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Caldeira redescobre padre que virou banqueiro
Em nova obra em dois
volumes, o autor de
"Mauá" mostra as
transformações sociais
e econômicas na São
Paulo do século 17
SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
O escritor e sociólogo Jorge
Caldeira, 51, não se contenta
com qualquer historieta. "O
Banqueiro do Sertão", sua mais
nova e polpuda empreitada, dedicada a contar a vida de um padre paulista que viveu entre os séculos 16 e 17, compõe-se de
dois imensos volumes -juntos,
têm mais de mil páginas.
A obra mostra como funcionava a sociedade e a economia
da pobre e ainda semi-selvagem São Paulo -distante das
riquezas exploradas pelos colonizadores europeus do Nordeste- por meio da construção da biografia de um religioso que se
tornou empresário.
"Construção", aliás, parece
ser a palavra mais correta para
denominar o modo como Caldeira (autor de "Mauá") trabalha. Seu método de pesquisa -tanto para este livro como para o projeto José Bonifácio (o
banco de dados virtual www.obrabonifacio.com.br)- envolve uma equipe de pesquisadores contratados e computadores que digitalizam o material reunido.
Depois do trabalho inicial feito por humanos e
máquinas, Caldeira, sozinho finalmente, senta e escreve.
O padre Guilherme Pompeu
de Almeida (1656-1713) é um
personagem difícil de enquadrar nas classificações comuns
ao mundo colonial. Filho de
um negociante rico e de uma
sertaneja, foi mandado para estudar com os jesuítas em Salvador. Aplicado estudante de teologia, poderia passar a integrar
a elite jesuítica da época caso
não tomasse uma surpreendente decisão. Voltar, instalar-se em Santana do Parnaíba como padre secular, ter uma filha
com uma indígena e, ali, construir um verdadeiro palacete.
"As relações obedeciam outra lógica, Almeida pensava como europeu para algumas coisas e como índio para outras,
por exemplo, a maneira de fazer negócios e de viver em família", disse Caldeira à Folha.
O pai de Almeida havia enriquecido por meio de empreitadas sertão adentro, percorrendo a trilha que ia de São Paulo a
Potosí, no então Vice-Reino do
Peru, onde abundava a prata.
Já Almeida começaria a financiar os aventureiros que
iam atrás do ouro recém-descoberto em Minas Gerais. Com
esses empréstimos, ficou rico
(tornando-se o "banqueiro do
sertão" do título).
Para Caldeira, o pouco interesse da historiografia brasileira pelo século 17 tem uma justificativa teórica. "A década de
30 foi o período das grandes hipóteses sobre o Brasil. Mas havia coisas pontuais que esses grandes cenários teóricos não
previam, como a existência de
uma economia monetária no
sertão", diz. "A tendência é
que esses aspectos da história voltem a vir à tona",
conclui.
O BANQUEIRO DO SERTÃO
Autor: Jorge Caldeira
Editora: Mameluco
Quanto: R$ 170 (1.072 págs.)
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