ET, Wilson Simonal ("ele dominava a platéia cantando "Meu Limão, Meu Limoeiro' "). Hebe saudou Morgana -não era ela, era uma drag queen.
As meninas cantoras de Petrópolis vieram embalar "Pense em Mim", e 2.000 olhinhos de pérola verteram lágrimas prateadas. As chiquititas cantando, Hebe falava e falava, como pedindo bênção à alma de Chacrinha.
Era o bis, e Hebe queria os amigos cantando. Deu-se o arrastão, todos ao palco, convocados ou não. Moacyr Franco, "meu querido portuguesinho Roberto Leal", "minha lindinha taí, a Sula?", Simonal e Simony, Daniel, Rosemary, Vanusa, Elymar, Joanna.
Fleury, Raí, Ratinho, Adriane Galisteu e Thereza Collor não subiram. Rita Lee, Zizi Possi e Ney Matogrosso não subiram -ora, se, como dizia o sábio senhor, quem está na chuva é para se queimar... Padre Marcelo, colega de selo, não veio -mas mandou flores.
Hebe se despediu no chão, nos braços do "povo", beijando Dercy Gonçalves, Nair Bello, Lolita Rodrigues, Clodovil e comemorando "400 anos de televisão". Era brincadeira de boneca rica, ela tinha o direito.



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