São Paulo, sábado, 21 de março de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Autor de "long-seller" enfrentou rejeição

"Existência do público médio" permitiu sucesso do "Príncipe", diz especialista

DA REPORTAGEM LOCAL

Antes de enternecer gerações com rosas, carneiros e afins, Antoine de Saint-Exupéry era autor premiado por sua obra adulta.
O renome veio já com o primeiro romance, "Correio Sul" (1929), sobre os primórdios do correio aéreo. "Terra dos Homens" (1939), também baseado nas vivências como piloto, recebeu o Grande Prêmio de Romance da Academia Francesa e o National Book Award.
Mas a produção literária do aviador, de temática pouco variada -o romance "Voo Noturno", de 1931, trata de... aviação comercial-, acabou obliterada pela obra de seus conterrâneos, como André Gide (1869-1951) e Paul Valéry (1871-1945).
O desinteresse da crítica literária por Saint-Exupéry não foi nenhuma injustiça histórica, na opinião de Leda Tenório da Motta, professora de comunicação e semiótica da PUC-SP: "Aquele retorno ao humanismo estava na contramão das provocações das vanguardas. Era literatura bonitinha num momento em que, na literatura séria, os humanistas representavam o que havia de pior".
A explicação para o fenômeno "O Pequeno Príncipe", segundo ela, está apenas na "existência do público médio, de pessoas que, sem ter nenhum trato com a leitura, selecionam alguma coisa [para ler]".
Visão diferente tem Verónica Galíndez Jorge, professora de literatura francesa da USP. "Saint-Exupéry escreve num momento em que a França faz um resgate das relações com a filosofia na produção literária", diz, referindo-se ao existencialismo de Jean-Paul Sartre (1905-1980) e Albert Camus (1913-1960). Nesse contexto, "ele trabalha com a filosofia de forma independente e chega a uma proposta popular".
Além de recuperar "o diálogo filosófico, a ironia, Montesquieu, tudo isso que está em "O Pequeno Príncipe'", afirma, o autor tem a qualidade de "ser um francês que aborda o eurocentrismo sob um ponto de vista aparentemente estrangeiro".
Se a rejeição da crítica está ligada a uma "recusa ao best-sel- ler", como diz a professora, isso não tem prazo para acabar. "No mundo todo, o livro nunca para de vender", diz Paulo Roberto Pires, editor da Agir, que publica o título no Brasil. "É o que chamamos de "long-seller". Não adianta falar que é datado, vai continuar vendendo." (RAQUEL COZER)


Texto Anterior: No mundo do príncipe
Próximo Texto: Rodapé literário: Depois da festa
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.