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CINEMA/ESTRÉIA
"A FESTA DE MARGARETTE"
Longa foi filmado em preto-e-branco e sem diálogos
Diretor brasileiro procura público sem preconceitos
DA REPORTAGEM LOCAL
"Preciso de um público sem
preconceitos", diz o cineasta Renato Falcão, 39. Ou, ao menos, de
um espectador que não descarte
sem ver um filme com as características incomuns de "A Festa de
Margarette": longa brasileiro, filmado em preto-e-branco e sem
diálogos.
"Só com essa descrição, muitas
pessoas pensam de cara que é um
longa de época", diz Falcão. Não
é. "Quero fazer filmes que, no mínimo, reflitam a realidade que a
gente vive", afirma o diretor.
"A Festa de Margarette" é a estréia de Falcão na direção de longas-metragens. O cineasta se radicou há dez anos nos Estados Unidos, onde trabalha como fotógrafo de cinema. Voltou ao Brasil em
2000, para filmar o longa.
Os aspectos da realidade contemporânea que o filme pretende
refletir se relacionam com o desemprego, a crise econômica brasileira e seus efeitos na vida de
pessoas comuns.
O marido de Margarette é um
operário recém-demitido que
tenta contornar o colapso financeiro para oferecer uma grande
festa à mulher no dia de seu aniversário.
Falcão sonhou (literalmente)
com o argumento e com a forma
do filme. "Hoje, com a ameaça de
uma guerra, vejo muitos diretores
querendo fazer filmes sobre o assunto. No meu caso, foi o inverso.
O filme veio até mim, como uma
idéia estética, já com esse conteúdo", diz.
Em competição no Festival de
Brasília no ano passado, "A Festa
de Margarette" foi premiado com
os Candangos de diretor revelação (prêmio especial do júri) e direção de arte (Rodrigo Lopez). A
premiação de Lopez foi interpretada por muitos críticos como
uma injustiça ao trabalho de
Adrian Cooper no ainda inédito
"Desmundo", de Alain Fresnot.
"Muitas pessoas já disseram
que nosso filme é corajoso. Achei
o júri de Brasília igualmente corajoso ao decidir premiar a simplicidade. Mas não questiono muito
nem quando perco nem quando
ganho", diz Falcão.
Outro aspecto discutido de "A
Festa de Margarette" é sua trilha
sonora constante. A música é assinada por Hique Gomez, do grupo
musical Tangos e Tragédias, que
também desempenha no filme o
papel principal.
"Passamos um ano inteiro desenvolvendo a trilha. Nosso grande medo era de que o filme perdesse o ritmo e se tornasse chato
em algum ponto. Disso ninguém
até hoje reclamou, felizmente. Pode até ser que tenhamos pecado
por excesso na trilha, mas foi uma
decisão de não deixar a peteca
cair", afirma o diretor.
De produção gaúcha, o filme já
foi exibido também no Festival do
Ceará e em mostras internacionais, como a de Roterdã. Estréia
agora em São Paulo, em apenas
uma sala. "Ele é artesanal até no
lançamento", diz Falcão. "A Festa
de Margarette" foi realizado com
R$ 350 mil, de recursos próprios.
(SA)
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