São Paulo, sexta, 21 de março de 1997.

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Leconte revê uso do `close'

AMIR LABAKI
da Equipe de Articulistas

Patrice Leconte, 50, tem lugar garantido entre as poucas revelações francesas dos últimos 20 anos. Cinéfilo confesso e fã de Woody Allen, começou sua carreira desenhando histórias em quadrinhos.
Feita a opção pelos filmes, o começo é marcado por uma tentativa de cinema comercial sofisticado, restrito ao mercado francês. A cinefilia marca a paródia policial da estréia, "Les Vécés Étaient Fermés de L'Interieur" (1975).
Seus passos seguintes levam-no à comédia, a uma trilogia desenvolvida no início dos 80 junto ao ator-roteirista (depois diretor) Michel Blanc).
O amor ao cinema e a parceria com Blanc atingem patamar de sofisticação na refilmagem de "Panique", adaptação de romance de Georges Simenon. É "Um Homem Meio Esquisito" ("Monsieur Hire", 1988), policial romanticamente amargo, exemplar estudo da timidez no cinema.
Mas foi seu filme seguinte, "O Marido da Cabeleireira" (1990), que o revelou para o público brasileiro. A nostalgia de um cinema do "close" embala o romance entre o desajeitado Jean Rochefort e a exuberante Anna Galiena.
O melhor Leconte está nesse cinema de personagens, de acento tragicômico, que nos bons momentos lembra François Truffaut ("A Mulher do Lado"). Por vezes a fórmula desanda, como em "O Perfume de Yvonne" (1994). Admitindo o insucesso, Leconte aposta em seu filme seguinte na volta à comédia descompromissada.
Nem mesmo apoiada no trio Philippe Noiret-Jean Rochefort-Jean-Pierre Marielle, "Les Grands Ducs" (1995) decolou. Fracasso de crítica e público, jamais chegou ao Brasil.
Em "Caindo no Ridículo", Leconte experimenta com o filme de encomenda. Foi contratado pelos produtores para rodar o roteiro do jovem Rémi Waterhouse. Nada contra, se a química funciona. Não é o caso.
"Caindo no Ridículo", que chega agora a SP, deve seus melhores momentos ao resgate da expressividade da face humana.
O rosto da viúva aristocrata e manipuladora, vivida pela truffautiana Fanny Ardant é um convite ao "close", assim como o de Judith Godreche, que disputa com Ardant as atenções do herói iluminista, o engenheiro Gregoire Ponceludon de Malavoy.

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