São Paulo, Sexta-feira, 21 de Janeiro de 2000


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CRÍTICA
Filme começa mal e atinge ruindade surreal

ANDRÉ BARCINSKI
especial para a Folha

Os pseudomoralistas que fizeram uma intensa campanha contra o filme "Dogma", de Kevin Smith, marcaram um tremendo gol contra. Todo o bafafá causado pelas acusações de blasfêmia só deram mais publicidade a um filme que, sinceramente, não merecia. Sem a polêmica e a publicidade gratuita, "Dogma", um dos filmes mais chatos dos últimos anos, estava condenado a sumir dos cinemas em uma semana.
Os filmes de Kevin Smith são um retrato fiel do moderno cinema "alternativo" americano: sem um pingo de imaginação, com diálogos que escondem, sob uma fachada de esperteza e tiradas picantes, uma absoluta falta do que dizer. Quem já assistiu a um filme do diretor, como "O Balconista", sabe que são todos iguais: não há, a rigor, uma história. Os filmes são uma colcha de retalhos de cenas supostamente engraçadinhas, sem qualquer ligação entre elas.
É cinema de péssima qualidade, que, por alguma razão, ganhou status de "cult" nos Estados Unidos. Só o fato de atores famosos fazerem fila para trabalhar com Smith já demonstra o estado de indigência do cinema americano.
Smith é um sujeito esperto: logo no início de "Dogma" há um aviso de que o filme não deve ser levado a sério. É um bom álibi: trate sua própria obra com desdém, assuma uma postura "blasé" e, assim, ninguém se sentirá confortável para criticar. É uma brincadeira, lembre-se, qualquer erro deve ser perdoado. Só que o ingresso continua custando dez mangos.
Em "Dogma", Ben Affleck e Matt Damon interpretam anjos renegados por Deus que descobrem uma maneira de voltar ao reino dos céus, bastando para isso cruzar os arcos de uma velha igreja. Bethany (Linda Fiorentino), uma enfermeira de uma clínica de abortos e descendente de Jesus, é chamada para impedi-los.
Todo esse besteirol complica quando surgem Rufus -um suposto 13º discípulo de Jesus-, Musa e dois profetas, interpretados com a tradicional incompetência por Jason Mewes e pelo próprio diretor, Kevin Smith. No caminho, Bethany é atacada por um monstro de fezes (é verdade!) e tem de enfrentar o diabo e seus discípulos, que andam de patins carregando tacos de hóquei.
A coisa fica pior ainda quando Deus aparece no filme, mas não vamos estragar a surpresa.
"Dogma" começa mal e vai ficando pior a cada minuto, até atingir um nível de ruindade verdadeiramente surreal. Os personagens passam o tempo todo fazendo comentários irônicos sobre o catolicismo e a religião organizada, num blablablá entediante. O filme teria até um certo charme "trash" se tivesse sido feito de brincadeira por um grupo de amigos, num fim-de-semana regado a cerveja. Como sabemos, não foi o caso. Vade retro.


Avaliação:  

Filme: Dogma (Dogma) Diretor: Kevin Smith Produção: EUA, 1999 Onde: a partir de hoje, no Cinearte 1, Morumbi 1 e Internacional Guarulhos 2

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