São Paulo, sexta-feira, 20 de dezembro de 2002

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MÚSICA/LANÇAMENTO

"SCARLET'S WALK"

Cantora americana faz, de viagens pelos EUA, música

Tori Amos encara a estrada e visita paisagens sentimentais

Divulgação
A cantora Tori Amos, em fotos feitas para o CD "Scarlet's Walk"


DA REPORTAGEM LOCAL

O termo maturidade não soa piegas, muito menos exagerado, para Tori Amos. Aos 39 anos, a cantora nascida na Carolina do Norte e que ganhou a atenção do mundo com a confessional "Me and a Gun", de 1992, explora agora seu diário de viagens pelos Estados Unidos e por uma série de experiências frustradas, sofridas ou simplesmente vividas, em sua trajetória amorosa.
"Scarlet's Walk", seu novo e sexto disco, é o que se pode chamar de um "road album" -vem com mapa e tudo- não apenas na quantidade de referências a acidentes geográficos da América, mas também na forma como se encadeiam as suas 18 canções, uma sucessão de sensações tão voláteis e fulminantes quanto a paisagem que vai se abrindo ao ouvinte que seguir as indicações da viagem musical de Amos.
Ao contrário de discos anteriores, como "Little Earthquakes" (92) e "From the Choirgirl Hotel" (98), a ruiva, insistentemente comparada a Joni Mitchell, não assume aqui uma única personalidade, a sua: permite-se a ingenuidade em "Amber Waves", a devoção em "Strange", a (i)lógica dos sonhos em "Carbon", a loucura libidinosa em "Crazy", a homenagem aos antepassados em "Scarlet's Walk" e "Virginia"...
Faixa de trabalho, "A Sorta Fairytale" parece reunir tudo isso. Tristeza, desencontros, Novo México, paixão fadada ao fracasso. Embalada num violãozinho folk e percussão, "A Sorta Fairytale" aparece ainda no primeiro videoclipe deste "Scarlet's Walk", em que a cantora contracena com o ator Adrien Brody ("O Pianista").
Não é, enfim, como de costume em sua carreira, um disco fácil. Transpassado por um piano chorado e arrastado e por arranjos de cordas da Orquestra Sinfônica de Londres, o "caminho de Escarlate" é tortuoso, pontuado de altos e baixos, de canções que ora entristecem, ora empolgam. Montanha-russa pouco indicada para os adeptos do pop fácil da maioria das cantoras norte-americanas, que, em termos de vendas, deixam Amos na poeira.
Pouco importa. "Scarlet's Walk", que inaugura o novo contrato de Tori Amos com a Epic após o rompimento com sua antiga gravadora, não foi feito para vender muito mesmo. Está mais para uma compilação de impressões gravadas com inspiração e pretensão literária -o escritor Neil Gaiman, citado em "Carbon", é notório amigo e "revisor".
"Scarlet's Walk" é jóia que, à primeira vista, talvez pareça pedregulho para aqueles que, como nós, não cresceram com os pés na América ou em sua literatura. (DIEGO ASSIS)


Scarlet's Walk
   
Artista: Tori Amos
Gravadora: Sony Music/Epic
Quanto: R$ 29, em média



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