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Documentário "Justiça" traça microcosmo da sociedade brasileira
CRÍTICO DA FOLHA
"Justiça", documentário que
traça um microcosmo da sociedade brasileira ao flagrar personagens que circulam pelo Fórum do
Rio de Janeiro, tem sua pré-estréia neste domingo em Roterdã.
O filme marca a consolidação de
Maria Augusta Ramos como uma
cineasta brasileira que traz sólida
contribuição para o ótimo momento deste gênero no país.
Maria Augusta Ramos nasceu
em Brasília, em 1964. Deixou o
Brasil aos 22 anos para estudar na
Europa. Foi para a Holanda, onde
morou por 14 anos e estudou cinema. Ao passar à realização, o
documentário foi um caminho
natural, sob a influência de Johan
Van Der Keuken (1938-2001), diretor de "Amsterdam Global Village", com quem teve aulas.
Ainda que com uma forte assinatura pessoal, Maria Augusta é
adepta de Van Der Keuken também em estilo. Sua câmera é sóbria, o enquadramento é preciso.
Não há música para acentuar os
momentos dramáticos.
O primeiro longa de Maria Augusta foi "Brasília, um Dia em Fevereiro" (1995). Em 2000, dirigiu
o documentário que lhe abriria
portas, "Desi", sobre uma menina
e seu complicado relacionamento
com o pai. O filme ganhou o
maior prêmio do cinema holandês para o gênero e lhe deu a
chance de realizar "Justiça". A
maior parte do financiamento
veio da Holanda, com a parceria
da produtora carioca Limite.
A idéia de "Justiça" nasceu da
vontade da cineasta de falar da
tensão social do Rio. "Enquanto
procurava personagens, fui ao fórum levada por uma amiga acadêmica que escreve sobre direito.
Achei que aquele seria um universo interessante para fazer um filme sobre a sociedade brasileira e
sobre como ela se apresenta e se
representa na Justiça."
Os personagens representam os
três setores da Justiça (réus, juízes
e advogados) e três deles funcionam como fio condutor: um homem apanhado com um carro
roubado cuja situação se complica porque é reincidente, um juiz
que é também professor e uma
defensora pública. "Procurei
mostrar a perspectiva de cada um
e descobrir uma forma de tocar
no tema sem cair nos clichês e no
maniqueísmo", ela afirma.
Maria Augusta cultiva um estilo
de documentário muito diferente
do cinema de Eduardo Coutinho,
adepto das entrevistas como forma de chegar a seus personagens.
Mas a diretora não tem a frieza do
cinema direto de Frederick Wiseman, um especialista em retratos
de instituições americanas. "Busco construir meus filmes sempre
pelos personagens; são eles que
me inspiram." E é por meio deles
que "Justiça" desvenda aspectos
de um país que muitos brasileiros
desconhecem, e que dizem muito
sobre nossa sociedade.
(PB)
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