UOL


São Paulo, sexta-feira, 21 de fevereiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DISCOS/LANÇAMENTOS

"HATE"

Pontuado pelo desconforto, grupo capta climas de um show de horror

"Ódio é o que você precisa", prega a tristeza do Delgados

Divulgação
A banda escocesa Delgados: Alun Woodward, Emma Pollock, Stewart Henderson e Paul Savage


THIAGO NEY
DA REDAÇÃO

O que poderia impactar tanto uma banda como a Delgados, associada a belas e orquestradas canções preenchidas sobre perdas e amores falhos e protagonizadas por outsiders? Claro, um filme "freak", show de horror, habitado por serial killers.
Pois foi isso que operou a mudança de trabalho no grupo escocês de "The Great Eastern" (2000) para este "Hate", lançado agora no Brasil pela Sum Records.
Em março de 2001, o Delgados foi convidado para fazer a trilha sonora ao vivo de uma espécie de show concebido por Joe Coleman, um artista britânico de cunho não muito ortodoxo. No Barbican, galeria londrina, Coleman iria mostrar suas pinturas por meio do tal filme "freak".
Para o desafio de sonorizar o estranho universo de Coleman, inspirado em Jayne Mansfield e Houdini, o Delgados compôs músicas pela primeira vez como um quarteto, e não basedas nas letras de seus dois compositores, Alun Woodward e Emma Pollock.
Eles -e quem assistiu ao espetáculo- adoraram e decidiram gravar o que viria a ser o novo disco da mesma maneira.
Segundo a própria banda, o processo deixou "Hate" mais uniforme do que o disco anterior. Pode ser, mas, uniforme ou não, não foi desta vez que a beleza e o lirismo de "The Great Eastern" foram superados pelos Delgados.
Seria injusto comparar o quarteto escocês com Flaming Lips ou Mercury Rev, dois dos mais originais e instigantes representantes do rock americano, mas não dá para não fazer a ligação.
Os Delgados recrutaram Dave Fridmann, que havia produzido os Lips e os Rev, para mixar "The Great Eastern". O resultado foi um dos mais elogiados álbuns de 2000, completamente diferente da simples melancolia presente nos dois primeiros discos da banda.
Fridmann volta a dar uma mão no novo disco, e a orquestração de cordas e o minimalismo dos "convencionais" guitarra e bateria que levantaram "The Great..." ainda estão presentes neste "Hate", mas aqui o lirismo dá lugar a uma irremediável tristeza. Um álbum parido por um inquietante e infantil desconforto.
Já na primeira faixa, "The Light Before You Land", vem o toque: "Não me acorde sem um plano". No primeiro single, "Coming in from the Cold": "Todo mundo está esperando por uma boa nova/ Mas ninguém se dará conta quando ela chegar".
O anticlímax, ironicamente, é com "All You Need Is Hate". Começa com uma bateria alegre, a voz de Alun Woodward remete à de Lennon. A própria canção é um contraponto à beatle "All You Need Is Love".
Dizem os Delgados: "Pergunte-me o que você precisa/ Ódio é o que você precisa". Maravilhosa.
Para os Delgados, o que você necessita não é de amor. Tudo o que você precisa é de ódio.
Entenda como quiser.


Hate   
Artista: The Delgados
Lançamento: Sum Records
Quanto: R$ 25, em média



Texto Anterior: "Simplesmente Martha": Filme questiona a mulher moderna
Próximo Texto: Ruído: Numeração tem até 22 de abril para vigorar
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.