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LIVROS LANÇAMENTOS
João Máximo passeia na Broadway carioca
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
"Se a Lapa carioca era nossa
Montmartre, a Cinelândia era a
nossa pequena Broadway", define
o jornalista e escritor João Máximo, 62, ao comentar seu novo livro, "Cinelândia - Breve História
de um Sonho".
Foi com a Broadway na mente
que o imigrante espanhol Francisco Serrador (1872-1941), ex-vendedor de peixe, idealizou e construiu nos anos 20, na região central do Rio de Janeiro, sua "cidade
de brinquedo", composta de cinemas, teatros, hotéis, bares e restaurantes.
Batizada inicialmente de bairro
Serrador, a área logo seria chamada de Cinelândia, pois ali estavam
os principais cinemas da cidade,
verdadeiros palácios como o Capitólio, o Glória, o Palace-Theatre, o
Pathé, o Império e o Odeon.
Todos eles foram erguidos nos
anos 20 por Serrador, que já tinha
um império do entretenimento
(sobretudo do cinema) espalhado
pelo país. Na década de 30 surgiriam ainda o Alhambra, o Rex, o
Rio, o Plaza e o Metro.
Mas, como mostra João Máximo
com verve e graça, a história da Cinelândia não se resume ao cinema.
O teatro, a música lírica e de
concerto (no Teatro Municipal),
os desfiles de escola de samba (de
1957 a 1962), os comícios e passeatas, as homenagens fúnebres a
ídolos populares, as comemorações esportivas, toda a história
cultural e política do Rio de Janeiro neste século passou por ali.
Até a bossa nova, tão identificada com a zona sul, começou a surgir na região da Cinelândia, na
"boemia vespertina" do bar Vilarino, em que se conheceram Tom
Jobim e Vinícius de Morais, e no
Teatro Municipal onde estreou em
1956 "Orfeu da Conceição", primeira parceria da dupla.
Deterioração
A Cinelândia sobrevive até hoje,
mas sofreu o processo de deterioração que vitimou todo o centro
do Rio (e, aliás, todas as grandes
cidades brasileiras).
"Desde os anos 60, o eixo cultural foi sendo transferido para a zona sul, onde surgiu um novo tipo
de boemia, de boates, de bares
com mesa na calçada", diz Máximo.
"Os grandes jornais saíram do
centro, os cinemas da Cinelândia
foram fechando."
Segundo o jornalista, os cinemas
que resistem na região são o
Odeon, o Palácio (dividido em
duas salas) e o Rex, que funciona
precariamente. O Metro Boa Vista
vai se tornar sede da Orquestra
Sinfônica Brasileira.
Edifícios tombados
Dos edifícios históricos do bairro, só o Palácio Monroe -demolido em 1975 por decisão do então
general-presidente Ernesto Geisel
-não existe mais.
Os outros todos -o Teatro Municipal, a Biblioteca Nacional (anteriores a Serrador), o Edifício
Serrador (que vai se tornar centro
de convenções), o prédio da Mesbla -continuam de pé, tombados
pelo Patrimônio Histórico.
De acordo com João Máximo,
existe um projeto da Prefeitura do
Rio, em parceria com a Petros
(Fundação Petrobrás de Seguridade Social), de recuperação da Cinelândia. O livro, patrocinado pela Petros e pela construtora Agenco, faz parte dessa iniciativa.
Além do texto de João Máximo,
que reconstitui a história do bairro
década por década, e de um rico
material iconográfico de arquivo,
"Cinelândia - Breve História de
um Sonho" conta com um refinado ensaio fotográfico assinado por
Carlos Secchin.
A edição é luxuosa, mas tem dois
problemas: os números das páginas citadas nas legendas das fotos
estão errados e falta um mapa que
ajude o leitor não-carioca a situar
melhor o bairro.
Com a ajuda do pesquisador
Eduardo Coutinho, João Máximo
ouviu dezenas de depoimentos de
personagens que participaram da
história da Cinelândia.
O grosso do material de pesquisa
que utilizou -jornais, livros, revistas -faz parte de seu arquivo
pessoal, formado ao longo de décadas de paixão pela cidade.
Livro: Cinelândia - Breve História de um
Sonho
Autor: João Máximo
Fotos: Carlos Secchin e material de arquivo
Lançamento: Salamandra
Preço: R$ 85 (207 págs.)
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