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CRÍTICA
"Arlecchino" esvazia a Ópera de Arame
NELSON DE SÁ
enviado especial a Curitiba
No intervalo das quase três horas
de "Arlecchino, Servidor de Dois
Patrões", mais da metade do público da Ópera de Arame foi embora. No final, perto de 1h da manhã de ontem, a platéia estava reduzida a um quinto.
Não começou bem o Festival de
Curitiba. As razões foram diversas, nem todas ligadas à qualidade
do espetáculo, propriamente.
A Ópera de Arame, teatro belíssimo que é símbolo da atenção da
cidade com a cultura, nunca resolveu seus problemas de acústica.
Nas laterais, não se entende o que
é falado -o que piorou com um
ou dois atores de má dicção.
E a boca de cena é imensa, uma
armadilha para alguns grupos que
passam por lá, como o Galpão, no
ano passado. O palco exige grandes elencos, encenações espetaculares, como a que Antônio Abujamra fez, também em 97.
Neste ano, a Cia. Teatro di Stravaganza caiu na armadilha com
uma montagem quase sem cenário, de atenção fechada nos atores.
O que não é nenhum defeito, mas
conflita com as exigências ou deficiências da Ópera de Arame.
Mas a produção também é carregada de deficiências. A mais flagrante é o despreparo, talvez da
direção de atores, mas certamente
de algumas interpretações.
A comédia clássica de Carlo Goldoni (1707-98), derivada da commedia dell'arte que o elenco estudou e quer como que homenagear, exige um humor, embora
popular, ao menos mais adulto
-se não inteligente, esperto.
O grupo gaúcho, que dedicou
boa parte de seu trabalho anterior
a peças infantis, carrega vícios como o de todos falarem ao mesmo
tempo, em irritante balbúrdia, e
sobretudo o tom de voz falseado,
paternal no pior sentido, a tratar o
público como criança.
Não bastasse, a peça mantém
parte do texto em italiano, resultando num muitas vezes tedioso
sotaque do Brás, num arremedo
de Adoniran Barbosa.
Por fim, o protagonista e elo das
tramas românticas armadas por
Goldoni, o ator/diretor Luiz Henrique Palese, o Arlecchino, não é
um comediante inspirado. Tem
uma ou outra boa passagem, mas
humor não é seu forte.
Não tem o gosto do risco, do patético, que faz o comediante. Que
faz Tiago Real, no papel do atacado Silvio, dominar o público com
seus poucos e hilariantes gestos
marcados.
Sinais da melhor comédia também estão presentes em Liane
Venturella, Beatrice, e Evandro
Soldatelli, Florindo.
Sinopse: a jovem Beatrice chega
à cidade travestida, à procura de
seu amado Florindo. Acaba tendo
casamento marcado com Clarice,
que por sua vez ama Silvio. Arlecchino é criado de Beatrice, depois
se torna também criado de Florindo e arma uma confusão, até o final de casamento triplo.
Resultado de evidente e louvável
pesquisa e não poucos ensaios,
"Arlecchino" tem bonitos figurinos "de época" e uma concentração na interpretação "clownesca",
sobretudo física.
O menor cuidado em contar a
história ajuda a explicar a falta de
ritmo que arrastou a apresentação.
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