São Paulo, sábado, 21 de fevereiro de 1998

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Lucy Barreto nega lobby

da Reportagem Local

"Não é lobby, é como as coisas funcionam na indústria", diz Lucy Barreto. A produtora, mãe dos cineastas Fábio e Bruno Barreto, conta que a carreira internacional de "O Que É Isso, Companheiro?" começou antes de o filme ficar pronto.
Graças aos contatos, profissionais e pessoais, da família Barreto, a Pandora adquiriu os direitos para ser agente internacional de vendas quando o filme ainda estava no primeiro corte.
Assim, ao ser exibido no festival de Berlim, o filme foi comprado pela Miramax para o mercado norte-americano. "Com "O Quatrilho' foi iniciada uma relação com a Pandora, que está se ampliando. Eles entraram no "Bela Donna' (novo filme de Fábio Barreto, não-lançado) ainda no roteiro", afirmou Lucy.
"O Quatrilho", que foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 96 -e perdeu para "A Excêntrica Família de Antônia"- não chegou a entrar em circuito nos EUA. O filme foi comprado pela Pandora após ser exibido em pelo menos três festivais.
Nesse esquema de co-produção, a distribuidora internacional passa a ter mais direitos sobre o filme. No caso de "Bela Donna", uma adaptação do romance "Riacho Grande", de José Lins do Rego, a Pandora pôde sugerir, por exemplo, nomes para o elenco. "Você troca idéias com eles. Muitas observações eu aceitei, outras não", diz Lucy.
A produtora conta ainda que usa seu conhecimento do mercado e de seus profissionais formado em "35 anos de atividade na indústria e mais de 70 filmes" apenas quando é necessário. Cita, como exemplo, sua intervenção para que "Companheiro" entrasse em cartaz no Lincoln Plaza, sala nova-iorquina frequentada tradicionalmente por um público interessado em filmes estrangeiros e/ou independentes.
A Miramax queria exibir o filme no Regency. "Disse que não era adequado, que eles deviam tentar o outro. Mas, como o contato demorou, as datas estavam todas tomadas."
A solução encontrada por ela foi falar diretamente com o dono do cinema, seu amigo desde os anos 60. "Ele havia me ligado para contar que a Miramax não tinha feito contato. Fiquei chateadíssima. Quando liguei novamente, argumentei o quanto era importante que o filme fosse exibido lá e ele voltou atrás", afirmou.
Segundo ela, "as relações valem para isso; são, fundamentalmente, de amizade e credibilidade".
A entrada dos Barreto na indústria cinematográfica norte-americana pode ser ampliada no novo projeto de Bruno. O cineasta está discutindo uma co-produção diretamente com a Miramax para seu próximo projeto, "Taylor Made" (Feito sob medida). O filme é uma adaptação do romance "Senhorita Simpson", de Sérgio Sant"Anna, com a atriz Amy Irving, mulher de Barreto, no elenco.
"Se você vender o filme no roteiro, o preço é mais baixo. Mas, como precisa recuperar o dinheiro que investiu, a distribuidora se empenha mais para vender o filme depois. Isso garante que ele vai entrar no mercado", disse Barreto.
O cineasta nega que isso possa ter consequências negativas para a produção, como uma intervenção exagerada da distribuidora, que alteraria a obra. "Nos meus filmes, sempre exijo ter o corte final."



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