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CRÍTICA
Vera Fischer brilha e encanta no palco
BETTY MILAN
especial para a Folha
Quem vê, não sabe se ela é de
prata ou se ela é de nácar.
Pode-se dizer que a Lua diante
dela se rendeu.
Ou que ela, como o Santiago de
García Lorca, traz o sol escondido
no peito.
Ela é Vera Fischer, claro.
Vendo-a no teatro, percebi que
eu ignorava o que podia uma estrela ser.
Perguntei-me se Marilyn teria
exercido um fascínio maior.
O jambo claro da pele levemente
bronzeada, os seios como pomos,
tão bem emoldurados no decote
da combinação quanto no do vestido, na seda cor de pérola quanto
no tafetá vermelho.
E o pé, então, no sapato de salto
alto que ela discretamente exibe?
Uma vibração do fetichismo!
Narciso
A luz que dela emana é tamanha
que o reflexo da sua face deve
ofuscar a sua vista, a ponto mesmo
de tapar quem a reflete, deixando-a consigo mesma, só.
Vera Fischer faz lembrar o mito
de Narciso, que, segundo Tirésias,
só viveria se não visse a própria
beleza.
Por ser indiferente à ninfa Eco,
que o adora, Nemesis se vinga. Induz Narciso a beber nas águas
cristalinas de uma fonte em que
ele, enxergando o rosto, fica tomado pela imagem, sem comer
nem beber, até morrer.
Para que Vera Fisher possa viver
é preciso que ela receba menos dos
outros o reflexo da sua luz do que
as palavras que aparecem pelo glorioso trabalho de atriz.
Já está mais do que em tempo de
dar a resposta que a interpretação
dramática dela suscita e calar os
comentários perversos que o puritanismo requer.
Foi para Vera Fischer que Tennessee Williams escreveu "Gata
em Teto de Zinco Quente" porque, no papel de Meg, ela sabe fazer ouvir que a verdade não está
dissociada da mentira e que ela
pode nascer do desejo -do fogo
da carne.
Betty Milan é escritora, autora de "O Papagaio e
o Doutor" (Record) e de "Paris Não Acaba Nunca"
(Record), entre outros.
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