São Paulo, sexta-feira, 20 de dezembro de 2002

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MÚSICA

POP ROCK

Banda faz últimas apresentações no Sesc Pompéia

Karnak chega ao fim com 2 shows em SP

DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Não tem graça nenhuma. Depois de dez anos tentando fazer com que o público levasse a sério a sua mistura de pop rock com experimentalismo e línguas arcaicas (ou inventadas?), o Karnak resolveu decretar o seu fim. Com dois shows marcados para amanhã e domingo, no Sesc Pompéia, seu líder, André Abujamra, promete reunir no palco "todos os músicos que já participaram do Karnak". "Só o cachorro [que "atuava] nos primeiros clipes do grupo" não vai estar. Ele morreu envenenado na Vila Madalena."
Em entrevista à Folha, o músico, que recentemente reatou a parceria com Maurício Pereira para relembrar as músicas da oitentista Os Mulheres Negras, falou sobre o final da estranha, mas elogiadíssima banda, recém-chegada de uma turnê nos EUA.

Folha - Por que vocês decidiram acabar com o Karnak?
André Abujamra -
É importante deixar claro que a gente não brigou. Somos muito amigos, gravamos três discos ["Karnak" (95), "Universo Umbigo (97) e "Estamos Adorando Tokio" (2000)] e passamos dez ótimos anos juntos. Foi só um ciclo que acabou. Estávamos em uma encruzilhada: sabíamos que fazíamos letras poéticas, bonitas, mas acabamos nos tornando uma caricatura. As pessoas ouviam a música por dez segundos na TV e achavam engraçada. A culpa é minha. Sempre achei que o Karnak fosse uma banda popular, mas as pessoas diziam que era requintada demais.

Folha - Apesar do sucesso nos EUA, Canadá e Europa, vocês nunca fizeram grande barulho por aqui...
Abujamra -
O que eu nunca vou fazer é pagar jabá. Os caras cobram, sim. E não é que as pessoas só gostam de música ruim. Se colocassem Frank Zappa cinco vezes por dia no rádio, elas começariam a gostar. O mesmo aconteceria com ritmos brasileiros como o maracatu. Tinha que tocar Mestre Salustiano no rádio.

Folha - A volta dos Mulheres Negras influenciou sua decisão em encerrar o Karnak?
Abujamra -
Não, a volta é passageira. O que acontece é que eu e o Maurício [Pereira] temos uma química absurda no palco. Não é oportunismo, aproveitando a atual onda anos 80. Nunca ganhamos dinheiro com essa banda porque o som sempre foi esquisito, e isso não vai mudar agora.

Folha - Por que tanto mistério em torno do Fat Marley?
Abujamra -
Isso nasceu de um personagem que eu fui convidado a fazer [em "Durval Discos", que estréia em março". Era um rastafári branco chamado Fat Marley. Achei a idéia tão legal que comecei a fazer umas pesquisas obscuras no Napster, a brincadeira virou séria e acabou rendendo um disco. Tem música que nem lembro de onde vem. Se quiserem me processar, estou ferrado (risos).

Folha - O que você pretende fazer agora?
Abujamra -
Estou muito envolvido com a trilha sonora do novo filme do Babenco, "Estação Carandiru". Ele é um monstro sagrado do cinema, e esse filme vai para o mundo inteiro. Mas pretendo voltar a gravar solo mais para a frente. Não consigo ficar muito afastado do palco.


KARNAK. Quando: amanhã, às 21h, e domingo, às 18h. Onde: Sesc Pompéia - teatro (r. Clélia, 93, São Paulo, tel. 0/xx/ 11/3871-7700). Quanto: R$ 7,50/R$ 15.


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