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20ª SÃO PAULO FASHION WEEK
No terceiro dia de desfiles, Reinaldo Lourenço e Neon surpreendem ao apostar em sensualidade explícita e poderosa da mulher
Cabaré esquenta temporada de inverno
ALCINO LEITE NETO
EDITOR DE MODA
VIVIAN WHITEMAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Para que servem as roupas? Para serem despidas, claro. Calmamente, sensualmente, poderosamente. E foi assim no desfile da
Neon, em clima de cabaré anos
20 e ao som de "Alabama Song",
de Brecht-Weil, na versão rocker
do Doors. As garotas entraram
todas no escuro e se espalharam
por cadeiras simples no meio do
palco. As roupas estampavam
cores fortes. Uma a uma, as modelos se postavam de frente para
os fotógrafos e iam arrancando as
peças, numa ciranda de strip-teases . Depois, lançavam suas togas,
pantalonas e túnicas, como se
elas já não servissem para mais
nada e o ato de despir fosse o modo mais poderoso de exibir uma
roupa.
Com suas "showgirls" tropicalistas, a Neon roubou a cena no
terceiro dia da SPFW. O outono-inverno dos estilistas Dudu Bertholini e Rita Comparato é como
eles: abusado, irreverente e muito, muito quente.
A coleção, inspirada nos trajes
que as dançarinas usam, dos ensaios às apresentações, seguiu a
tradição da rica cartela de cores
da dupla, trazendo estampas de
coruja criadas pelos artistas Filipe Jardim e Fábio Gurjão. As formas eram divididas em camadas:
por cima, tudo muito amplo; por
baixo, nos colants e bodies que
sobravam no corpo depois do
strip-tease, tudo bem justo ao
corpo. Os tecidos foram da malha
e do moletom à seda pura. A atriz
Fernanda Lima participou do
desfile, mas foi a modelo oriental
Juliana Imae que arrancou gritos
da platéia, ao tirar com seu charme de felina o conjunto de pantalona e túnica verde com grafismos que estava vestindo.
A temperatura subiu também
no ótimo desfile de Reinaldo
Lourenço, realizado antes da
Neon, no Teatro da Faap. Com
fêmeas furiosas gemendo e sussurrando na trilha sonora, o estilista mostrou uma coleção supererotizada e de muito requinte.
Nele, foram as "femmes fatales",
essas astuciosas mulheres do cinema noir, que tomaram conta
da cena. E também as maliciosas
dançarinas de cabaré, evocando
o Moulin Rouge e os anos 20.
Sem falar nos trench-coats, saias
e tailleurs com minissaia em couro de cobra (piton), em preto,
vermelho e off-white com preto,
que lembravam a amizade bíblica
das garotas com as serpentes.
A coleção apresentou um detido trabalho de formas, com destaque para as golas em couro,
construídas em cascatas onduladas, num engenhoso exercício de
dobradura e costura. As musselines foram franzidas e organizadas
em camadas, criando a ilusão de
que vestidos e casacos eram feitos
de um tipo levíssimo de pele.
No terceiro dia da Fashion
Week, o outono-inverno firmou-se sexy, uma afirmação da mulher.
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