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U2
Show da banda irlandesa no país chega aos tribunais
Radiografia de uma megaconfusão
da Reportagem Local
O U2 já deixou o país há mais de
um mês, mas o espetáculo da banda irlandesa continua nos bastidores, como um show fechado sem
platéia. Até o momento, a confusão inclui acusações de calotes, sonegação, desvio de dinheiro e até
ameaças de morte.
O Ecad (Escritório Central de
Arrecadação e Distribuição) entrou na Justiça para receber o pagamento de direitos autorais. Pede
R$ 650 mil -menos do que os
10% de bilheteria a que teria direito. Parte está depositada em juízo.
O empresário Franco Bruni,
promotor do evento, entrou na
Justiça contra a C&A, uma das patrocinadoras do show e responsável pela venda de ingressos, porque não concorda com a prestação
de contas feita pela empresa. Ele
diz que ainda tem entre R$ 1 milhão e R$ 2 milhões a receber.
A C&A entrou na Justiça contra
Bruni. A empresa acusa o empresário de, sem autorização, ter retirado os ingressos de suas lojas para alterar preços e localizações por
causa da mudança do local do
concerto no Rio (era no Maracanã
e passou para o Autódromo).
Segundo a empresa, 20 mil ingressos não foram devolvidos.
"Talvez isso justifique a notícia
que os próprios seguranças estavam vendendo ingressos como
cambistas", diz Mauro Arruda,
advogado da C&A.
Bruni diz que devolveu tudo que
havia pego. A C&A contou, recontou e agora está verificando os canhotos um a um. Pela última contagem fechada pela C&A, no dia 6,
foram arrecadados R$ 7.090.025. E
6.000 ingressos não foram vendidos em São Paulo. No Rio, ninguém sabe qual foi o encalhe.
A FB Promoções, Produções e
Marketing -uma das duas empresas usadas por Bruni no evento
(a outra é o Instituto Franco Bruni)- diz que entregou ingressos
no valor de R$ 9,265 milhões. Bruni e a C&A discutem sobre a diferença entre os dois valores. Nas
duas contas não entra o R$ 1,1 milhão referente a venda de cadeiras
cativas do Morumbi.
Alheios a isso, os fornecedores
ainda esperam o pagamento por
seus serviços. O produtor do
show, César Castanho, estima que
a dívida chegue a R$ 200 mil. A
C&A lava as mãos. "Nós somos como a Petrobrás na camisa do Flamengo", afirma Luis Felipe Chiriak, diretor da empresa.
E ainda falta pagar o ISS (Imposto Sobre Serviço) aos municípios.
Mas as confusões começaram
antes e continuaram depois do
show do Rio, no dia 28 de janeiro.
A primeira irregularidade que merece atenção é a existência de pelo
menos dois contratos diferentes.
O que foi firmado com a banda
-com quatro sub-contratos-
não foi o que chegou ao Brasil
-que tinha apenas dois sub-contratos (relativos aos cachês para
banda e técnicos).
Não se sabe o destino das cláusulas que tratavam dos custos do
aluguel da estrutura do show e do
lucro da TNA e CPI (que negociam
os shows da banda).
Os dois contratos também diferiam pelo número de páginas -de
quase 50 para 17.
"Se existe algum outro contrato,
isso não está dentro das normas da
legislação", afirma o coronel Léo
Cinelli, coordenador do departamento de Migração.
É bem verdade que não há indícios de subfaturamento no contrato. O cachê de quase R$ 1 milhão
por show para os quatro membros
do U2 é o maior já pago no Brasil.
Oficialmente, pelo menos.
A Folha teve acesso aos documentos de remessa de dinheiro
para o exterior, com registro no
Banco Central e pagamento de Imposto de Renda na fonte. Fato,
aliás, que dificultou a vinda do
grupo. A TNA, que tem escritório
em Bahamas -ilha do Caribe conhecida como refúgio de turistas e
como paraíso fiscal-, não queria
que houvesse desconto na fonte.
Em poucas coisas Bruni, C&A e
MTV (co-promotora do evento)
concordam. Uma delas é que os
empresários da banda não queriam pagar imposto no Brasil.
"Você nunca vai encontrar alguém que pagou tanto sindicato
ou IR em um show só. Você sabe
que qualquer outro faria um contrato diferente", afirma Bruni.
No showbizz, nem tudo é como
parece ser. Parte da imprensa noticiou que a banda queria vir ao Brasil e estava disposta a ganhar menos para isso. Não foi bem assim.
O show estava sendo negociado
por US$ 5,9 milhões. Por causa da
disputa de empresários interessados em trazer o U2, o preço saltou
para US$ 8 milhões -mais de
33% de ágio. O total de gastos para
trazer o grupo deve chegar a R$ 10
milhões, segundo André Mantovani, diretor da MTV.
Com tanta confusão antes e depois da vinda da banda, não é de se
estranhar que o U2 tenha entrado
para a história carioca menos pelo
show realizado e mais por ter protagonizado o maior engarrafamento ocorrido no Rio. Fruto de
desorganização condizente com o
superlativo megashow.
Em São Paulo, enquanto as pessoas viam o U2, Castanho teria sido ameaçado de morte. Ele registrou um boletim de ocorrência,
mas se recusa a falar sobre o assunto.
(LUIZ ANTONIO RYFF)
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