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TELEVISÃO
Paulo Betti é o quinto trapalhão
TELMO MARTINO
Colunista da Folha
Ninguém podia desconfiar de
que o Paulo Betti de topete falso,
lustroso e perverso da novela das
seis levava uma segunda vida numa gaveta da Rede Globo. O pior
é que resolveram desengavetá-lo,
exatamente neste momento em
que os pobres telespectadores sofrem os excessos de canastronice
desse vilão exacerbado.
Mas tinham de tirá-lo da gaveta.
Lá ele agonizava envenenado por
seu próprio mofo. O Betti de "Luna Caliente" não tem dinheiro e
poder para disfarçar seus desatinos. Ele tem de sofrer sozinho as
consequências de suas trapalhadas. E ele é um trapalhão capaz de
deixar Renato Aragão inquieto
com a rivalidade.
Vive-se uma época que parece
um tanto antiga. Betti é um rapaz
que chegou de uma longa temporada em Paris, sem trazer nada
que possa ser confundido com
um "souvenir". No que chega à
pequena cidade onde mora sua
mãe (viva a Wanda Lacerda), pede emprestado o Mercury que seu
amigo (o sempre vilão Chico
Diaz) restaurou.
E, sem qualquer motivo a não
ser uma lua redonda no céu (La
caliente? Si-si-si), vai visitar Bráulio (Tonico Pereira), um homem
agora antiquado porque cita Foucault ou Lorca.
Betti fica para jantar porque a filha de Tonico e de Walderez de
Barros é Ana Paula Tabalipa, só
dois ou três anos mais velha que
aquela Lolita. Ela olha para as costeletas de Betti com gulodice.
Apesar de ter comido ambrosia
na sobremesa, é claro que ele fica
para dormir. No que se mete na
cama da garota, joga-lhe um travesseiro na cara para abafar os
sons do seu prazer. Tira o travesseiro, ela se mostra adormecida.
Ele acha que está morta.
O trapalhão não pode parar. Resolve fugir no carro. O papai bêbado, cheio de cachaça e Foucault, pede carona. Vai junto. A
"luna" espia, mas ninguém sente
o calor. O trapalhão não deixa.
Um carro passa em sentido contrário. Um menino olha. O trapalhão tem pressa. Consegue empurrar carro e bêbado morro
abaixo até o rio. Trapalhão corre
para a casa da mamãe. Quem aparece por lá? Dona Walderez, querendo saber do marido, e a Tabalipa, toda viva e querendo mais vida.
O trapalhão tonto de vida já vai
servi-la... Surgem o dono do Mercury e Paulo José, que quer investigar todas as trapalhadas cometidas na noite passada. A Lolitíssima só sussurra para o trapalhão.
"Quero minha calcinha." Paulo
José está desforrando. Já que as
trapalhadas não são dele, ele faz o
frio e calculista. Mas bem capaz
de rir dos apuros alheios.
Engavetaram a minissérie, só
menos "mini" do que a Minnie
Mouse, e se esqueceram da naftalina. Quando as pessoas falam é
aquele ranço de quem sobreviveu
a uma revolução. Quando elas
agem, as trapalhadas salvam-se
pelo absurdo.
O trapalhão tem de ser sempre
Betti. Morou anos em Paris e
quando a menina diz que vai gritar não usa beijos para sufocá-la.
Vai de travesseiro. E a "Luna Caliente"? Trapalhão não se perde
em detalhes.
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