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MÚSICA
Cantor, dono do selo Luaka Bop, se apresenta em SP no dia 31 (Palace) e, dia 3 de abril, no Rio (Metropolitan)
Sem nostalgia, Byrne quer agradar a todos
BIA ABRAMO
especial para Folha, de Berkeley (EUA)
Na primeira vez em que se apresentou no Brasil, David Byrne admite que cometeu uma temeridade: veio mostrar "Momo", um disco "latino", e se recusou a tocar os
velhos sucessos dos Talking
Heads. No dia 31 de março, Byrne
volta para shows no Palace, em
São Paulo. No dia 3 de abril, no
Metropolitan do Rio. Dessa vez,
diz que não vai decepcionar os velhos fãs. Do escritório de seu selo
Luaka Bop, em Nova York, Byrne
falou por telefone à Folha.
Folha - Você disse que "Feelings"
é o disco dos seus sonhos. É mais
divertido fazer música nos anos 90
do que nos anos 80?
David Byrne - Sim, de certa forma hoje em dia é mais fácil e mais
divertido fazer o disco que você
imagina fazer. O problema é como
fazer com que as pessoas ouçam
seu disco. Há milhões de discos
por aí, é impossível ouvi-los todos,
é até mesmo impossível ficar informado sobre todos eles. Se você
faz algo que é singular e interessante -e aí não estou falando de
mim, mas de qualquer um-, como é que você se conecta com as
pessoas que podem estar interessadas em ouvi-lo?
Folha - E você acha que conseguiu isso com "Feelings"?
Byrne - Não sei do ponto de vista das vendas, mas a turnê para
mim tem sido muito satisfatória.
Estou me divertindo bastante, o
show é bem energético e dançante,
para mim é ótimo estar na estrada
novamente.
Folha - Você está planejando algum tipo de participação especial
de algum de seus amigos brasileiros para os shows no Brasil?
Byrne - Não sei, talvez alguma
coisa aconteça, mas não estou planejando nada. Tom Zé vai estar
dando show em São Paulo no dia
de minha chegada e eu vou vê-lo.
Sei lá, quem sabe o que vai acontecer? Eu estou bem animado de tocar no Brasil.
Folha - Como foi sua primeira experiência em tocar no Brasil, na
turnê de "Momo"?
Byrne - Acho que chegar com
"Momo" foi um jeito muito estranho de me apresentar ao Brasil (risos). Naquele show, eu não tocava
nenhum dos meus hits antigos dos
Talking Heads, só material do
"Momo". Foi um pouco arriscado.
Mas acabou dando certo, o público é ótimo e eu me diverti bastante.
Nesse novo show, estou fazendo
uma espécie de retrospectiva, toco
algumas músicas dos Talking
Heads, coisas mais recentes, talvez
algumas músicas de outras pessoas... Quem sabe?
Folha - Esse ano, o Luaka Bop
completa dez anos de atividade.
Como você avalia o papel do selo?
Byrne - Por muito tempo, as
pessoas simplesmente achavam
que a gente estava lançando coisas
muito estranhas, o que as pessoas
aqui na América do Norte se contentam em chamar de world music. Mas agora nós conseguimos
um certo sucesso, com o Cornershop ou o Zap Mama, por exemplo,
e talvez as pessoas já não estejam
achando o selo tão estranho assim.
Isso é ótimo.
Folha - Algum plano de lançar
mais música brasileira?
Byrne - Estamos gravando um
novo disco do Tom Zé, com músicas novas, que é muito bom, estava
ouvindo hoje de manhã. Bem,
nosso primeiro lançamento foi
"Beleza Tropical", uma coletânea
de MPB dos anos 70 e 80. Então,
para comemorar nosso aniversário de dez anos, vamos lançar "Beleza Tropical 2", a nossa versão de
"Tropicália 2". Estive ouvindo outras coisas, não sei exatamente o
que vai acontecer. Ouvi um artista
chamado Pedro Luiz e a Parede.
Ele gravou um disco chamado
"Astronauta Tupi" e gostei muito.
Folha - Você se encontrou com
Caetano Veloso recentemente para gravar "Dreamworld", uma faixa
para o "Red, Hot and Lisbon". Como ficou?
Byrne - A música já está mixada. Fiquei muito contente, é uma
bela música. Escrevi alguns versos,
Caetano escreveu outros. Para
mim, era uma espécie de sonho,
ouço Caetano há anos, nós já nos
encontramos algumas vezes, mas
a gente nunca tinha trabalhado
junto.
Folha - E o curioso é que você, de
certa forma, é em parte responsável pelo livro do Caetano. Por tê-lo
apresentado a alguém do "The
New York Times", que publicou
aquele artigo sobre Carmem Miranda. O artigo atraiu a atenção de
uma editora americana que sugeriu a idéia do livro...
Byrne - Eu nunca tinha ouvido
essa história inteira... Claro que estou muito lisonjeado. Eu só vi meu
nome no livro e fiquei muito surpreso. Estou esperando a tradução, porque não entendo português o suficiente.
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