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DOCUMENTÁRIO
Barbara Kopple filmou o cineasta por 23 dias em 18 cidades
Filme mostra Woody Allen "como ele realmente é"
IRINEU MACHADO
de Londres
"Wild Man Blues" era para ter
sido um simples documentário sobre a turnê da banda de jazz onde
Woody Allen tocou clarineta pela
Europa no ano passado. O filme se
tornou um raro registro biográfico do cineasta, um documentário
que, em vários momentos, faz a
platéia rir mais do que muitas comédias conseguem fazer.
Barbara Kopple, 45, a diretora
do filme, é a responsável por Allen
ser visto "como ele de fato é". Ela
passou 23 dias em 18 cidades da
Europa filmando Allen.
Uma das diretoras de documentários mais premiadas dos EUA
-ganhou dois Oscar, em 1976,
com "Harlan County, USA", e em
1990, com "American Dream" -,
ela diz que o segredo de seu sucesso está em mostrar lados pouco
conhecidos da realidade.
A seguir, os principais trechos da
entrevista que ela deu à Folha:
Folha - Foi difícil fazer um filme
em que o principal protagonista é
um mestre dessa arte, como
Woody Allen?
Barbara Kopple - Ele é um mestre nos filmes de ficção. Por isso,
fazer um filme de não-ficção sobre
ele foi relativamente fácil, pois ele
não conhecia muito esse tipo de
trabalho. A dificuldade maior foi o
cansaço. Gastamos de 16 a 18 horas
por dia. Estávamos em uma cidade
diferente a cada dia.
Folha - Ele sempre esteve interessado no projeto ou houve resistência?
Kopple - No meu primeiro encontro com Woody, quando perguntei se ele estava animado para a
turnê, ele disse: "Não. Eu não quero ir. Isso foi acertado há dois
anos, nunca pensei que a hora fosse chegar, são muitos dias e tenho
trabalho para fazer aqui (em Nova
York). Não quero ir." Foi aí que eu
senti que seria algo fascinante.
Folha - Ele esteve em algum momento farto de estar sendo "perseguido" por você?
Kopple - Não. Às vezes, ele ficava um pouco deprimido, ou cansado, no final pegou um resfriado,
mas nunca se irritou conosco. Ele
estava em uma cidade diferente a
cada dia. Éramos a menor de suas
preocupações. Suas preocupações
eram o medo do desconhecido,
onde ele iria lavar sua roupa, onde
iria jantar. Ele se esqueceu completamente de nós.
Folha - Você não se limitou a
mostrar a turnê. Foi mais fundo,
principalmente no relacionamento
entre ele e Soon-Yi. Era parte do
projeto?
Kopple - Eu queria mostrar
quem Woody Allen é, como é seu
relacionamento com Soon-Yi, e, é
claro, sua música. A música acabou sendo só 25% do filme.
Folha - Allen se mostra uma pessoa frágil, às vezes, como quando
pára para ouvir conselhos de
Soon-Yi, ou quando diz sentir falta
de Nova York. Você considera o
Woody Allen do filme o retrato do
Woody Allen da vida real?
Kopple - O comportamento dele no filme é como ele é na vida real
quando está viajando. Quando ele
está em casa, em Nova York, ele é
muito diferente, tem controle do
que está fazendo. Ele é um homem
de hábitos e aqui, na Europa, ele
era um peixe fora d'água.
Folha - O trecho da volta para casa, que mostra Allen em visita aos
pais, é um dos momentos mais hilariantes. O comportamento dos
pais dele a surpreendeu?
Kopple - Na verdade, eles são
como qualquer pai e mãe. Todos,
quando vamos para casa, nos tornamos crianças. Inclusive Woody
Allen, que tem mais de 60 anos.
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