São Paulo, terça-feira, 21 de fevereiro de 2006

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ERUDITO

Cearense José Maria Florêncio regeu filarmônica de Poznan até o ano passado e quer incrementar programação de ópera

Sinfônica Municipal tem "polonês" como novo regente

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Depois de um ano "órfã", a Orquestra Sinfônica Municipal volta a ter um maestro. Casado, pai de duas filhas de 13 e 15 anos de idade que mal arranham a língua portuguesa, o cearense José Maria Florêncio, 43, será o regente titular da orquestra.
A Orquestra Sinfônica Municipal (OSM) estava trabalhando apenas com regentes convidados desde que, com a troca no comando do Executivo municipal, a gestão Serra resolveu não aproveitar o norte-americano Ira Levin, que estivera no cargo durante o governo Marta Suplicy.
Florêncio, que terminou de reger ontem as cinco récitas da montagem de "As Bodas de Fígaro", de Mozart (que abriu a temporada de ópera do Municipal neste ano), tem residência fixa em Poznan, na Polônia, cuja filarmônica regeu por seis anos, até 2005.
As negociações para sua vinda, envolvendo o maestro Jamil Maluf, diretor do teatro, e o secretário municipal da Cultura, Carlos Augusto Calil, começaram em novembro do ano passado, durante as apresentações de "Candide", de Leonard Bernstein. Ele não participou da preparação da temporada da orquestra para 2006. Neste ano, deve alternar seu tempo entre o Brasil e a Europa.
Em São Paulo, isso inclui um espetáculo de balé entre 31 de março e 9 de abril; a ópera "La Gioconda", de Ponchielli, em agosto, com a soprano Eliane Coelho; e concertos da orquestra.

Origem popular
Filho de operários, Florêncio começou sua musicalização no Sesi do Ceará, sob os auspícios de Alberto Jaffé. Tornou-se rapidamente violista profissional, chefiando aos 19 anos o naipe de violas da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, onde conviveu com o maestro Davi Machado e fez sua estréia como regente profissional, aos 20 anos.
A orquestra tinha uma série de musicistas estrangeiros. Foi a "spalla" (líder do naipe de violinos) da orquestra, a polonesa Maria Durek, quem sugeriu um aperfeiçoamento na Polônia. Assim, em 1985, o jovem José Maria foi estudar no país então governado pelo general Wojciech Jaruzelski.
Desde então, ocupou posições na orquestra da rádio de Cracóvia e em teatros de ópera de Lodz, Varsóvia e Wroclaw, além de ter regido como convidado em vários países europeus.
Cuidadoso, não critica a situação do Municipal, embora ache que ela pode melhorar. "Queria que o teatro fizesse muito mais óperas, se tornasse quase um teatro de repertório, no qual ir à ópera não fosse um "feriado nacional", que só acontece raramente", diz.
"Toda orquestra passa por altos e baixos", avalia ele. "O que acontece na OSM, que definitivamente não acontece nas orquestras da Europa, é que os baixos são muito baixos em relação aos altos", diz. "Nivelar estas duas diferenças é o papel do diretor artístico de um grupo como esse. A OSM vai ter de parar de pensar que é a segunda melhor orquestra do Brasil. Ela vai ter de ser essa segunda melhor do Brasil mesmo, todo dia."
Florêncio descarta, contudo, a realização imediata de concursos e audições, que implicariam em mudanças no staff de músicos.


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