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Pia Fraus cria mundo em "Éonoé"
ERIKA SALLUM
enviada especial a Curitiba
Cosmogonia: narrativa que trata
da origem e evolução do universo.
Com muita terra, ferro e acrobacias, a companhia Pia Fraus Teatro mostra hoje e amanhã no Festival de Curitiba sua visão do princípio do mundo.
E, para o grupo paulistano, tudo
começa com "Éonoé, uma Cosmogonia", nome do espetáculo
derivado do texto homônimo de
José Rubens Siqueira, autor, diretor, tradutor e homem de teatro
com mais de 30 anos de carreira.
A peça -que marca a estréia do
Pia Fraus em montagens de rua
para adultos- será exibida nesta
noite, às 21h30, na Rua - Boca
Maldita, e amanhã, às 20h, no
mesmo local.
"Éonoé, uma Cosmogonia" nasceu da vontade da companhia de
criar um espetáculo ao ar livre, para todas as idades, que prosseguisse com sua linha de trabalho: a
mistura de linguagens.
Com esse desejo na cabeça, o
grupo, formado em 1984 por Beto
Andretta e Beto Lima e, logo depois, por Domingos Montagner,
procurou Siqueira, a quem encomendou o texto.
Na época, o tema ainda não se
encontrava totalmente definido.
"Estávamos envolvidos com uma
peça para crianças, que gostam
muito de bichos. Em nossas conversas com Siqueira, apareceu o
tema da Arca de Noé", contou à
Folha Montagner.
"Ele demorou um ano para produzir o texto e, quando nos entregou, era uma coisa alucinada,
muito diferente do que tínhamos
combinado", acrescenta Andretta.
O resultado final, "Éonoé", pode
ser definido como a visão pessoal
de Siqueira sobre o início do universo, algo que mistura cosmogonias de várias culturas. No meio
disso, aparece a saga de Noé, sua e
embarcação e seus animais.
Para colocar essa idéia no palco,
o Pia Fraus contou com a ajuda do
diretor Francisco Medeiros (de "A
Gaivota", "Sherazade" etc.): "Nosso maior desafio foi descobrir de
que forma esse poema pode se integrar à peça. Não é um diálogo,
mas sim uma obra narrativa, como um índio contando uma lenda
a seu povo".
Sem dispor de uma historinha linear, com começo, meio e fim definidos, o Pia Fraus trouxe para a
cena duas toneladas de terra, duas
traves de trapézio de 5,5 metros de
altura, uma rede e objetos de ferro, barro e palha. Até um latão,
que estava enterrado no jardim da
casa de Montagner, está lá.
Desta vez o Pia Fraus não trabalhará com bonecos, consagrados
em montagens anteriores, como
"Flor de Obsessão", também dirigida por Medeiros e que chegou a
se apresentar no festival de Edimburgo.
Foi nesse evento, aliás, que o
grupo se deparou com a denominação que mais se aproxima de
suas características: teatro físico-visual. "Não é um rótulo, mas
uma maneira de as pessoas nos reconhecerem", disse Andretta.
A encenação
A terra não aparece neste novo
projeto do Pia Fraus por acaso. Há
cerca de dois anos, a companhia,
"urbanóide de formação", começou a se incomodar com o caos da
cidade grande.
Montagner deu o pontapé inicial
e se mudou para um bairro afastado do centro e cercado de mato.
Os outros atores aderiram à idéia.
"No início, imaginávamos que
"Éonoé' seria construído com
pneus, barulho etc. Essa mudança
de ares nos inspirou muito, e trouxemos a natureza para o centro de
nossa criação", afirmou Andretta.
Com 14 anos de estrada, o Pia
Fraus (que, em latim, quer dizer
"mentira contada com boas intenções") ainda presenteia o público
com uma trilha sonora que une o
tecno do Prodigy e Chemical Brothers a Raul Seixas.
Depois de Curitiba, o grupo segue para o Festival de Teatro de
Bogotá.
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