São Paulo, sexta-feira, 21 de março de 2008

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Cinesesc abre mostra sobre Amado

Ciclo em SP integra a programação de eventos de lançamento da reedição das obras completas do escritor baiano

Programação traz campeões de público e raridades como o documentário "Jorge Amado" (1992), dirigido pelo cineasta João Moreira Salles

SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

A mostra "Jorge Amado no Cinema", que começa hoje no Cinesesc, dentro da programação de eventos de lançamento da reedição das obras completas do autor, reúne campeões do público com raridades.
Entre os primeiros, estão "Dona Flor e Seus Dois Maridos" (1976), dirigido por Bruno Barreto, ainda o maior êxito da história do cinema nacional, com mais de 10 milhões de espectadores, e "Tieta do Agreste (1996), adaptação do diretor Cacá Diegues e que contava também com a eterna protagonista das mulheres do escritor baiano, a atriz Sonia Braga.
Entre os outros, o documentário "Jorge Amado", que o cineasta João Moreira Salles fez em 1992 para a televisão francesa e que permanece praticamente inédito no Brasil.
O filme traz depoimentos de Amado sobre a criação de seu universo e como ele via certas críticas comuns a seu trabalho. "Uma vez, na tentativa de diminuir minha obra, um crítico disse que eu era um escritor de putas e vagabundos. Nunca recebi um elogio maior", diz ele.
O baiano também fala de seu período stalinista e de como se decepcionou com as ideologias, quando os crimes daquela época vieram então à tona.

Miscigenação
Salles, que considera Amado um dos "co-autores da idéia de um Brasil que não enxerga a cor da pele", conta que decidiu orientar o documentário a partir da relação entre Jorge Amado e Gilberto Freyre.
"Jorge leu "Casa Grande & Senzala" e o impacto foi imenso. Não importa saber se havia (ou há) um Brasil que aceitava (ou aceita), sem traumas, a miscigenação. A partir de "Gabriela, Cravo e Canela" (um livro que aparece duas décadas depois de "Casa Grande", o que dá a medida do tempo que Jorge levou para se livrar da influência do partido comunista), esse mundo é descrito como uma possibilidade real. Era uma idéia convincente de Brasil. O coronel se apaixona pela cabocla e isso não é uma questão do romance. Com Jorge, essas coisas são tratadas como corriqueiras, são fatos da vida, nada além disso. Para mim, essa é a importância dele", disse Salles à Folha por e-mail.
O cineasta observa que, não obstante todas as ressalvas e críticas que podem ser feitas à noção de democracia racial, é impossível negar que ela seja um dos mitos fundadores do Brasil. "O mito sempre existira, mas, antes de Gilberto Freyre, o sinal era trocado: éramos um povo misturado, logo fadado ao fracasso; Freyre e seu intérprete Jorge inverteram o sinal: com eles, a mistura passou a ser não a nossa derrota, mas a nossa salvação", conclui o diretor dos documentários "Notícias de uma Guerra Particular" e "Santiago", entre outros.
Entre os filmes mais populares, sente-se a falta, na programação, de "Gabriela, Cravo e Canela" (1983), do mesmo Barreto e com a mesma Sonia Braga no papel de protagonista.
O filme, gravado em Paraty em vez da Ilhéus do romance, trazia o italiano Marcello Mastroianni, Paulo Goulart e Antonio Cantafora, entre outros, no elenco.


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