São Paulo, sábado, 21 de março de 1998

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LIVROS LANÇAMENTOS
João Máximo passeia na Broadway carioca

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

"Se a Lapa carioca era nossa Montmartre, a Cinelândia era a nossa pequena Broadway", define o jornalista e escritor João Máximo, 62, ao comentar seu novo livro, "Cinelândia - Breve História de um Sonho".
Foi com a Broadway na mente que o imigrante espanhol Francisco Serrador (1872-1941), ex-vendedor de peixe, idealizou e construiu nos anos 20, na região central do Rio de Janeiro, sua "cidade de brinquedo", composta de cinemas, teatros, hotéis, bares e restaurantes.
Batizada inicialmente de bairro Serrador, a área logo seria chamada de Cinelândia, pois ali estavam os principais cinemas da cidade, verdadeiros palácios como o Capitólio, o Glória, o Palace-Theatre, o Pathé, o Império e o Odeon.
Todos eles foram erguidos nos anos 20 por Serrador, que já tinha um império do entretenimento (sobretudo do cinema) espalhado pelo país. Na década de 30 surgiriam ainda o Alhambra, o Rex, o Rio, o Plaza e o Metro.
Mas, como mostra João Máximo com verve e graça, a história da Cinelândia não se resume ao cinema.
O teatro, a música lírica e de concerto (no Teatro Municipal), os desfiles de escola de samba (de 1957 a 1962), os comícios e passeatas, as homenagens fúnebres a ídolos populares, as comemorações esportivas, toda a história cultural e política do Rio de Janeiro neste século passou por ali.
Até a bossa nova, tão identificada com a zona sul, começou a surgir na região da Cinelândia, na "boemia vespertina" do bar Vilarino, em que se conheceram Tom Jobim e Vinícius de Morais, e no Teatro Municipal onde estreou em 1956 "Orfeu da Conceição", primeira parceria da dupla.
Deterioração
A Cinelândia sobrevive até hoje, mas sofreu o processo de deterioração que vitimou todo o centro do Rio (e, aliás, todas as grandes cidades brasileiras).
"Desde os anos 60, o eixo cultural foi sendo transferido para a zona sul, onde surgiu um novo tipo de boemia, de boates, de bares com mesa na calçada", diz Máximo.
"Os grandes jornais saíram do centro, os cinemas da Cinelândia foram fechando."
Segundo o jornalista, os cinemas que resistem na região são o Odeon, o Palácio (dividido em duas salas) e o Rex, que funciona precariamente. O Metro Boa Vista vai se tornar sede da Orquestra Sinfônica Brasileira.
Edifícios tombados
Dos edifícios históricos do bairro, só o Palácio Monroe -demolido em 1975 por decisão do então general-presidente Ernesto Geisel -não existe mais.
Os outros todos -o Teatro Municipal, a Biblioteca Nacional (anteriores a Serrador), o Edifício Serrador (que vai se tornar centro de convenções), o prédio da Mesbla -continuam de pé, tombados pelo Patrimônio Histórico.
De acordo com João Máximo, existe um projeto da Prefeitura do Rio, em parceria com a Petros (Fundação Petrobrás de Seguridade Social), de recuperação da Cinelândia. O livro, patrocinado pela Petros e pela construtora Agenco, faz parte dessa iniciativa.
Além do texto de João Máximo, que reconstitui a história do bairro década por década, e de um rico material iconográfico de arquivo, "Cinelândia - Breve História de um Sonho" conta com um refinado ensaio fotográfico assinado por Carlos Secchin.
A edição é luxuosa, mas tem dois problemas: os números das páginas citadas nas legendas das fotos estão errados e falta um mapa que ajude o leitor não-carioca a situar melhor o bairro.
Com a ajuda do pesquisador Eduardo Coutinho, João Máximo ouviu dezenas de depoimentos de personagens que participaram da história da Cinelândia.
O grosso do material de pesquisa que utilizou -jornais, livros, revistas -faz parte de seu arquivo pessoal, formado ao longo de décadas de paixão pela cidade.

Livro: Cinelândia - Breve História de um Sonho Autor: João Máximo Fotos: Carlos Secchin e material de arquivo Lançamento: Salamandra Preço: R$ 85 (207 págs.)


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