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CD é 'Paris, Texas' no Saara
da Reportagem Local
O encontro do trovador malinês Ali Farka Touré com o guitarrista norte-americano Ry
Cooder é como uma pororoca
entre os rios Mississipi e Níger.
É uma mescla do "blues de
raiz" de Cooder -um branco
de alma negra- com a tradição africana de Touré. E poucas misturas deram tão certo.
E, apesar do que ele diz, tem
nítidos pontos em comum com
o blues -como uma certa estrutura repetitiva ou mesmo
temática.
O melhor exemplo é "Amandral", em que Touré canta a
história de um homem que viaja para ver seu amor, mas não
pode entrar em sua casa e canta
para que ela possa ouvi-lo enquanto ele tenta encontrá-la.
E ainda há um solo de slide de
Cooder -que já foi convidado
de honra de alguns discos dos
Rolling Stones. A música não
seria muito diferente se tivesse
sido feita por John Lee Hooker.
Ou na excelente "Diaraby":
"Seu pai, mãe e amigos dizem
que não podemos nos casar
porque eu sou duro, mas é você
que eu amo". Totalmente
blues.
Na maioria das vezes o resultado de "Talking Timbuktu"
é hipnótico e delicado, como
em "Soukoura", uma música
de amor cantada em bambara.
Inspirado pelos Djinn, os espíritos do rio Níger, Touré canta em nove línguas ou dialetos.
Em "Talking Timbuktu" ele
usa quatro: o peul, o sonrai (etnia da qual faz parte) e o tamashek, além do bambara.
E o clima do deserto está
sempre presente. Como em
"Sega", em que Touré toca
njarka (espécie de violino do
norte da África), acompanhado por congas e calabash.
"Talking Timbuktu" é a trilha sonora que "Paris, Texas"
teria se Wim Wenders tivesse
rodado seu filme no deserto do
Saara e não na aridez texana.
(LAR)
Disco: Talking Timbuktu
Artistas: Ali Farka Touré & Ry Cooder
(com participação de Clarence
"Gatemouth" Brown, Jim Keltner e
John Patitucci)
Lançamento: Paradoxx
Quanto: R$ 18, em média
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