São Paulo, quarta-feira, 21 de janeiro de 2004

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Documentário "Justiça" traça microcosmo da sociedade brasileira

CRÍTICO DA FOLHA

"Justiça", documentário que traça um microcosmo da sociedade brasileira ao flagrar personagens que circulam pelo Fórum do Rio de Janeiro, tem sua pré-estréia neste domingo em Roterdã. O filme marca a consolidação de Maria Augusta Ramos como uma cineasta brasileira que traz sólida contribuição para o ótimo momento deste gênero no país.
Maria Augusta Ramos nasceu em Brasília, em 1964. Deixou o Brasil aos 22 anos para estudar na Europa. Foi para a Holanda, onde morou por 14 anos e estudou cinema. Ao passar à realização, o documentário foi um caminho natural, sob a influência de Johan Van Der Keuken (1938-2001), diretor de "Amsterdam Global Village", com quem teve aulas.
Ainda que com uma forte assinatura pessoal, Maria Augusta é adepta de Van Der Keuken também em estilo. Sua câmera é sóbria, o enquadramento é preciso. Não há música para acentuar os momentos dramáticos.
O primeiro longa de Maria Augusta foi "Brasília, um Dia em Fevereiro" (1995). Em 2000, dirigiu o documentário que lhe abriria portas, "Desi", sobre uma menina e seu complicado relacionamento com o pai. O filme ganhou o maior prêmio do cinema holandês para o gênero e lhe deu a chance de realizar "Justiça". A maior parte do financiamento veio da Holanda, com a parceria da produtora carioca Limite.
A idéia de "Justiça" nasceu da vontade da cineasta de falar da tensão social do Rio. "Enquanto procurava personagens, fui ao fórum levada por uma amiga acadêmica que escreve sobre direito. Achei que aquele seria um universo interessante para fazer um filme sobre a sociedade brasileira e sobre como ela se apresenta e se representa na Justiça."
Os personagens representam os três setores da Justiça (réus, juízes e advogados) e três deles funcionam como fio condutor: um homem apanhado com um carro roubado cuja situação se complica porque é reincidente, um juiz que é também professor e uma defensora pública. "Procurei mostrar a perspectiva de cada um e descobrir uma forma de tocar no tema sem cair nos clichês e no maniqueísmo", ela afirma.
Maria Augusta cultiva um estilo de documentário muito diferente do cinema de Eduardo Coutinho, adepto das entrevistas como forma de chegar a seus personagens. Mas a diretora não tem a frieza do cinema direto de Frederick Wiseman, um especialista em retratos de instituições americanas. "Busco construir meus filmes sempre pelos personagens; são eles que me inspiram." E é por meio deles que "Justiça" desvenda aspectos de um país que muitos brasileiros desconhecem, e que dizem muito sobre nossa sociedade. (PB)

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