|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CINEMA
Perfil da maior premiação cinematográfica é definido com o anúncio dos indicados ao Globo de Ouro
Começa a corrida ao Oscar 2000
Divulgação
|
Cecília Roth em "Tudo Sobre Minha Mãe", maior favorito ao Oscar |
AMIR LABAKI
em Nova York
O perfil do Oscar 2000 começa a
se revelar hoje com o anúncio dos
indicados ao Globo de Ouro, o
prêmio anual da crítica estrangeira sediada em Los Angeles, que
será entregue no dia 23 de janeiro.
Não há favorito destacado ao prêmio de melhor filme, como indica
a pulverização de vitoriosos nas
diversas listas de associações de
críticos americanos anunciadas
nos últimos dias (veja quadro).
Os quatro principais prêmios
dessas associações saíram para
filmes distintos, todos ainda inéditos no Brasil: "American
Beauty", de Sam Mendes, "O Informante", de Michael Mann,
"Three Kings", de David O. Russell, e o britânico "Topsy-Turvy",
de Mike Leigh. A escolha do thriller de Russell pela crítica de Boston é a mais idiossincrática e com
menos chances de se repetir
quando forem reveladas as preferências da Academia.
"American Beauty" é a isolada
obra-prima do ano. É um retrato
corrosivo da dissolução de uma
família nos ricos subúrbios americanos. Parece um filme resultante de uma improvável parceria
entre Billy Wilder e Sam Shepard.
Talvez seja sombrio demais para o gosto conservador dos votantes do Oscar. Só isso rouba-lhe o
favoritismo. Mas, aconteça o que
acontecer, é o filme do ano.
"O Informante" ("The Insider")
segue melhor o figurino acadêmico. É um melodrama político-jornalístico à moda "Todos os Homens do Presidente". Sai Watergate, entra Nicotinagate.
O filme reconstitui os bastidores de uma denúncia sobre a manipulação científica dos cigarros
pelas grandes indústrias visando
acentuar a dependência do consumidor. Tudo gira em torno de
uma reportagem da mais famosa
revista semanal da TV americana,
o programa "60 Minutes".
Russell Crowe brilha em composição contida como o denunciante, Al Pacino faz o incansável
produtor do programa e Christopher Plummer está impagável como o celebérrimo telerrepórter
Mike Wallace. Mann estica tudo,
a tensão oscila, mas "O Informante" acaba tendo uma força para
além da boas intenções. É candidato de peso.
"Topsy-Turvy" talvez seja o
azarão do ano. É uma sofisticada
reconstituição da carreira de Gilbert e Sullivan, os mestres da opereta na Inglaterra vitoriana. Nunca antes Mike Leigh manejara
uma produção de tamanho vulto.
Nem assim perdeu a sutileza. Pode ser a carta inglesa do Oscar.
"American Beauty" e "O Informante" parecem ter garantida a
indicação para melhor filme.
"Topsy-Turvy" corre por fora, e
"Three Kings" não parece ter esse
fôlego todo.
A terceira das cinco vagas parece reservada ao drama penitenciário "The Green Mile". Basta dizer que é o filme de Tom Hanks
desta safra. Repete-se a parceria
de "Um Sonho de Liberdade" entre o escritor Stephen King e o diretor Frank Darabont, com ênfase
aqui no realismo fantástico.
"The Green Mile" é sóbrio, por
vez tocante e parece ter menos
que suas três horas. Nem todos os
delírios funcionam, porém, e o final pesa na linha melô. É enfim
uma fórmula cara à Academia.
"Magnólia", de Paul Thomas
Anderson ("Boogie Nights"),
também apela para o fantástico,
mas apenas em seu terço final. É
um "Short Cuts" para a geração
Alanis Morissette. Uma série de
desventurados na Los Angeles
atual tem revelado aos poucos o
cruzamento de seus destinos.
Seu elenco é hipnótico: os veteranos Jason Robards e Philip Baker Hall, os excepcionais William
H. Macy e Philip Seymour Hoffman, a deusa Julianna Moore.
Mas quem rouba o filme é Tom
Cruise, fazendo um messiânico
guru de machistas fragilizados.
Nem Kubrick extraiu de Cruise
um desempenho como esse. Por
detrás da estrela de dois gestos e
um sorriso, escondia-se um diabo
de um ator.
Dentre as estréias de Natal,
"Man on the Moon", de Milos
Forman, tem as maiores chances.
Jim Carrey vira o estranhíssimo
comediante Andy Kaufmann,
uma estrela da TV ("Saturday
Night Life", "Taxi") morto prematuramente de câncer aos 35,
em meados dos anos 80. A influente "Variety" rompeu o consensual aplauso da crítica, mas ao
menos Carrey parece ter desta vez
sua indicação assegurada.
Texto Anterior: Programação de TV Próximo Texto: "Tudo sobre Minha Mãe" é favorito disparado Índice
|