São Paulo, quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

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Caldeira redescobre padre que virou banqueiro

Em nova obra em dois volumes, o autor de "Mauá" mostra as transformações sociais e econômicas na São Paulo do século 17 SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

O escritor e sociólogo Jorge Caldeira, 51, não se contenta com qualquer historieta. "O Banqueiro do Sertão", sua mais nova e polpuda empreitada, dedicada a contar a vida de um padre paulista que viveu entre os séculos 16 e 17, compõe-se de dois imensos volumes -juntos, têm mais de mil páginas.
A obra mostra como funcionava a sociedade e a economia da pobre e ainda semi-selvagem São Paulo -distante das riquezas exploradas pelos colonizadores europeus do Nordeste- por meio da construção da biografia de um religioso que se tornou empresário.
"Construção", aliás, parece ser a palavra mais correta para denominar o modo como Caldeira (autor de "Mauá") trabalha. Seu método de pesquisa -tanto para este livro como para o projeto José Bonifácio (o banco de dados virtual www.obrabonifacio.com.br)- envolve uma equipe de pesquisadores contratados e computadores que digitalizam o material reunido.
Depois do trabalho inicial feito por humanos e máquinas, Caldeira, sozinho finalmente, senta e escreve.
O padre Guilherme Pompeu de Almeida (1656-1713) é um personagem difícil de enquadrar nas classificações comuns ao mundo colonial. Filho de um negociante rico e de uma sertaneja, foi mandado para estudar com os jesuítas em Salvador. Aplicado estudante de teologia, poderia passar a integrar a elite jesuítica da época caso não tomasse uma surpreendente decisão. Voltar, instalar-se em Santana do Parnaíba como padre secular, ter uma filha com uma indígena e, ali, construir um verdadeiro palacete.
"As relações obedeciam outra lógica, Almeida pensava como europeu para algumas coisas e como índio para outras, por exemplo, a maneira de fazer negócios e de viver em família", disse Caldeira à Folha.
O pai de Almeida havia enriquecido por meio de empreitadas sertão adentro, percorrendo a trilha que ia de São Paulo a Potosí, no então Vice-Reino do Peru, onde abundava a prata.
Já Almeida começaria a financiar os aventureiros que iam atrás do ouro recém-descoberto em Minas Gerais. Com esses empréstimos, ficou rico (tornando-se o "banqueiro do sertão" do título).
Para Caldeira, o pouco interesse da historiografia brasileira pelo século 17 tem uma justificativa teórica. "A década de 30 foi o período das grandes hipóteses sobre o Brasil. Mas havia coisas pontuais que esses grandes cenários teóricos não previam, como a existência de uma economia monetária no sertão", diz. "A tendência é que esses aspectos da história voltem a vir à tona", conclui.


O BANQUEIRO DO SERTÃO
Autor:
Jorge Caldeira
Editora: Mameluco
Quanto: R$ 170 (1.072 págs.)


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