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TEATRO
Montagem de texto de Aimar Labaki, dirigida por Gil Vicente Tavares, estréia hoje em Salvador
"A Boa" questiona assistencialismo
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A esmola social salva o homem?
A pergunta que a atriz Walderez
de Barros lançou na orelha de "A
Boa" (ed. Boitempo, 2000), o livro
com a peça homônima de Aimar
Labaki, também mobiliza um
grupo baiano que estréia hoje sua
montagem em Salvador.
Para contar a história de uma
jovem religiosa que encontra um
ex-colega de faculdade morando
na rua e tenta "recuperá-lo", mas
vê suas boas intenções acabando
por conduzi-lo ao inferno, a Cia.
de Teatro Contemporâneo une-se
a uma organização não-governamental, voltada para crianças e
adolescentes em situação de rua, e
criam o projeto A Boa Cidadania,
que realizará cursos e apresentações na comunidade.
A companhia vê no texto de Labaki subsídios para discutir o que
poderiam ser os malefícios da
bondade, do paternalismo, do
protecionismo, do assistencialismo ou do voluntariado na sociedade contemporânea.
"Atrás de toda essa filosofia da
caridade esconde-se o rolo compressor do poder. Damos a sopa,
mas eles continuam em palafitas;
damos o agasalho, mas eles continuam ignorantes, sem acesso à
educação; damos esmolas, mas
eles continuam sem um emprego
digno, sem a estabilidade de um
país capaz de pagar um salário
mínimo decente, porque interesses maiores e geralmente ilícitos
são mais urgentes e primordiais",
afirma o diretor Gil Vicente Tavares, 25.
Segundo a atriz Cristina Dantas,
30, sua personagem, Verônica, está em busca de redenção, e o faz a
qualquer custo. "Ela preserva um
ranço moral que faz com que distorça um pouco as ações, agindo
de forma ingênua, crendo na possibilidade de resolver alguma coisa, mas sem a malícia, digamos,
da perversão. Ela não pensa de
forma alguma em prejudicá-lo."
Já Ricardo, o outro personagem, abdica do conforto material,
da hipocrisia familiar, e reinventa
seu mundo nas ruas. "Ele abandona tudo por não se adequar
mais à vida dita normal. Quando
ele volta, por causa da Verônica,
revive o inferno. A família o sufoca, o dinheiro, a mulher, a questão
sexual, enfim, tudo", diz o seu intérprete, Luciano Martins, 34.
"A Boa" foi montada pela primeira vez em 1999, no Festival de
Teatro de Curitiba, com direção
de Ivan Feijó e Ana Kutner e Milhem Cortaz no elenco. Labaki
participou recentemente da Mostra de Dramaturgia Contemporânea com "Cordialmente Teus".
A BOA - de: Aimar Labaki. Direção: Gil
Vicente Tavares. Com: Cia. de Teatro
Contemporâneo. Onde: teatro Vila Velha
(av. Sete de Setembro, s/nš, Passeio
Público - Campo Grande, Salvador, tel.
0/xx/71/336-1384). Quando: estréia
hoje, às 21h; amanhã, às 21h, e dom., às
20h (retorna em janeiro). Quanto: R$ 12.
Patrocinador: banco Capital.
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