São Paulo, sábado, 21 de março de 1998

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MÚSICA
Cantor, dono do selo Luaka Bop, se apresenta em SP no dia 31 (Palace) e, dia 3 de abril, no Rio (Metropolitan)
Sem nostalgia, Byrne quer agradar a todos

BIA ABRAMO
especial para Folha, de Berkeley (EUA)

Na primeira vez em que se apresentou no Brasil, David Byrne admite que cometeu uma temeridade: veio mostrar "Momo", um disco "latino", e se recusou a tocar os velhos sucessos dos Talking Heads. No dia 31 de março, Byrne volta para shows no Palace, em São Paulo. No dia 3 de abril, no Metropolitan do Rio. Dessa vez, diz que não vai decepcionar os velhos fãs. Do escritório de seu selo Luaka Bop, em Nova York, Byrne falou por telefone à Folha.

Folha - Você disse que "Feelings" é o disco dos seus sonhos. É mais divertido fazer música nos anos 90 do que nos anos 80?
David Byrne -
Sim, de certa forma hoje em dia é mais fácil e mais divertido fazer o disco que você imagina fazer. O problema é como fazer com que as pessoas ouçam seu disco. Há milhões de discos por aí, é impossível ouvi-los todos, é até mesmo impossível ficar informado sobre todos eles. Se você faz algo que é singular e interessante -e aí não estou falando de mim, mas de qualquer um-, como é que você se conecta com as pessoas que podem estar interessadas em ouvi-lo?
Folha - E você acha que conseguiu isso com "Feelings"?
Byrne -
Não sei do ponto de vista das vendas, mas a turnê para mim tem sido muito satisfatória. Estou me divertindo bastante, o show é bem energético e dançante, para mim é ótimo estar na estrada novamente.
Folha - Você está planejando algum tipo de participação especial de algum de seus amigos brasileiros para os shows no Brasil?
Byrne -
Não sei, talvez alguma coisa aconteça, mas não estou planejando nada. Tom Zé vai estar dando show em São Paulo no dia de minha chegada e eu vou vê-lo. Sei lá, quem sabe o que vai acontecer? Eu estou bem animado de tocar no Brasil.
Folha - Como foi sua primeira experiência em tocar no Brasil, na turnê de "Momo"?
Byrne -
Acho que chegar com "Momo" foi um jeito muito estranho de me apresentar ao Brasil (risos). Naquele show, eu não tocava nenhum dos meus hits antigos dos Talking Heads, só material do "Momo". Foi um pouco arriscado. Mas acabou dando certo, o público é ótimo e eu me diverti bastante. Nesse novo show, estou fazendo uma espécie de retrospectiva, toco algumas músicas dos Talking Heads, coisas mais recentes, talvez algumas músicas de outras pessoas... Quem sabe?
Folha - Esse ano, o Luaka Bop completa dez anos de atividade. Como você avalia o papel do selo?
Byrne -
Por muito tempo, as pessoas simplesmente achavam que a gente estava lançando coisas muito estranhas, o que as pessoas aqui na América do Norte se contentam em chamar de world music. Mas agora nós conseguimos um certo sucesso, com o Cornershop ou o Zap Mama, por exemplo, e talvez as pessoas já não estejam achando o selo tão estranho assim. Isso é ótimo.
Folha - Algum plano de lançar mais música brasileira?
Byrne -
Estamos gravando um novo disco do Tom Zé, com músicas novas, que é muito bom, estava ouvindo hoje de manhã. Bem, nosso primeiro lançamento foi "Beleza Tropical", uma coletânea de MPB dos anos 70 e 80. Então, para comemorar nosso aniversário de dez anos, vamos lançar "Beleza Tropical 2", a nossa versão de "Tropicália 2". Estive ouvindo outras coisas, não sei exatamente o que vai acontecer. Ouvi um artista chamado Pedro Luiz e a Parede. Ele gravou um disco chamado "Astronauta Tupi" e gostei muito.
Folha - Você se encontrou com Caetano Veloso recentemente para gravar "Dreamworld", uma faixa para o "Red, Hot and Lisbon". Como ficou?
Byrne -
A música já está mixada. Fiquei muito contente, é uma bela música. Escrevi alguns versos, Caetano escreveu outros. Para mim, era uma espécie de sonho, ouço Caetano há anos, nós já nos encontramos algumas vezes, mas a gente nunca tinha trabalhado junto.
Folha - E o curioso é que você, de certa forma, é em parte responsável pelo livro do Caetano. Por tê-lo apresentado a alguém do "The New York Times", que publicou aquele artigo sobre Carmem Miranda. O artigo atraiu a atenção de uma editora americana que sugeriu a idéia do livro...
Byrne -
Eu nunca tinha ouvido essa história inteira... Claro que estou muito lisonjeado. Eu só vi meu nome no livro e fiquei muito surpreso. Estou esperando a tradução, porque não entendo português o suficiente.



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