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DISCO - CRÍTICA
"Dindinha" quer engaiolar todos os excessos
da Reportagem Local
Em começo de ano não se vende
disco, os figurões descansam, então é hora de os novos artistas tentarem seus pulos de gato. E janeiro já traz essa tal Ceumar -nome
de anti-estrela-, que manobra
uma estréia de mansinho e plena
de delicadeza em "Dindinha".
É disco de MPB como o "futuro
tecnológico" quer proibir, de tecido acústico sem ser MTV e de
muxoxo aos apupos do pop, do
rock, dos eletrônicos -um pecado, a idade da pedra lascada em
pleno ano 2000. Bem, a quem admita a convivência do macaco
com o monolito, "Dindinha" surgirá como um projeto de planificação de diversas regionalidades e
de diversos excessos.
Ceumar -ou seria Zeca Baleiro, produtor?- quer desregionalizar o regional -plantá-lo no
ar?-, quer engaiolar os arroubos.
São pássaros contidos de mais
fina plumagem as releituras de
"Olha pro Céu" (de 51, o encarte
conta), de Luiz Gonzaga e José
Fernandes, da espevitada "Gírias
do Norte" (77), de Jacinto Silva e
Onildo Almeida, e, especialmente, de "Galope Rasante" (78), do
trovejante Zé Ramalho.
Nessa, ouve-se, no limite, o cavalo galopar, e é nas nuvens que o
faz. Ainda que "Maldito Costume" (29), senzala colonial de Sinhô, seja dedicada a Pena Branca
e Xavantinho, não é de folclore
que sibilam os passarinhos.
O canto nítido, bem pronunciado, muito mineiro, passeia pela
história dos sertões, mas vai se
aninhar mesmo é nas canções da
turma, de Josias Sobrinho ("As
Perigosas", "Rosa Maria"), Chico
César (a estranha "Geofrey, a Lenda do Ginete") e, sobretudo, Zeca
Baleiro ("Boi de Haxixe" -já gravada por ele e aqui muito mais
econômica-, "Dindinha", "Pecadinhos" -esta com Tata Fernandes-, "Cantiga").
Também produtor, Zeca paira
não só nos versos, entre inspirados ("minha casa não tem porta/
minha horta não tem fruta/ quem
me trata é moura torta/ língua
morta, quem te escuta") e desabalados ("flower não é flor"), mas
como definidor de parâmetros.
Aí se junta a turma e se tem daquelas coisas raras, um grupo até
heterogêneo pensando a música
popular brasileira. Ainda que discreto, Zeca Baleiro é ambicioso na
produção da doce cantora (até já
mistifica, comparando-a com
Clara Nunes, dona de pés na terra
molhada onde Ceumar ainda
apenas flutua). Está se criando
um modo, um sistema, um vinco.
Em que proporção os novos
pensadores colherão seus frutos
para alimentar mais arte ou poder
(ou ambos) é o segredo que agora
se oculta em suas dobras, vozes e
violões. Ceumar, recém-chegada
ao mundão malvado, parece capaz de fazer o que bem entender.
(PAS)
Avaliação:
Disco: Dindinha
Artista: Ceumar
Lançamento: Atração
Quanto: R$ 19 (até abril, à venda apenas
pelo site www.atracao.com.br)
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