São Paulo, sábado, 21 de março de 1998

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OSCAR
Dirigir é nova paixão de Robert Duvall

ELIZABETH SNEAD
do "USA Today"

Há quem classifique Robert Duvall como o maior ator norte-americano vivo. Mas nada de formalidades. "Chame-me de Bobby", diz o jovial Duvall. Aos 67 anos, pode-se dizer que ele está "em perfeita forma", com olhos azuis vivos e uma natureza amistosa e curiosa.
Esse filho de um oficial da Marinha foi recomendado pelo escritor Horton Foote (que o vira em uma peça na escola) para o papel do herói retardado Boo Radley em "O Sol É para Todos", de 1962.
Mais de 30 anos mais tarde, Duvall tornou-se um mestre em personagens complexos: Tom Hagen (nos dois primeiros "O Poderoso Chefão"), o tenente-coronel Kilgore ("Apocalipse Now"), Mac Sledge ("A Força do Carinho").
Agora, pela primeira vez, ele escreveu, dirigiu e estrelou (bem como financiou) um longa, "O Apóstolo", que lhe deu sua quinta indicação ao Oscar -ganhou uma vez, por "A Força do Carinho".
Duvall interpreta Euliss "Sonny" Dewey, um carismático pastor sulista da igreja pentecostal propenso à violência e à infidelidade. Sonny é destruído por suas fragilidades, mas sua fé e sua capacidade de inspirar devoção o redimem.
"Treze anos atrás, eu estava dirigindo sem rumo perto de Hughes, Arkansas", diz Duvall. "E fui a uma daquelas pequenas igrejas. Foi muito interessante para mim porque jamais havia visto aquela cultura e aquela forma de arte puramente norte-americana." Intrigado, Duvall decidiu escrever um roteiro sobre um pregador sulista. Foi Horton Foote quem o encorajou a dirigir o filme ele mesmo.
"Ao visitar aqueles pastores, ele os compreendeu, ele não os olhou com superioridade, mas descobriu seus pontos fracos e sua humanidade", diz Foote.
A despeito da reputação de Duvall como ator, nenhum estúdio expressou interesse no projeto.
Depois de alguns anos de frustração, Duvall decidiu ir adiante e financiar o filme com US$ 5 milhões de seu próprio dinheiro. Antes de começar a filmagem, ele explorou o sul para aperfeiçoar a intensidade digna de um vendedor de carros usados de seu pregador, sua cadência cantada, seu andar animado e suas exclamações entusiásticas.
"Pode soar brega, mas a literalidade e a imaginação da linguagem deles é tão densa", diz Duvall. "Algo como "teremos uma explosão do Espírito Santo!' ou "eu estou na lista de inimigos do Diabo'".
Duvall escalou June Carter Cash como sua mãe, Miranda Richardson, duas vezes indicada para o Oscar, como Toosie, a namorada de Sonny, e Farrah Fawcett como sua esposa, Jessie.
Das atrizes, trabalhar com Fawcett foi "o mais complicado". "Eu sempre gostei do trabalho de Farrah e queria que ela fosse Toosie", diz. "Mas ela quis o papel de esposa. Depois, quando Miranda foi escolhida, Farrah disse, "ah, eu quero ser Toosie', e continuou insistindo quanto a isso. No fim, eu disse que, se ela não quisesse interpretar a esposa, estava fora. "Vá embora. Arrumo outra pessoa'."
Dirigir é sua mais recente paixão. "Acho que é uma satisfação mais completa", diz. "Quando você é ator, às vezes quer que o dia acabe para que possa ir para casa. Mas, ao dirigir, nunca há tempo suficiente, você não quer que o dia acabe."



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