UOL


São Paulo, sexta-feira, 21 de fevereiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CINEMA/ESTRÉIA

"A FESTA DE MARGARETTE"

Longa foi filmado em preto-e-branco e sem diálogos

Diretor brasileiro procura público sem preconceitos

DA REPORTAGEM LOCAL

"Preciso de um público sem preconceitos", diz o cineasta Renato Falcão, 39. Ou, ao menos, de um espectador que não descarte sem ver um filme com as características incomuns de "A Festa de Margarette": longa brasileiro, filmado em preto-e-branco e sem diálogos.
"Só com essa descrição, muitas pessoas pensam de cara que é um longa de época", diz Falcão. Não é. "Quero fazer filmes que, no mínimo, reflitam a realidade que a gente vive", afirma o diretor.
"A Festa de Margarette" é a estréia de Falcão na direção de longas-metragens. O cineasta se radicou há dez anos nos Estados Unidos, onde trabalha como fotógrafo de cinema. Voltou ao Brasil em 2000, para filmar o longa.
Os aspectos da realidade contemporânea que o filme pretende refletir se relacionam com o desemprego, a crise econômica brasileira e seus efeitos na vida de pessoas comuns.
O marido de Margarette é um operário recém-demitido que tenta contornar o colapso financeiro para oferecer uma grande festa à mulher no dia de seu aniversário.
Falcão sonhou (literalmente) com o argumento e com a forma do filme. "Hoje, com a ameaça de uma guerra, vejo muitos diretores querendo fazer filmes sobre o assunto. No meu caso, foi o inverso. O filme veio até mim, como uma idéia estética, já com esse conteúdo", diz.
Em competição no Festival de Brasília no ano passado, "A Festa de Margarette" foi premiado com os Candangos de diretor revelação (prêmio especial do júri) e direção de arte (Rodrigo Lopez). A premiação de Lopez foi interpretada por muitos críticos como uma injustiça ao trabalho de Adrian Cooper no ainda inédito "Desmundo", de Alain Fresnot.
"Muitas pessoas já disseram que nosso filme é corajoso. Achei o júri de Brasília igualmente corajoso ao decidir premiar a simplicidade. Mas não questiono muito nem quando perco nem quando ganho", diz Falcão.
Outro aspecto discutido de "A Festa de Margarette" é sua trilha sonora constante. A música é assinada por Hique Gomez, do grupo musical Tangos e Tragédias, que também desempenha no filme o papel principal.
"Passamos um ano inteiro desenvolvendo a trilha. Nosso grande medo era de que o filme perdesse o ritmo e se tornasse chato em algum ponto. Disso ninguém até hoje reclamou, felizmente. Pode até ser que tenhamos pecado por excesso na trilha, mas foi uma decisão de não deixar a peteca cair", afirma o diretor.
De produção gaúcha, o filme já foi exibido também no Festival do Ceará e em mostras internacionais, como a de Roterdã. Estréia agora em São Paulo, em apenas uma sala. "Ele é artesanal até no lançamento", diz Falcão. "A Festa de Margarette" foi realizado com R$ 350 mil, de recursos próprios. (SA)


Texto Anterior: Cinema/Estréia - "Prenda-me se for capaz": Spielberg resgata mito do vigarista simpático
Próximo Texto: Frases
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.