São Paulo, Segunda-feira, 20 de Dezembro de 1999


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CINEMA
Perfil da maior premiação cinematográfica é definido com o anúncio dos indicados ao Globo de Ouro
Começa a corrida ao Oscar 2000

Divulgação
Cecília Roth em "Tudo Sobre Minha Mãe", maior favorito ao Oscar


AMIR LABAKI
em Nova York


O perfil do Oscar 2000 começa a se revelar hoje com o anúncio dos indicados ao Globo de Ouro, o prêmio anual da crítica estrangeira sediada em Los Angeles, que será entregue no dia 23 de janeiro. Não há favorito destacado ao prêmio de melhor filme, como indica a pulverização de vitoriosos nas diversas listas de associações de críticos americanos anunciadas nos últimos dias (veja quadro).
Os quatro principais prêmios dessas associações saíram para filmes distintos, todos ainda inéditos no Brasil: "American Beauty", de Sam Mendes, "O Informante", de Michael Mann, "Three Kings", de David O. Russell, e o britânico "Topsy-Turvy", de Mike Leigh. A escolha do thriller de Russell pela crítica de Boston é a mais idiossincrática e com menos chances de se repetir quando forem reveladas as preferências da Academia.
"American Beauty" é a isolada obra-prima do ano. É um retrato corrosivo da dissolução de uma família nos ricos subúrbios americanos. Parece um filme resultante de uma improvável parceria entre Billy Wilder e Sam Shepard.
Talvez seja sombrio demais para o gosto conservador dos votantes do Oscar. Só isso rouba-lhe o favoritismo. Mas, aconteça o que acontecer, é o filme do ano.
"O Informante" ("The Insider") segue melhor o figurino acadêmico. É um melodrama político-jornalístico à moda "Todos os Homens do Presidente". Sai Watergate, entra Nicotinagate.
O filme reconstitui os bastidores de uma denúncia sobre a manipulação científica dos cigarros pelas grandes indústrias visando acentuar a dependência do consumidor. Tudo gira em torno de uma reportagem da mais famosa revista semanal da TV americana, o programa "60 Minutes".
Russell Crowe brilha em composição contida como o denunciante, Al Pacino faz o incansável produtor do programa e Christopher Plummer está impagável como o celebérrimo telerrepórter Mike Wallace. Mann estica tudo, a tensão oscila, mas "O Informante" acaba tendo uma força para além da boas intenções. É candidato de peso.
"Topsy-Turvy" talvez seja o azarão do ano. É uma sofisticada reconstituição da carreira de Gilbert e Sullivan, os mestres da opereta na Inglaterra vitoriana. Nunca antes Mike Leigh manejara uma produção de tamanho vulto. Nem assim perdeu a sutileza. Pode ser a carta inglesa do Oscar.
"American Beauty" e "O Informante" parecem ter garantida a indicação para melhor filme. "Topsy-Turvy" corre por fora, e "Three Kings" não parece ter esse fôlego todo.
A terceira das cinco vagas parece reservada ao drama penitenciário "The Green Mile". Basta dizer que é o filme de Tom Hanks desta safra. Repete-se a parceria de "Um Sonho de Liberdade" entre o escritor Stephen King e o diretor Frank Darabont, com ênfase aqui no realismo fantástico.
"The Green Mile" é sóbrio, por vez tocante e parece ter menos que suas três horas. Nem todos os delírios funcionam, porém, e o final pesa na linha melô. É enfim uma fórmula cara à Academia.
"Magnólia", de Paul Thomas Anderson ("Boogie Nights"), também apela para o fantástico, mas apenas em seu terço final. É um "Short Cuts" para a geração Alanis Morissette. Uma série de desventurados na Los Angeles atual tem revelado aos poucos o cruzamento de seus destinos.
Seu elenco é hipnótico: os veteranos Jason Robards e Philip Baker Hall, os excepcionais William H. Macy e Philip Seymour Hoffman, a deusa Julianna Moore. Mas quem rouba o filme é Tom Cruise, fazendo um messiânico guru de machistas fragilizados. Nem Kubrick extraiu de Cruise um desempenho como esse. Por detrás da estrela de dois gestos e um sorriso, escondia-se um diabo de um ator.
Dentre as estréias de Natal, "Man on the Moon", de Milos Forman, tem as maiores chances. Jim Carrey vira o estranhíssimo comediante Andy Kaufmann, uma estrela da TV ("Saturday Night Life", "Taxi") morto prematuramente de câncer aos 35, em meados dos anos 80. A influente "Variety" rompeu o consensual aplauso da crítica, mas ao menos Carrey parece ter desta vez sua indicação assegurada.


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