São Paulo, sexta-feira, 21 de janeiro de 2005

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MÚSICA

Estrela do jazz, que diz que último show paulistano foi "realmente, realmente emocionante", toca quarta e quinta na cidade

"Princesa" Diana revê bons súditos de SP

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

No mesmo 1997 em que o sumiço de uma princesa Diana provocou uma catarse no mundão, o mundinho do jazz viu surgir a sua princesa Diana particular.
Boa instrumentista e cantora, e de quebra bonitona e bem produzida, a canadense Diana Krall vestiu sem dificuldades o sapatinho de cristal e seu CD "Love Scenes" logo arrebanhou 500 mil súditos.
Nos sete anos seguintes, Diana gravou seis CDs bem-sucedidos e se tornou a jazzista (ainda que puristas de plantão neguem a ela o rótulo) mais conhecida do globo, competindo hoje com Norah Jones (que até bem menos puristas se recusam a chamar de jazzista).
Depois de duas viagens ao Brasil, no ano da glória de 1997 e no ano dos Grammys de 2000, Krall, recém quarentona, dá o ar de sua graça em Cumbica na terça.
Na quarta e na quinta que vem, ela se apresenta em São Paulo, no Via Funchal, como segunda atração do projeto "Vivo Divas do Jazz", que importou Norah Jones em dezembro passado.
Nos últimos dias de folga antes de reengatar mais uma fileira de 300 shows/ano, a canadense emprestou seu vozeirão, por telefone, à Folha, de sua casa em Nova York. Leia trechos da conversa.

 

Folha - Seu último CD, "The Girl in the Other Room" (Universal), é introspectivo, com temas como solidão, partidas, mudanças. É esse clima intimista que você apresentará a uma platéia de 3.000 pessoas?
Diana Krall -
Estou pensando em distribuir antidepressivos para a platéia para que as pessoas não fiquem tristes durante o show (risos). Bem, falando sério, não pretendo fazer um show triste. Vou tocar algo equilibrado, com novas músicas e temas de CDs passados.
Devo dizer também que não acho o CD todo triste. "Love Me Like a Man" e "Black Crow", de Joni Mitchell, não são de chorar.

Folha - Você citou Joni Mitchell. Músicos de ponta, como Brad Mehldau, com Radiohead, e Jason Moran, com Afrika Bambaataa, têm gravado músicos pop, assim como você. Esse tipo de diálogo chama novos ouvintes para o jazz?
Krall -
Joni Mitchell e Tom Waits, que gravei, não me parecem muito pop. Não gosto de rótulos. Acho que Mehldau, por exemplo, poderia se expressar com Radiohead ou Cole Porter.

Folha - Ele tocou Beatles aqui.
Krall -
Mehldau pode tocar a lista telefônica que ficará genial. É diferente de outro que escolha tocar Radiohead para parecer cool.

Folha - Perguntei sobre o pop porque muito poucos músicos de jazz conseguiram sua popularidade nas últimas décadas. Seu nome aparece quase 400 mil vezes no Google, por exemplo. Você acha importante popularizar o jazz?
Krall -
Não costumo pensar nisso. Não uso computadores e nunca olho o Google. Claro que ligo para a vendagem de meus CDs, que me permite seguir tocando. Não gosto de falsa modéstia. Eu me sinto recompensada, mas não ligo se estou popularizando algo ou não. Nem se críticos me consideram pop ou jazz. Importante é que faço música e sinto a verdadeira alegria que isso dá. Ray Brown, um dos meus mestres, me ensinou que essa é a essência.

Folha - Para uma música como você que emenda um show atrás do outro, enfileirando lugares como São Paulo e Nagóia, é possível conhecer alguma coisa das cidades?
Krall -
Não dá, não. Você viaja, chega ao hotel, faz a passagem de som, toca pela noite, volta ao hotel, toma um drinque, dorme e tudo se repete no dia seguinte.

Folha - Seu último CD trata indiretamente disso, não?
Krall -
Pois é. É um tema que mexe comigo. Veja alguns músicos que admiro, como João Gilberto e Tom Jobim, Frank Sinatra e os Beatles. Você não vê um rastro de tristeza em suas músicas? Não há como apontar um motivo para isso e não é uma tristeza depressiva ou um "saco cheio" desses artistas. Aparecer para tantas pessoas é difícil. É importante não se levar a sério demais para conseguir

Folha - Você se lembra de alguma coisa das duas vezes em que você se apresentou no Brasil?
Krall -
Nunca me esqueço uma vez que toquei em São Paulo, em um clube [Bourbon Street, em 2000], e que a platéia inteira começou a cantar comigo uma música de Jobim com uma energia louca. Foi um momento realmente, realmente emocionante.


DIANA KRALL. Quando: quarta e quinta, às 21h30. Onde: Via Funchal (r. Funchal, 65, SP, tel. 0/xx/11/3038-6698). Quanto: de R$ 120 a R$ 500. Patrocínio: Vivo. Ela tocará ainda em Curitiba (Embratel Convention Center) no dia 29/1 e em Porto Alegre (Teatro do Sesi) no dia 31/1.

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