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SHOW - CRÍTICA
Hebe canta para comemorar "400 anos de TV"
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local
Esqueça Maria Bethânia e Gal
Costa. Esqueça Maysa e Dolores
Duran. Esqueça até Dalva de Oliveira, até mesmo Carmen Miranda. O palco hoje é de Hebe Camargo, e não haverá programa de TV
-ou haverá.
No país das louras, Hebe se
reinscreve na MPB -já fora cantora, em carnavais passados- lançando um CD, "Pra Você". E teve
anteontem, no Palace, noite comprobatória de seus talentos, ante
platéia apinhada de celebridades.
Para começar, perdeu a voz. Era
de esperar -não cantava havia décadas, e a reestréia era daquelas de
dar rouquidão de fundo nervoso.
Entrou com orquestra-de-um-arranjo-só e "Nada Além".
A rouquidão não apagou a maciez da voz quando "As Rosas Não
Falam" (Cartola) flagrou Hebe como cantora de banquinho -não,
não era bossa nova; banquinho
pretinho e lencinho branquinho
eram só artifícios de charminho.
Sucumbiu pela primeira vez ao
cantar "Esse Cara", de Caetano,
delicadeza de letra soterrada por
orquestra e interpretação à moda
dos anos 40.
Então ela chamou mr. Covinhas
-mas não havia razão para Paulo
Maluf, devidamente instalado na
fila do gargarejo, se assustar. Mr.
Covinhas era Agnaldo Rayol, que
ofuscou com seu vozeirão a nova
velha cantora sempre mais atenta a
seu sofá que às canções que nele se
sentam.
"De Tanto Amor", de Roberto e
Erasmo, instalou a catarse no salão. "Perdoa se eu chorar", cantou
Hebe -e chorou. Lágrimas de diamante pingaram de mil olhinhos
brilhantes na platéia -Ione, Claudette, Fafá, Zizi, Silvia Poppovic,
Mário Lago (co-autor de "Nada
Além"), Lima Duarte...
O programa, ups, o show avançava e ela, com saudade da TV, já tagarelava. Dedicou o ponto alto do
show, com "Olhos nos Olhos", de
Chico Buarque, ao marido Lélio.
Choraram Rita Cadillac, Gretchen
(por que Carla Perez não foi???),
"meu querido Chiclete com Banana" (era só o vocalista, não a banda
toda), Jerry Adriani.
Intervalo para troca de vestido e
colares, o executivo de vendas da
gravadora da Hebe, inadvertidamente refestelado na mesa ao lado,
se excedeu: "A PolyGram está tão
ligada que é capaz de isso vender".
Pano rápido, segundo ato.
"Agora vai acontecer um momento muito lindinho", avisou
Hebe ao chamar Ney Matogrosso
-que, como Rita Lee, não quis
(ou não pôde) roubar a cena da
loura. Choraram a rival Angela
Maria, Eliana, Castrinho, Rodolfo
& ET, Wilson Simonal ("ele dominava a platéia cantando "Meu Limão, Meu Limoeiro' "). Hebe saudou Morgana -não era ela, era
uma drag queen.
As meninas cantoras de Petrópolis vieram embalar "Pense em
Mim", e 2.000 olhinhos de pérola
verteram lágrimas prateadas. As
chiquititas cantando, Hebe falava
e falava, como pedindo bênção à
alma de Chacrinha.
Era o bis, e Hebe queria os amigos cantando. Deu-se o arrastão,
todos ao palco, convocados ou
não. Moacyr Franco, "meu querido portuguesinho Roberto Leal",
"minha lindinha taí, a Sula?", Simonal e Simony, Daniel, Rosemary, Vanusa, Elymar, Joanna.
Fleury, Raí, Ratinho, Adriane
Galisteu e Thereza Collor não subiram. Rita Lee, Zizi Possi e Ney
Matogrosso não subiram -ora,
se, como dizia o sábio senhor,
quem está na chuva é para se queimar... Padre Marcelo, colega de selo, não veio -mas mandou flores.
Hebe se despediu no chão, nos
braços do "povo", beijando Dercy
Gonçalves, Nair Bello, Lolita Rodrigues, Clodovil e comemorando
"400 anos de televisão". Era brincadeira de boneca rica, ela tinha o
direito.
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