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POLÍTICA CULTURAL
Medida preventiva visa assegurar o ressarcimento aos cofres públicos de gastos irregulares em "O Guarani"
Ministério Público pede o bloqueio de bens de Bengell
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
O Ministério Público pediu a indisponibilidade dos bens da atriz
e cineasta Norma Bengell, como
medida cautelar para garantir o
ressarcimento aos cofres públicos
de R$ 1.015.306,19 captados pelas
leis de renúncia fiscal (Audiovisual e Rouanet) e gastos irregularmente na produção do longa-metragem "O Guarani" (96).
Quando o processo for julgado
pelo TCU (Tribunal de Contas da
União), esse valor deve ser corrigido monetariamente e com aplicação de juros de mora. De acordo com a última atualização procedida pelos técnicos do tribunal,
em novembro passado, o cálculo
resultou em R$ 2,8 milhões.
O pedido de indisponibilidade
dos bens da atriz e de sua empresa, a NB Produções, tem por base
a configuração de má-fé apontada
na Tomada de Contas Especial referente à produção de "O Guarani", que foi instaurada em 99.
A NB Produções teve autorização do Ministério da Cultura para
captar R$ 3.907.824,13 para a realização do longa-metragem. Foram obtidos, com o benefício das
leis, R$ 2.998.824.
O confronto dos gastos efetuados e notas fiscais apresentados
por Bengell na prestação de contas do projeto demonstrou, entre
outras irregularidades, que a cineasta retirou, como pró-labore
referente ao seu trabalho de produtora e cineasta, 21,25% do total
captado, quando teria direito, no
máximo, a 5,49%. O excedente totaliza R$ 504.562,38.
"Essa é uma evidente má-fé.
Não há como querer, numa situação dessa, alegar, como alguns
tentam fazer, que foi simples desorganização ou desconhecimento", diz o procurador-geral do Ministério Público, Lucas Rocha
Furtado, autor do parecer.
Furtado diz que "a função da indisponibilidade de bens é permitir que, quando o processo for encerrado e a decisão encaminhada
à AGU (Advocacia Geral da
União) para execução, seja possível localizar bens". A medida tenta impedir, portanto, a prática
-"corriqueira entre fraudadores", diz o procurador-geral- da
transferência de bens durante os
trâmites do processo.
O parecer do Ministério Público, encaminhado anteontem ao
ministro-relator Augusto Sherman, é o penúltimo passo no andamento do processo no TCU.
O encerramento se dá quando o
ministro propõe uma decisão
-acatando ou não o parecer do
Ministério Público e os estudos da
unidade técnica que o sustentam- e ela é julgada pelo conjunto dos ministros do tribunal.
Antes disso, no entanto, Sherman pode determinar, a qualquer
momento, propondo o julgamento do mérito do pedido do Ministério Público em plenário do tribunal, que a indisponibilidade
dos bens seja decretada, enquanto
se aguarda a decisão final.
Novo processo
Além de "O Guarani", Bengell
apresentou ao Ministério da Cultura (MinC) e teve aprovado outro projeto de realização de longa-metragem com benefício das leis
Rouanet e do Audiovisual -o
biográfico "Norma". Mesmo sem
haver sido produzido, o projeto já
figura entre os encaminhados pelo MinC ao Tribunal de Contas da
União (TCU). Pelo site oficial do
tribunal, ainda não há registro de
protocolo e distribuição do processo. O encaminhamento de
processos ao TCU é característico
de suspeita de irregularidade.
De acordo com informações do
MinC, além de "O Guarani" e
"Norma" há outros 20 projetos
beneficiados pelas leis de renúncia fiscal com prestação de contas
sendo analisada atualmente pelo
TCU ou pela Secretaria Federal de
Controle do Ministério da Fazenda. O total de recursos captados
por essas produções com incentivo de dinheiro público aproxima-se dos R$ 20 milhões.
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