São Paulo, sábado, 21 de março de 1998

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Ufanismo marca os primeiros dias do evento

Marlene Bergamo/Folha Imagem
Os escritores Zélia Gattai e Jorge Amado saem do Ministério da Cultura da França, em Paris, após cerimônia que integra o 18º Salão do Livro


CASSIANO ELEK MACHADO
enviado especial a Paris

MARIANE COMPARATO
de Paris

Mar de rosas. Verdes e amarelas. O 18º Salão do Livro de Paris começou com muita festa dos escritores brazucas.
Cada autor nacional carregava no colete de seus paletós uma frase de exaltação de um sucesso do Brasil na terra de Balzac.
"Os franceses homenageiam a língua mais rica, bonita e profunda das Américas. O português de estilo brasileiro tem, citando Eça de Queirós, gosto de açúcar", disse Lygia Fagundes Telles à Folha.
A ex-presidente da Academia Brasileira de Letras, Nélida Piñon, também exaltava essa "língua açucarada". "A relação entre Brasil e França que vivemos aqui em Paris é uma costura histórica. Há muito tempo a Europa nos devia esse descobrimento ao contrário."
O presidente francês Jacques Chirac foi quem explodiu a rolha do ufanismo brasileiro, quando disse anteontem à Folha, na abertura do Salão, que o Brasil era uma "potência literária considerável".
Foi para Paulo Coelho que Chirac demonstrou com mais clareza a visão dessa potência. O autor de "Diário de um Mago", que já vendeu 4,8 milhões de exemplares na França, foi elogiado abertamente pelo presidente.
Ontem, no primeiro dia aberto ao público, ainda não era possível avaliar se todo o "oba-oba" destilado pelos escritores, autoridades e imprensa francesa se converteria em sucesso de público.
As primeiras atividades com autores brasileiros demoraram para atrair visitantes. As leituras abertas a debates, feitas pela manhã por Patrícia Melo e Carlos Nejar, reuniram de 10 a 20 pessoas.
A platéia da pequena sala Clarice Lispector, no 2º andar do Palais des Expositions, era composta na maioria por brasileiros ou por franceses com algum pé no Brasil.
Ainda assim, as leituras, sobretudo a feita por Patrícia Melo, aqueceram o público. A autora de "Acqua Toffana" escolheu justamente um trecho parisiense. Leu pedaço de seu livro "O Matador" em que Érica, namorada do protagonista, fica indignada com os ricos que preferem os cachorros aos humanos e ensinam seus "poodles" a defecar na rua.
O maior sucesso de público também foi baseado em uma mistura parisiense. Café e literatura. O café literário organizado pela livraria Fnac, teve todas as suas mesas ocupadas durante debate que reuniu Marilene Felinto, articulista da Folha, Fernando Gabeira, colunista da Folha, o escritor Zuenir Ventura e o ilustrador Claudius Ceccon. Foi nessa apresentação, assistida sobretudo por franceses, que o ufanismo foi guardado temporariamente no armário.
Ventura, por exemplo, citou o cantor Tim Maia, que dizia que o Brasil não dá certo porque a prostituta se apaixona, o cafetão sente ciúmes e o traficante se vicia.


O jornalista Cassiano Elek Machado viaja a convite da Fundação Biblioteca Nacional


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