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MÚSICA
Estrela do jazz, que diz que último show paulistano foi "realmente, realmente emocionante", toca quarta e quinta na cidade
"Princesa" Diana revê bons súditos de SP
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
No mesmo 1997 em que o sumiço de uma princesa Diana provocou uma catarse no mundão, o
mundinho do jazz viu surgir a sua
princesa Diana particular.
Boa instrumentista e cantora, e
de quebra bonitona e bem produzida, a canadense Diana Krall vestiu sem dificuldades o sapatinho
de cristal e seu CD "Love Scenes"
logo arrebanhou 500 mil súditos.
Nos sete anos seguintes, Diana
gravou seis CDs bem-sucedidos e
se tornou a jazzista (ainda que puristas de plantão neguem a ela o
rótulo) mais conhecida do globo,
competindo hoje com Norah Jones (que até bem menos puristas
se recusam a chamar de jazzista).
Depois de duas viagens ao Brasil, no ano da glória de 1997 e no
ano dos Grammys de 2000, Krall,
recém quarentona, dá o ar de sua
graça em Cumbica na terça.
Na quarta e na quinta que vem,
ela se apresenta em São Paulo, no
Via Funchal, como segunda atração do projeto "Vivo Divas do
Jazz", que importou Norah Jones
em dezembro passado.
Nos últimos dias de folga antes
de reengatar mais uma fileira de
300 shows/ano, a canadense emprestou seu vozeirão, por telefone, à Folha, de sua casa em Nova
York. Leia trechos da conversa.
Folha - Seu último CD, "The Girl in
the Other Room" (Universal), é introspectivo, com temas como solidão, partidas, mudanças. É esse clima intimista que você apresentará
a uma platéia de 3.000 pessoas?
Diana Krall - Estou pensando em
distribuir antidepressivos para a
platéia para que as pessoas não fiquem tristes durante o show (risos). Bem, falando sério, não pretendo fazer um show triste. Vou
tocar algo equilibrado, com novas
músicas e temas de CDs passados.
Devo dizer também que não
acho o CD todo triste. "Love Me
Like a Man" e "Black Crow", de
Joni Mitchell, não são de chorar.
Folha - Você citou Joni Mitchell.
Músicos de ponta, como Brad Mehldau, com Radiohead, e Jason Moran, com Afrika Bambaataa, têm
gravado músicos pop, assim como
você. Esse tipo de diálogo chama
novos ouvintes para o jazz?
Krall - Joni Mitchell e Tom
Waits, que gravei, não me parecem muito pop. Não gosto de rótulos. Acho que Mehldau, por
exemplo, poderia se expressar
com Radiohead ou Cole Porter.
Folha - Ele tocou Beatles aqui.
Krall - Mehldau pode tocar a lista
telefônica que ficará genial. É diferente de outro que escolha tocar
Radiohead para parecer cool.
Folha - Perguntei sobre o pop
porque muito poucos músicos de
jazz conseguiram sua popularidade nas últimas décadas. Seu nome
aparece quase 400 mil vezes no
Google, por exemplo. Você acha
importante popularizar o jazz?
Krall - Não costumo pensar nisso. Não uso computadores e nunca olho o Google. Claro que ligo
para a vendagem de meus CDs,
que me permite seguir tocando.
Não gosto de falsa modéstia. Eu
me sinto recompensada, mas não
ligo se estou popularizando algo
ou não. Nem se críticos me consideram pop ou jazz. Importante é
que faço música e sinto a verdadeira alegria que isso dá. Ray
Brown, um dos meus mestres, me
ensinou que essa é a essência.
Folha - Para uma música como
você que emenda um show atrás do
outro, enfileirando lugares como
São Paulo e Nagóia, é possível conhecer alguma coisa das cidades?
Krall - Não dá, não. Você viaja,
chega ao hotel, faz a passagem de
som, toca pela noite, volta ao hotel, toma um drinque, dorme e tudo se repete no dia seguinte.
Folha - Seu último CD trata indiretamente disso, não?
Krall -Pois é. É um tema que mexe comigo. Veja alguns músicos
que admiro, como João Gilberto e
Tom Jobim, Frank Sinatra e os
Beatles. Você não vê um rastro de
tristeza em suas músicas? Não há
como apontar um motivo para isso e não é uma tristeza depressiva
ou um "saco cheio" desses artistas. Aparecer para tantas pessoas
é difícil. É importante não se levar
a sério demais para conseguir
Folha - Você se lembra de alguma
coisa das duas vezes em que você
se apresentou no Brasil?
Krall - Nunca me esqueço uma
vez que toquei em São Paulo, em
um clube [Bourbon Street, em
2000], e que a platéia inteira começou a cantar comigo uma música de Jobim com uma energia
louca. Foi um momento realmente, realmente emocionante.
DIANA KRALL. Quando: quarta e quinta,
às 21h30. Onde: Via Funchal (r. Funchal,
65, SP, tel. 0/xx/11/3038-6698). Quanto:
de R$ 120 a R$ 500. Patrocínio: Vivo. Ela
tocará ainda em Curitiba (Embratel
Convention Center) no dia 29/1 e em
Porto Alegre (Teatro do Sesi) no dia 31/1.
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