São Paulo, sábado, 21 de janeiro de 2006

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20ª SÃO PAULO FASHION WEEK

No terceiro dia de desfiles, Reinaldo Lourenço e Neon surpreendem ao apostar em sensualidade explícita e poderosa da mulher

Cabaré esquenta temporada de inverno

ALCINO LEITE NETO
EDITOR DE MODA

VIVIAN WHITEMAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Para que servem as roupas? Para serem despidas, claro. Calmamente, sensualmente, poderosamente. E foi assim no desfile da Neon, em clima de cabaré anos 20 e ao som de "Alabama Song", de Brecht-Weil, na versão rocker do Doors. As garotas entraram todas no escuro e se espalharam por cadeiras simples no meio do palco. As roupas estampavam cores fortes. Uma a uma, as modelos se postavam de frente para os fotógrafos e iam arrancando as peças, numa ciranda de strip-teases . Depois, lançavam suas togas, pantalonas e túnicas, como se elas já não servissem para mais nada e o ato de despir fosse o modo mais poderoso de exibir uma roupa.
Com suas "showgirls" tropicalistas, a Neon roubou a cena no terceiro dia da SPFW. O outono-inverno dos estilistas Dudu Bertholini e Rita Comparato é como eles: abusado, irreverente e muito, muito quente.
A coleção, inspirada nos trajes que as dançarinas usam, dos ensaios às apresentações, seguiu a tradição da rica cartela de cores da dupla, trazendo estampas de coruja criadas pelos artistas Filipe Jardim e Fábio Gurjão. As formas eram divididas em camadas: por cima, tudo muito amplo; por baixo, nos colants e bodies que sobravam no corpo depois do strip-tease, tudo bem justo ao corpo. Os tecidos foram da malha e do moletom à seda pura. A atriz Fernanda Lima participou do desfile, mas foi a modelo oriental Juliana Imae que arrancou gritos da platéia, ao tirar com seu charme de felina o conjunto de pantalona e túnica verde com grafismos que estava vestindo.
A temperatura subiu também no ótimo desfile de Reinaldo Lourenço, realizado antes da Neon, no Teatro da Faap. Com fêmeas furiosas gemendo e sussurrando na trilha sonora, o estilista mostrou uma coleção supererotizada e de muito requinte. Nele, foram as "femmes fatales", essas astuciosas mulheres do cinema noir, que tomaram conta da cena. E também as maliciosas dançarinas de cabaré, evocando o Moulin Rouge e os anos 20. Sem falar nos trench-coats, saias e tailleurs com minissaia em couro de cobra (piton), em preto, vermelho e off-white com preto, que lembravam a amizade bíblica das garotas com as serpentes.
A coleção apresentou um detido trabalho de formas, com destaque para as golas em couro, construídas em cascatas onduladas, num engenhoso exercício de dobradura e costura. As musselines foram franzidas e organizadas em camadas, criando a ilusão de que vestidos e casacos eram feitos de um tipo levíssimo de pele.
No terceiro dia da Fashion Week, o outono-inverno firmou-se sexy, uma afirmação da mulher.


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