São Paulo, sexta-feira, 20 de dezembro de 2002

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TEATRO

Montagem de texto de Aimar Labaki, dirigida por Gil Vicente Tavares, estréia hoje em Salvador

"A Boa" questiona assistencialismo

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A esmola social salva o homem? A pergunta que a atriz Walderez de Barros lançou na orelha de "A Boa" (ed. Boitempo, 2000), o livro com a peça homônima de Aimar Labaki, também mobiliza um grupo baiano que estréia hoje sua montagem em Salvador.
Para contar a história de uma jovem religiosa que encontra um ex-colega de faculdade morando na rua e tenta "recuperá-lo", mas vê suas boas intenções acabando por conduzi-lo ao inferno, a Cia. de Teatro Contemporâneo une-se a uma organização não-governamental, voltada para crianças e adolescentes em situação de rua, e criam o projeto A Boa Cidadania, que realizará cursos e apresentações na comunidade.
A companhia vê no texto de Labaki subsídios para discutir o que poderiam ser os malefícios da bondade, do paternalismo, do protecionismo, do assistencialismo ou do voluntariado na sociedade contemporânea.
"Atrás de toda essa filosofia da caridade esconde-se o rolo compressor do poder. Damos a sopa, mas eles continuam em palafitas; damos o agasalho, mas eles continuam ignorantes, sem acesso à educação; damos esmolas, mas eles continuam sem um emprego digno, sem a estabilidade de um país capaz de pagar um salário mínimo decente, porque interesses maiores e geralmente ilícitos são mais urgentes e primordiais", afirma o diretor Gil Vicente Tavares, 25.
Segundo a atriz Cristina Dantas, 30, sua personagem, Verônica, está em busca de redenção, e o faz a qualquer custo. "Ela preserva um ranço moral que faz com que distorça um pouco as ações, agindo de forma ingênua, crendo na possibilidade de resolver alguma coisa, mas sem a malícia, digamos, da perversão. Ela não pensa de forma alguma em prejudicá-lo."
Já Ricardo, o outro personagem, abdica do conforto material, da hipocrisia familiar, e reinventa seu mundo nas ruas. "Ele abandona tudo por não se adequar mais à vida dita normal. Quando ele volta, por causa da Verônica, revive o inferno. A família o sufoca, o dinheiro, a mulher, a questão sexual, enfim, tudo", diz o seu intérprete, Luciano Martins, 34.
"A Boa" foi montada pela primeira vez em 1999, no Festival de Teatro de Curitiba, com direção de Ivan Feijó e Ana Kutner e Milhem Cortaz no elenco. Labaki participou recentemente da Mostra de Dramaturgia Contemporânea com "Cordialmente Teus".


A BOA - de: Aimar Labaki. Direção: Gil Vicente Tavares. Com: Cia. de Teatro Contemporâneo. Onde: teatro Vila Velha (av. Sete de Setembro, s/nš, Passeio Público - Campo Grande, Salvador, tel. 0/xx/71/336-1384). Quando: estréia hoje, às 21h; amanhã, às 21h, e dom., às 20h (retorna em janeiro). Quanto: R$ 12. Patrocinador: banco Capital.


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