São Paulo, Sexta-feira, 21 de Janeiro de 2000


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CINEMA - "DOGMA"
Filme pede senso de humor, diz diretor

CLAUDIO CASTILHO
especial para a Folha, em Los Angeles

Apesar de taxado de traidor da Igreja Católica, Kevin Smith garante ser um cristão devoto. E foi para falar de seu filme e de sua relação com Deus, entre outros assuntos, que o cineasta de 29 anos recebeu, recentemente, a reportagem da Ilustrada, em um hotel de Nova York. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Folha - Você acha que Deus possui senso de humor?
Kevin Smith -
Prefiro acreditar que sim. Acho que se Deus nos criou com senso de humor ele provavelmente também possui a mesma virtude. Espero, inclusive, que ele tenha bastante senso de humor porque fizemos um filme que exige muito senso de humor para ser apreciado.

Folha - Por que as organizações religiosas parecem não possuir senso de humor?
Smith -
Talvez pelo fato de seus membros não aceitarem falar de Jesus e contar piadas ao mesmo tempo. O poder de rir e fazer as pessoas rirem é uma coisa divina. Já fui muitas vezes à igreja e vi padres contando piadas para atrair a atenção dos seguidores de Cristo. É uma forma magnífica de chamar a atenção das pessoas. Pelo que sei, a Igreja Católica, como instituição, nunca se posicionou publicamente sobre o filme. A Liga Católica, que não é a voz oficial da igreja, por sua vez, é que começou com essa controvérsia toda. Eles é quem parecem não ter senso de humor algum.

Folha - Você sofreu alguma ameaça durante as filmagens?
Smith -
As gravações de "Dogma" transcorreram tranquilamente exceto pelo fato de Ben Affleck e Matt Damon fazerem parte do elenco. Na época, eles tinham acabado de ganhar o Oscar por "Gênio Indomável" e todo mundo parecia estar atrás deles.

Folha - Até mesmo quando vocês filmaram em frente a uma igreja?
Smith -
Não houve protesto algum. Para mim, a controvérsia só começou quando membros da Liga Católica ficaram sabendo que "Dogma" estava sendo feito pela Miramax. Como eles sempre buscam uma oportunidade para atacar a Disney, essa foi a ocasião ideal. Repudiaram algo que nem haviam assistido.

Folha - Quando surgiu a idéia de escrever "Dogma" a sua fé estava em crise?
Smith -
Não. Procurei somente fazer uma celebração a ela. Me perturbava, sim, ir à igreja e ver tanta gente presente sem a menor vontade de estar onde estavam. Para mim, as pessoas ali estavam mais pelo intuito de se livrar do inferno do que para celebrar a fé. Eu me considero um devoto. Gosto de ir à igreja uma vez por semana porque considero minha vida abençoada. Minha intenção foi fazer um filme que celebrasse a fé e divertisse a platéia.

Folha - Nesse filme, você usou efeitos especiais pela primeira vez. Esse era um recurso que você já tinha vontade de usar?
Smith -
Não. Sou um cineasta independente que não curte esse lado fantasioso de efeitos especiais. "Dogma", por sua vez, exigia a utilização desses recursos por trazer personagens angelicais e situações sobrenaturais.Os efeitos foram fundamentais para garantir a atmosfera surrealista.

Folha - Você se vê hoje mais aberto a fazer filmes aos moldes de Hollywood?
Smith -
Possivelmente, "Dogma" será o maior filme de minha carreira. Quero continuar fazendo produções independentes. Quero seguir contando histórias interessantes de personagens interessantes. E essa, geralmente, não é uma idéia apoiada facilmente pelos grandes estúdios de cinema.

Folha - Como foi acertada a participação de Alanis Morissette no filme?
Smith -
Alanis e eu somos velhos amigos. Desde o começo eu pensei nela para fazer o papel de Bethany, que acabou sendo muito bem interpretado por Linda Fiorentino. Mas, na época em que fiz o convite, Alanis havia acabado de fazer uma turnê de dois anos para divulgação de seu disco e decidira fazer uma viagem à Índia para relaxar. Quando retornou, ela me ligou perguntando se ainda podia participar do filme, e lhe ofereci o papel de Deus. Alanis tem um astral incrível, é uma pessoa do tipo zen mesmo.


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