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CRÍTICA
Filme começa mal e atinge ruindade surreal
ANDRÉ BARCINSKI
especial para a Folha
Os pseudomoralistas que fizeram uma intensa campanha contra o filme "Dogma", de Kevin
Smith, marcaram um tremendo
gol contra. Todo o bafafá causado
pelas acusações de blasfêmia só
deram mais publicidade a um filme que, sinceramente, não merecia. Sem a polêmica e a publicidade gratuita, "Dogma", um dos filmes mais chatos dos últimos
anos, estava condenado a sumir
dos cinemas em uma semana.
Os filmes de Kevin Smith são
um retrato fiel do moderno cinema "alternativo" americano: sem
um pingo de imaginação, com
diálogos que escondem, sob uma
fachada de esperteza e tiradas picantes, uma absoluta falta do que
dizer. Quem já assistiu a um filme
do diretor, como "O Balconista",
sabe que são todos iguais: não há,
a rigor, uma história. Os filmes
são uma colcha de retalhos de cenas supostamente engraçadinhas,
sem qualquer ligação entre elas.
É cinema de péssima qualidade,
que, por alguma razão, ganhou
status de "cult" nos Estados Unidos. Só o fato de atores famosos
fazerem fila para trabalhar com
Smith já demonstra o estado de
indigência do cinema americano.
Smith é um sujeito esperto: logo
no início de "Dogma" há um aviso de que o filme não deve ser levado a sério. É um bom álibi: trate
sua própria obra com desdém, assuma uma postura "blasé" e, assim, ninguém se sentirá confortável para criticar. É uma brincadeira, lembre-se, qualquer erro deve
ser perdoado. Só que o ingresso
continua custando dez mangos.
Em "Dogma", Ben Affleck e
Matt Damon interpretam anjos
renegados por Deus que descobrem uma maneira de voltar ao
reino dos céus, bastando para isso
cruzar os arcos de uma velha igreja. Bethany (Linda Fiorentino),
uma enfermeira de uma clínica de
abortos e descendente de Jesus, é
chamada para impedi-los.
Todo esse besteirol complica
quando surgem Rufus -um suposto 13º discípulo de Jesus-,
Musa e dois profetas, interpretados com a tradicional incompetência por Jason Mewes e pelo
próprio diretor, Kevin Smith. No
caminho, Bethany é atacada por
um monstro de fezes (é verdade!)
e tem de enfrentar o diabo e seus
discípulos, que andam de patins
carregando tacos de hóquei.
A coisa fica pior ainda quando
Deus aparece no filme, mas não
vamos estragar a surpresa.
"Dogma" começa mal e vai ficando pior a cada minuto, até
atingir um nível de ruindade verdadeiramente surreal. Os personagens passam o tempo todo fazendo comentários irônicos sobre
o catolicismo e a religião organizada, num blablablá entediante. O
filme teria até um certo charme
"trash" se tivesse sido feito de
brincadeira por um grupo de
amigos, num fim-de-semana regado a cerveja. Como sabemos,
não foi o caso. Vade retro.
Avaliação:
Filme: Dogma (Dogma)
Diretor: Kevin Smith
Produção: EUA, 1999
Onde: a partir de hoje, no Cinearte 1,
Morumbi 1 e Internacional Guarulhos 2
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