São Paulo, sábado, 21 de março de 1998

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PARIS É UMA FESTA

Vai passar
Chico Buarque jogou "de bate-pronto" anteontem, na inauguração do Salão do Livro de Paris. Às 15h25, o músico dizia para um grupo de escritores que estavam no Ministério da Cultura da França: "Estou com pressa, tenho uma pelada". O compositor não contaria com os jogadores de seu time do Rio de Janeiro, o Polytheama. Mas teria, assim como em seus jogos no Rio, artistas dos dois lados do campo. Ruins de bola, segundo ele.
Mais respeito
Enquanto não conseguia sair para a "pelada", Chico Buarque "batia bola" com os colegas de letras. "Sou comendador francês, mais respeito", brincava diante de João Ubaldo Ribeiro, que tem uma comenda portuguesa.
Sorriso de lagarto
Ubaldo não ganhou medalhas no Ministério da Cultura (assistiu à premiação de longe), mas foi um dos mais festejados. "Você está vestido?", brincou com ele Jorge Amado. Ubaldo, que já posou para fotografias com o seu fardão da Academia Brasileira de Letras acompanhado de bermuda e chinelos, trajava um alinhado terno cinza escuro. "Não comprava sapatos havia 20 anos", respondeu, com sorriso de lagarto, o autor de "Viva o Povo Brasileiro".
Menino Maluquinho
Pelo visto, as roupas elegantes foram o tema do dia para os escritores. Quando viu o amigo subindo no ônibus que levaria os autores ao Ministério da Cultura, Gerardo Mello Mourão brincou: "Até o Ziraldo está de gravata". Não era borboleta, como a dele.
Dois perdidos numa noite suja
Ao ver o dramaturgo Plínio Marcos, Dias Gomes fez graça, perguntando se ele não era Plínio Marcos. "Sou. Disfarçado atrás de uma barba e de uma barriga", respondeu o autor de "Barrela".
Que viva México!
Piadinha maldosa que corria no salão, contada por escritores brasileiros para explicar a desviada que o presidente francês Jacques Chirac deu ao se aproximar do estande brasileiro -que só foi visitado mais tarde por ele: "Chirac estava procurando o estande do México".
O que é isso, companheiro?
O deputado Fernando Gabeira teve seu dia de estrela anteontem. Onde quer que fosse, havia uma equipe de TV filmando seus passos. Na saída do Ministério da Cultura da França, um grupo de crianças se aproximou e perguntou a Gabeira quem ele era. Ficaram alvoroçadas com a resposta do deputado: "Sou o primeiro-ministro suíço".
Das ilhas para o "mago"
Paulo Coelho também arrecadou muitos confetes no primeiro dia do 18º Salão do Livro. E de muito longe. Primeiro foi o presidente francês, Jacques Chirac. Enquanto ele e seu séquito numeroso se afastavam, Coelho foi abordado por uma senhora magra, de pele morena e fala baixa e mansa. Era Marie Jo Lo Thong, diretora de Cultura das ilhas Reunião, que ficam na costa leste africana, perto das ilhas Maurício. Lo Thong disse para o "mago", um de seus escritores prediletos, que seu país era pequeno, mas que, quando ele quisesse, seria bem acolhido por lá.
O "mago" nas ilhas
Coelho não comentou o convite de Lo Thong. Mas para muitos escritores brasileiros que não quiseram se identificar a idéia da ida do autor para as ilhas Reunião não seria tão ruim. Coelho foi o único autor que veio a Paris a convite de sua editora francesa, que organiza um jantar com o "mago" e seus convidados na pirâmide de vidro em frente ao museu do Louvre. "Desnecessário", comentava um grupo de escritores no anonimato.
Autores anônimos
Anônimos mesmo eram dois homens e uma mulher que, com máscaras pretas nos olhos, entraram no estande brasileiro carregando uma estátua de uma mulher nua. Eles pediam que Jorge Amado autografasse o objeto. O escritor baiano fez cara de que não entendia, mas assinou na base da escultura. O trio representava uma associação de autores sem editoras, os autores anônimos. Sem se identificar, disseram que a estátua era uma homenagem ao Brasil, pois reproduzia as curvas da mulher tupiniquim.



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