Obra organizada por Rosângela Rennó mostra apenas o verso de 101 imagens

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em 2005, 751 fotografias foram furtadas da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, durante uma greve dos funcionários, ocorrida entre 2 de abril e 14 de julho, o que impossibilitou saber exatamente a data e a forma do crime. Do total, apenas 101 imagens foram recuperadas -muitas delas retalhadas, escondendo suas origens para facilitar a revenda.
Segundo a artista Rosângela Rennó, esse "típico episódio de amnésia histórica" foi o motivo para produzir o livro "2005-510117385-5", título retirado do número do inquérito policial que investiga o crime. A obra, que seria lançada ontem no Paço Imperial, no Rio, reúne as 101 fotografias devolvidas.
Desde 1992, Rennó trabalha com o que ela chama de "ideia de arquivo", em seu "Arquivo Universal": "Textos jornalísticos que mencionavam fotos e que funcionavam para mim como uma espécie de arquivo infinito de fotografias latentes, traduzidas em palavras", conta.
Em "2005-510117385-5", novamente, Rennó evita trabalhar com imagens explícitas, apresentando o verso das 101 fotos devolvidas. "É um livro sobre o "furto" das fotografias e não sobre "fotografias". Não mostrar a imagem propriamente dita é respeitar o profissional que a fez e botar foco sobre a fragilidade do objeto, da coleção e do patrimônio", diz.
Mesmo assim, algumas imagens acabam sendo visíveis, pois, em algumas fotografias, os ladrões retiraram seu cartão de base e o papel ficou tão ralo que é possível ver seu conteúdo através das fibras, como em "Encouraçado Riachuelo", de Marc Ferrez (1843-1923).
Rennó -que representou o Brasil na Bienal de Veneza em 2005 com a série Vermelha, constituída por imagens de jovens em roupas militares, também difíceis de serem percebidas pelo forte tom avermelhado das imagens- tem um trabalho que justamente mostra-se como uma reflexão sobre a fotografia. Outra de suas séries, "Imemorial", de 1994, reunia fotos de operários mortos durante a construção de Brasília.
"2005-510117385-5", com aprovação e apoio da Biblioteca Nacional e a autorização da Polícia Federal, possui dois formatos: um com pranchas soltas e tiragem limitada e outro em offset, com tiragem de 500 exemplares e para distribuição nas grandes bibliotecas do país.


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