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MÚSICA
À própria sorte
Adriana Zehbrauskas/Folha Imagem
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O cantor Nando Reis, 39, que em seu novo CD dá versão de autor a "O Segundo Sol", "ECT" e "Infernal", lançadas por Cássia Eller; compositor diz que morte da cantora foi "um acidente" |
Em "Infernal", seu terceiro disco solo, Nando Reis grava pela primeira
vez canções suas celebrizadas pela amiga e parceira artística Cássia Eller
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PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao lançar seu terceiro álbum solo, "Infernal", Nando Reis, 39, está
entregue à própria sorte. Como
autor, ele próprio diz que costuma estar diluído dentro de sua
banda, Titãs. Alternativamente,
encontrou Marisa Monte e Cássia
Eller como intérpretes e "amplificadores" de sua obra. Da primeira
anda distanciado; a segunda morreu precocemente, em dezembro.
Além de sua intérprete, Cássia
era uma de suas amigas mais próximas. A perda, ironicamente, é
relativizada pela chegada de "Infernal". Gravado um ano antes da
morte de Cássia, é disco em que o
artista recupera para si canções
que havia feito para outros intérpretes -Skank, Cidade Negra,
Jota Quest e, principalmente, Cássia Eller. A seguir, Nando fala sobre as perdas, o disco, a gana de
produzir mais daqui por diante.
Folha - O que este novo disco significa para você?
Nando Reis - Quando fiz a turnê
do disco anterior, trouxe os dois
americanos que o gravaram, e
acreditei muito em sua sonoridade e numa vontade de estendê-la
ao meu repertório que eu nunca
havia tocado ao vivo. Fizemos
uma turnê, foi tudo muito caro e,
de alguma maneira, não deu muito certo. Fiz bem menos shows do
que imaginava, havia uma desproporção entre a qualidade que
eu via nos shows e a quantidade
de pessoas que estavam indo ver.
Aí falei: "Vou gravar esse show".
Folha - Chegou a se cogitar que
fosse um disco ao vivo?
Reis - Não, em nenhum momento. Não gosto muito de disco ao
vivo, acho que ouvir a platéia, para quem não está lá no show, é
chato. A gravação aconteceu em
dois dias, foi um take de cada música. Foi quase como se fosse um
disco ao vivo, sem platéia. Não refiz nenhuma voz, nenhum violão.
Eu queria lançar no ano passado,
mas não fiz por causa da agenda
dos Titãs. De alguma maneira ele
até entra em conflito com o disco
dos Titãs, que está na estrada.
Folha - Hoje você tem duas gravadoras (Warner e, com Titãs, Abril). É
um disco de fim de contrato?
Reis - Não. Todo mundo interpreta assim, inclusive a própria
Warner. Pode ser que coincida,
ele encerra o contrato, mas não foi
feito com esse intuito. Houve um
hiato grande, de cinco anos, entre
meu primeiro CD e o segundo.
Uma coisa é fato: não há muito
tempo para esperar. É meio "gravei, acho bom, vou lançar", dentro da minha condição, de ter
uma banda estabelecida e poder
ser... alternativo diante dos Titãs.
Espero fazer com mais regularidade, é muito importante que eu
faça, na idade que tenho e após todos os acontecimentos recentes.
Folha - Você teme que hoje o CD
seja visto como de alguém gravando músicas que Cássia Eller cantou?
Reis - Não, porque foi gravado
antes de fazermos o "Acústico
MTV" da Cássia. O CD está pronto há tanto tempo que a gente ouviu durante a mixagem do "Acústico". Ela ouviu (sorri), ouviu uma
vez. Gostou muito (sorri).
Folha - Por que não estão no disco
as que Marisa Monte cantou?
Reis - Não sei. Talvez até porque
estivesse um pouco distante da
Marisa e mais envolvido com a
Cássia... Evidentemente isso faz
com que eu fique mais próximo
de algumas coisas minhas.
Folha - A morte de Cássia envelhece seu disco? Ele seria diferente
se fosse feito agora?
Reis - Não... Mas acho que eu
não seria estúpido de gravar um
disco com "O Segundo Sol" e lançar dois meses depois da morte
dela. Mas ele estar saindo, e com
"O Segundo Sol", me deixa absolutamente tranquilo, por toda a
relação que tive com ela.
Folha - Você já assimilou os fatos?
Reis - Não. É claro que o tempo e
a vida se encarregam de diminuir
a tristeza. Mas algumas coisas são
muito difíceis, muito duras. Ela
me convidar para produzir seus
discos e eu ter aquela mina de ouro era uma das coisas mais fundamentais para mim, para minha
sobrevivência. É isso que me desespera um pouco. É muito louco
pensar nas coisas que tínhamos
combinado fazer e não vamos fazer. É muito ruim ter que me virar. Havia o próximo disco dela,
de inéditas, que eu ia produzir.
(Silêncio.) Foi tão louco, porque
já havia acontecido com Marcelo
Fromer. Ele era o outro prato da
balança na minha vida. É muito
simétrico, ele era meu amigo de
infância, homem, companheiro
de bairro, da minha banda de 20
anos. Fiquei seis meses ali tendo
que arrumar um jeito, e brutalmente acontece a mesma coisa.
Até brinco, porque Marcelo e
Cássia morreram com 39 anos. Se
atravessar este ano, vou longe.
Folha - Por que Cássia morreu?
Reis - (Silêncio.) Por um acidente. Como o do Marcelo. Igualzinho. Coisas que se combinam e
fazem dar tudo errado em um segundo. Um acidente. Parece tudo
tão inexplicável... Mas não vou
responder sobre droga. Os laudos
vão dizer, já estão dizendo. Ela
não morreu de overdose.
Folha - Você tem críticas a fazer
às atitudes da imprensa no caso?
Reis - Ah, acho tudo precipitado,
tudo tem uma tendência simplista. É uma maneira "Casa dos Artistas" de ver o mundo. Não pode
ser colocado nessa perspectiva,
porque é fictícia, distorcida, mentirosa. Você mente para encontrar uma verdade. E é tão irônico
que os laudos vêm desmentir, fica
tudo meio surreal. Prefiro essa bagunça, que é mais próxima da
ambiguidade da própria Cássia.
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