São Paulo, quinta-feira, 21 de fevereiro de 2002

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DISCO/CRÍTICA

Compêndio revela autor por ele mesmo

DA REPORTAGEM LOCAL

É fácil caracterizar Nando Reis como mau cantor e questionar a necessidade de ele relançar, neste calor que faz agora, canções como "O Segundo Sol" e "ECT", que Cássia Eller há pouco tornou inesquecíveis.
Mas algo é inquestionável: por alguma razão, Nando atraiu para si a adesão dos dois grandes expoentes brasileiros de interpretação nos anos 90, Cássia e Marisa Monte. Juntas e complementares, elas o sublinharam e revelaram o que ninguém sabia até então, que havia por trás de Nando um bom poeta, um excelente compositor de melodias.
Por esse prisma, "Infernal" (que tem o longo e triste subtítulo "...But There Is Still a Full Moon Shining Over Jalalabad") foge da paranóia atual de discos oportunistas, regravações redundâncias e meras maquinações de gravadoras e artistas, e se torna mesmo um compêndio indispensável sobre a obra de Nando Reis sob sua própria ótica.
Sutileza, mas nada muito mais que isso, é acrescentada a hits pop do Skank ("Resposta"), do Cidade Negra ("Onde Você Mora"), do Jota Quest ("A Minha Gratidão É Uma Pessoa"). O clima roqueiro é até um pouco passadista, até pelas regravações de canções de seu primeiro disco solo ("12 de Janeiro", de 95) e por releituras (melhoradas) de seus rocks recentes nos Titãs.
O trabalho vem com as qualidades e limitações inerentes, mas se torna de suma importância para a trajetória do próprio Nando. Sua obra é o que de melhor ele pode entregar num momento que é de trauma, mas que também é de plena redefinição.
Infernal, "Infernal" demonstra que Nando talvez precise encontrar novas vozes (ou ser encontrado por elas). A sua ainda sai afobada, afogada, presa do grito que tem sido um de seus modos de imposição.
Celestial, "Infernal" revela que talvez o intérprete de Nando possa vir a ser ninguém mais que ele próprio. As referências a Roberto Carlos, na bela "Eu e Ela" (pena ele ter evitado a confessional "Nenhum Roberto", que Cássia lançara em 96), apontam para um intérprete apaziguado, de voz indócil, mas nem por isso indomável, e de poética inconclusa, à espera de resoluções.
Por mais que pareça o contrário, o tempo é de fertilidade para Nando Reis. E o novo caminho a ser encontrado é dele com ele, só.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


Infernal   
Artista: Nando Reis
Lançamento: Warner
Quanto: R$ 25, em média




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