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Cinesesc abre mostra sobre Amado
Ciclo em SP integra a programação de eventos de lançamento da reedição das obras completas do escritor baiano
Programação traz campeões de público e raridades como o documentário "Jorge Amado" (1992), dirigido pelo cineasta João Moreira Salles
SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
A mostra "Jorge Amado no
Cinema", que começa hoje no
Cinesesc, dentro da programação de eventos de lançamento
da reedição das obras completas do autor, reúne campeões
do público com raridades.
Entre os primeiros, estão
"Dona Flor e Seus Dois Maridos" (1976), dirigido por Bruno
Barreto, ainda o maior êxito da
história do cinema nacional,
com mais de 10 milhões de espectadores, e "Tieta do Agreste
(1996), adaptação do diretor
Cacá Diegues e que contava
também com a eterna protagonista das mulheres do escritor
baiano, a atriz Sonia Braga.
Entre os outros, o documentário "Jorge Amado", que o cineasta João Moreira Salles fez
em 1992 para a televisão francesa e que permanece praticamente inédito no Brasil.
O filme traz depoimentos de
Amado sobre a criação de seu
universo e como ele via certas
críticas comuns a seu trabalho.
"Uma vez, na tentativa de diminuir minha obra, um crítico
disse que eu era um escritor de
putas e vagabundos. Nunca recebi um elogio maior", diz ele.
O baiano também fala de seu
período stalinista e de como se
decepcionou com as ideologias,
quando os crimes daquela época vieram então à tona.
Miscigenação
Salles, que considera Amado
um dos "co-autores da idéia de
um Brasil que não enxerga a cor
da pele", conta que decidiu
orientar o documentário a partir da relação entre Jorge Amado e Gilberto Freyre.
"Jorge leu "Casa Grande &
Senzala" e o impacto foi imenso. Não importa saber se havia
(ou há) um Brasil que aceitava
(ou aceita), sem traumas, a miscigenação. A partir de "Gabriela, Cravo e Canela" (um livro
que aparece duas décadas depois de "Casa Grande", o que dá
a medida do tempo que Jorge
levou para se livrar da influência do partido comunista), esse
mundo é descrito como uma
possibilidade real. Era uma
idéia convincente de Brasil. O
coronel se apaixona pela cabocla e isso não é uma questão do
romance. Com Jorge, essas coisas são tratadas como corriqueiras, são fatos da vida, nada
além disso. Para mim, essa é a
importância dele", disse Salles
à Folha por e-mail.
O cineasta observa que, não
obstante todas as ressalvas e
críticas que podem ser feitas à
noção de democracia racial, é
impossível negar que ela seja
um dos mitos fundadores do
Brasil. "O mito sempre existira,
mas, antes de Gilberto Freyre,
o sinal era trocado: éramos um
povo misturado, logo fadado ao
fracasso; Freyre e seu intérprete Jorge inverteram o sinal:
com eles, a mistura passou a
ser não a nossa derrota, mas a
nossa salvação", conclui o diretor dos documentários "Notícias de uma Guerra Particular"
e "Santiago", entre outros.
Entre os filmes mais populares, sente-se a falta, na programação, de "Gabriela, Cravo e
Canela" (1983), do mesmo Barreto e com a mesma Sonia Braga no papel de protagonista.
O filme, gravado em Paraty
em vez da Ilhéus do romance,
trazia o italiano Marcello Mastroianni, Paulo Goulart e Antonio Cantafora, entre outros, no
elenco.
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