São Paulo, Segunda-feira, 20 de Dezembro de 1999


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TELEVISÃO
Paulo Betti é o quinto trapalhão

TELMO MARTINO
Colunista da Folha


Ninguém podia desconfiar de que o Paulo Betti de topete falso, lustroso e perverso da novela das seis levava uma segunda vida numa gaveta da Rede Globo. O pior é que resolveram desengavetá-lo, exatamente neste momento em que os pobres telespectadores sofrem os excessos de canastronice desse vilão exacerbado.
Mas tinham de tirá-lo da gaveta. Lá ele agonizava envenenado por seu próprio mofo. O Betti de "Luna Caliente" não tem dinheiro e poder para disfarçar seus desatinos. Ele tem de sofrer sozinho as consequências de suas trapalhadas. E ele é um trapalhão capaz de deixar Renato Aragão inquieto com a rivalidade.
Vive-se uma época que parece um tanto antiga. Betti é um rapaz que chegou de uma longa temporada em Paris, sem trazer nada que possa ser confundido com um "souvenir". No que chega à pequena cidade onde mora sua mãe (viva a Wanda Lacerda), pede emprestado o Mercury que seu amigo (o sempre vilão Chico Diaz) restaurou.
E, sem qualquer motivo a não ser uma lua redonda no céu (La caliente? Si-si-si), vai visitar Bráulio (Tonico Pereira), um homem agora antiquado porque cita Foucault ou Lorca.
Betti fica para jantar porque a filha de Tonico e de Walderez de Barros é Ana Paula Tabalipa, só dois ou três anos mais velha que aquela Lolita. Ela olha para as costeletas de Betti com gulodice.
Apesar de ter comido ambrosia na sobremesa, é claro que ele fica para dormir. No que se mete na cama da garota, joga-lhe um travesseiro na cara para abafar os sons do seu prazer. Tira o travesseiro, ela se mostra adormecida. Ele acha que está morta.
O trapalhão não pode parar. Resolve fugir no carro. O papai bêbado, cheio de cachaça e Foucault, pede carona. Vai junto. A "luna" espia, mas ninguém sente o calor. O trapalhão não deixa.
Um carro passa em sentido contrário. Um menino olha. O trapalhão tem pressa. Consegue empurrar carro e bêbado morro abaixo até o rio. Trapalhão corre para a casa da mamãe. Quem aparece por lá? Dona Walderez, querendo saber do marido, e a Tabalipa, toda viva e querendo mais vida.
O trapalhão tonto de vida já vai servi-la... Surgem o dono do Mercury e Paulo José, que quer investigar todas as trapalhadas cometidas na noite passada. A Lolitíssima só sussurra para o trapalhão. "Quero minha calcinha." Paulo José está desforrando. Já que as trapalhadas não são dele, ele faz o frio e calculista. Mas bem capaz de rir dos apuros alheios.
Engavetaram a minissérie, só menos "mini" do que a Minnie Mouse, e se esqueceram da naftalina. Quando as pessoas falam é aquele ranço de quem sobreviveu a uma revolução. Quando elas agem, as trapalhadas salvam-se pelo absurdo.
O trapalhão tem de ser sempre Betti. Morou anos em Paris e quando a menina diz que vai gritar não usa beijos para sufocá-la. Vai de travesseiro. E a "Luna Caliente"? Trapalhão não se perde em detalhes.


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