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"SIMPLESMENTE MARTHA"
Filme questiona a mulher moderna
Divulgação
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Martina Gedeck, protagonista do filme "Simplesmente Martha" |
TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA
"Simplesmente Martha"
pertence a um gênero em
ascensão no mercado cinematográfico, o dos filmes de "mulheres
emancipadas mas infelizes" feitos
para "mulheres emancipadas mas
infelizes".
Houve um tempo em que a
emancipação social e sexual das
mulheres era celebrada sem culpa
nos cinemas: na era pré-Código
Hays do cinema americano. Com
a implementação do código de
autocensura em Hollywood, a
emancipação feminina fez-se
canto de sereia: usualmente retratada como manipuladora e interesseira, a mulher moderna tornou-se "mulher fatal". Coube às
feministas americanas dos anos
70 rechaçar o moralismo patriarcalista dessa visão.
Filmes como "Simplesmente
Martha" provam que o público
feminino impôs os seus direitos,
ao menos os de consumidor. O
problema está um pouco aí: filmes do gênero são sempre produtos concebidos e embalados por
demais conscientemente para seu
público-alvo. Produtos que oferecem um "happy end" para as crises afetivas e existenciais da mulher moderna.
Para muitos autores do cinema
moderno europeu dos anos 50/
60, é bem verdade que quase sempre homens e ressentidos, tal conciliação era uma improbabilidade: o amor parecia ser um sentimento obsoleto na sociedade moderna. A emancipação feminina
estava no cerne da "crise de casal"
tematizada nos maiores clássicos
dessa geração.
Personagens como a protagonista de "Simplesmente Martha",
filme da alemã Sandra Nettelbeck,
são a prova de que o prognóstico
não estava de todo errado: Martha (Martina Gedeck) é uma mulher que, à custa da afirmação
profissional, tornou-se rígida demais para amar, é uma chef que
cria pratos com precisão, mas
sem amor. Ela perde, em plena
crise afetiva, a única amiga, a irmã, que lhe lega a sobrinha. Eis o
primeiro clichê a que Nettelbeck
recorre: o do adulto rígido que
tem as amarras quebradas pelo
convívio com uma criança.
Para piorar, entra em cena o
personagem-clichê de Sergio Castellitto, Mario, um chef de cozinha
italiano excêntrico que cozinha,
antes de tudo, com muito amor. A
função do personagem é aguçar
tanto o instinto competitivo da
profissional quanto o instinto sexual da mulher. Nettelbeck concilia assim a afirmação sexual de
Martha com sua reafirmação profissional. É através de Mario, inclusive, que Martha revifica a relação com a sobrinha, descobrindo,
enfim, seu instinto materno.
Simplesmente Martha
Mostly Martha
Direção: Sandra Nettelbeck
Produção: Itália/Alemanha/Áustria/Suíça, 2001
Com: Martina Gedeck, Sergio Castellitto,
Maxime Foerste
Quando: a partir de hoje no Espaço
Unibanco 2
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