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Autor de "long-seller" enfrentou rejeição
"Existência do público médio" permitiu
sucesso do "Príncipe", diz especialista
DA REPORTAGEM LOCAL
Antes de enternecer gerações com rosas, carneiros e
afins, Antoine de Saint-Exupéry era autor premiado por
sua obra adulta.
O renome veio já com o primeiro romance, "Correio Sul"
(1929), sobre os primórdios do
correio aéreo. "Terra dos Homens" (1939), também baseado
nas vivências como piloto, recebeu o Grande Prêmio de Romance da Academia Francesa e
o National Book Award.
Mas a produção literária do
aviador, de temática pouco variada -o romance "Voo Noturno", de 1931, trata de... aviação
comercial-, acabou obliterada
pela obra de seus conterrâneos,
como André Gide (1869-1951) e
Paul Valéry (1871-1945).
O desinteresse da crítica literária por Saint-Exupéry não foi
nenhuma injustiça histórica,
na opinião de Leda Tenório da
Motta, professora de comunicação e semiótica da PUC-SP:
"Aquele retorno ao humanismo estava na contramão das
provocações das vanguardas.
Era literatura bonitinha num
momento em que, na literatura
séria, os humanistas representavam o que havia de pior".
A explicação para o fenômeno "O Pequeno Príncipe", segundo ela, está apenas na "existência do público médio, de
pessoas que, sem ter nenhum
trato com a leitura, selecionam
alguma coisa [para ler]".
Visão diferente tem Verónica
Galíndez Jorge, professora de
literatura francesa da USP.
"Saint-Exupéry escreve num
momento em que a França faz
um resgate das relações com a
filosofia na produção literária",
diz, referindo-se ao existencialismo de Jean-Paul Sartre
(1905-1980) e Albert Camus
(1913-1960). Nesse contexto,
"ele trabalha com a filosofia de
forma independente e chega a
uma proposta popular".
Além de recuperar "o diálogo
filosófico, a ironia, Montesquieu, tudo isso que está em "O
Pequeno Príncipe'", afirma, o
autor tem a qualidade de "ser
um francês que aborda o eurocentrismo sob um ponto de vista aparentemente estrangeiro".
Se a rejeição da crítica está ligada a uma "recusa ao best-sel-
ler", como diz a professora, isso
não tem prazo para acabar. "No
mundo todo, o livro nunca para
de vender", diz Paulo Roberto
Pires, editor da Agir, que publica o título no Brasil. "É o que
chamamos de "long-seller". Não
adianta falar que é datado, vai
continuar vendendo."
(RAQUEL COZER)
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