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DISCO/CRÍTICA
Compêndio revela autor por ele mesmo
DA REPORTAGEM LOCAL
É fácil caracterizar Nando Reis como mau cantor e questionar a necessidade de ele relançar, neste calor que
faz agora, canções como "O Segundo
Sol" e "ECT", que Cássia Eller há pouco
tornou inesquecíveis.
Mas algo é inquestionável: por alguma
razão, Nando atraiu para si a adesão dos
dois grandes expoentes brasileiros de
interpretação nos anos 90, Cássia e Marisa Monte. Juntas e complementares,
elas o sublinharam e revelaram o que
ninguém sabia até então, que havia por
trás de Nando um bom poeta, um excelente compositor de melodias.
Por esse prisma, "Infernal" (que tem o
longo e triste subtítulo "...But There Is
Still a Full Moon Shining Over Jalalabad") foge da paranóia atual de discos
oportunistas, regravações redundâncias
e meras maquinações de gravadoras e
artistas, e se torna mesmo um compêndio indispensável sobre a obra de Nando Reis sob sua própria ótica.
Sutileza, mas nada muito mais que isso, é acrescentada a hits pop do Skank
("Resposta"), do Cidade Negra ("Onde
Você Mora"), do Jota Quest ("A Minha
Gratidão É Uma Pessoa"). O clima roqueiro é até um pouco passadista, até
pelas regravações de canções de seu primeiro disco solo ("12 de Janeiro", de 95)
e por releituras (melhoradas) de seus
rocks recentes nos Titãs.
O trabalho vem com as qualidades e limitações inerentes, mas se torna de suma importância para a trajetória do próprio Nando. Sua obra é o que de melhor
ele pode entregar num momento que é
de trauma, mas que também é de plena
redefinição.
Infernal, "Infernal" demonstra que
Nando talvez precise encontrar novas
vozes (ou ser encontrado por elas). A
sua ainda sai afobada, afogada, presa do
grito que tem sido um de seus modos de
imposição.
Celestial, "Infernal" revela que talvez o
intérprete de Nando possa vir a ser ninguém mais que ele próprio. As referências a Roberto Carlos, na bela "Eu e Ela"
(pena ele ter evitado a confessional "Nenhum Roberto", que Cássia lançara em
96), apontam para um intérprete apaziguado, de voz indócil, mas nem por isso
indomável, e de poética inconclusa, à espera de resoluções.
Por mais que pareça o contrário, o
tempo é de fertilidade para Nando Reis.
E o novo caminho a ser encontrado é dele com ele, só.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Infernal
Artista: Nando Reis
Lançamento: Warner
Quanto: R$ 25, em média
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