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CRÍTICA
"Receita" pode vingar no país do Fome Zero
XICO SÁ
CRÍTICO DA FOLHA
A maioria dos programas de
culinária da TV está dominada
pelo merchandising de produtos,
que impõe a maionese "x", o óleo
"y", o macarrão fulano de tal, as
ervas finas de sicrano etc. Tudo
ainda temperado ao cinismo de
que nada mais é imoral ou engorda -como na música do rei Roberto Carlos- em tempos de ditadura "diet".
"Receita Minuto", que estreou
ontem na Band, na hora em que
começa a bater a fome (11h50),
começou livre desse vício. Pode
ter sido apenas sinal de que a
emissora não conseguiu vender
ainda as cotas do merchandising,
mas é um bom indício. Nos créditos, agradecimento à marca de
porcelana, personagem mais do
que secundária na ocasião.
Outro pecado constante dos cozinheiros televisivos é achar que a
despensa do populacho virou o
mercado Santa Luzia -casa sofisticada de produtos de SP. Aí
mandam uma lista de ingredientes digna dos melhores momentos da "nouvelle cuisine". Isso nos
programas populares.
Daniel Bork, que comanda a nova atração da Band, também foge
bem dessa luxúria. A fórmula são
receitas rápidas e econômicas.
Abriu a temporada com uma salada "Ceasar", não muito "diet"
assim -leva uma maionese esperta-, mas aparentemente saborosa. O franguinho ficou uma
beleza na grelha, mesmo para
quem aprecia uma gastronomia
mais perversa, como este cozinheiro de almas que vos escreve.
O cenário é feio -lembra os
tempos do domínio da fórmica-
, mas simples, com adereços de
camelô pela geladeira afora. O
programa, segundo a emissora, é
uma prestação de serviço para
quem -a velha desculpa dos
tempos modernos- não tem
tempo de levar ao fogo algo mais
demorado, trabalhoso.
Sendo assim, a estréia deu para
o gasto e deve vingar no meio da
farra gastronômica que virou a
TV do país do Fome Zero.
As emissoras só nos devem agora um horário para a arte do Miojo, ou seja, para aqueles que viraram mestres em incrementar a
solidão com a mais instantânea
das iguarias modernas.
Receita Minuto
Quando: de seg. a sex., às 11h50 na
Bandeirantes
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