São Paulo, sábado, 21 de março de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DOCUMENTÁRIO
Barbara Kopple filmou o cineasta por 23 dias em 18 cidades
Filme mostra Woody Allen "como ele realmente é"

IRINEU MACHADO
de Londres

"Wild Man Blues" era para ter sido um simples documentário sobre a turnê da banda de jazz onde Woody Allen tocou clarineta pela Europa no ano passado. O filme se tornou um raro registro biográfico do cineasta, um documentário que, em vários momentos, faz a platéia rir mais do que muitas comédias conseguem fazer.
Barbara Kopple, 45, a diretora do filme, é a responsável por Allen ser visto "como ele de fato é". Ela passou 23 dias em 18 cidades da Europa filmando Allen.
Uma das diretoras de documentários mais premiadas dos EUA -ganhou dois Oscar, em 1976, com "Harlan County, USA", e em 1990, com "American Dream" -, ela diz que o segredo de seu sucesso está em mostrar lados pouco conhecidos da realidade.
A seguir, os principais trechos da entrevista que ela deu à Folha:

Folha - Foi difícil fazer um filme em que o principal protagonista é um mestre dessa arte, como Woody Allen?
Barbara Kopple -
Ele é um mestre nos filmes de ficção. Por isso, fazer um filme de não-ficção sobre ele foi relativamente fácil, pois ele não conhecia muito esse tipo de trabalho. A dificuldade maior foi o cansaço. Gastamos de 16 a 18 horas por dia. Estávamos em uma cidade diferente a cada dia.
Folha - Ele sempre esteve interessado no projeto ou houve resistência?
Kopple -
No meu primeiro encontro com Woody, quando perguntei se ele estava animado para a turnê, ele disse: "Não. Eu não quero ir. Isso foi acertado há dois anos, nunca pensei que a hora fosse chegar, são muitos dias e tenho trabalho para fazer aqui (em Nova York). Não quero ir." Foi aí que eu senti que seria algo fascinante.
Folha - Ele esteve em algum momento farto de estar sendo "perseguido" por você?
Kopple -
Não. Às vezes, ele ficava um pouco deprimido, ou cansado, no final pegou um resfriado, mas nunca se irritou conosco. Ele estava em uma cidade diferente a cada dia. Éramos a menor de suas preocupações. Suas preocupações eram o medo do desconhecido, onde ele iria lavar sua roupa, onde iria jantar. Ele se esqueceu completamente de nós.
Folha - Você não se limitou a mostrar a turnê. Foi mais fundo, principalmente no relacionamento entre ele e Soon-Yi. Era parte do projeto?
Kopple -
Eu queria mostrar quem Woody Allen é, como é seu relacionamento com Soon-Yi, e, é claro, sua música. A música acabou sendo só 25% do filme.
Folha - Allen se mostra uma pessoa frágil, às vezes, como quando pára para ouvir conselhos de Soon-Yi, ou quando diz sentir falta de Nova York. Você considera o Woody Allen do filme o retrato do Woody Allen da vida real?
Kopple -
O comportamento dele no filme é como ele é na vida real quando está viajando. Quando ele está em casa, em Nova York, ele é muito diferente, tem controle do que está fazendo. Ele é um homem de hábitos e aqui, na Europa, ele era um peixe fora d'água.
Folha - O trecho da volta para casa, que mostra Allen em visita aos pais, é um dos momentos mais hilariantes. O comportamento dos pais dele a surpreendeu?
Kopple -
Na verdade, eles são como qualquer pai e mãe. Todos, quando vamos para casa, nos tornamos crianças. Inclusive Woody Allen, que tem mais de 60 anos.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.